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Transe e investigação

Saiba como funcionava a hipnose e conheça alguns casos solucionados:

Funcionamento

Encaminhamento

A delegacia encaminhava vítimas e testemunhas para o Instituto de Criminalística. Quem apresentasse amnésia total ou parcial poderia ser submetido à hipnose.

As regras

Só testemunhas e vítimas com amnésia total ou parcial eram submetidas ao método, se consentissem. Suspeitos, réus e indiciados ficavam de fora.

A sessão

Na maioria dos casos, vítimas e testemunhas eram submetidas a uma sessão, que durava de 2 a 3 horas. A pessoa entrava em transe e revia a cena do crime. A pessoa dava informações que ajudavam na investigação ou na produção do retrato-falado.

Solucionados

Sem identidade

Um jovem de 22 anos não sabia nada sobre sua identidade. Fã de Michael Jackson, foi apelidado de Michael. Submetido à hipnose, citou o nome de duas cidades: Esplanada (BA) e Estância (SE). Policiais receberam a informação sobre um menino de 8 anos que tinha sido sequestrado em uma dessas cidades. Ele foi submetido a exames de DNA e descobriu-se que os pais dele moravam em uma dessas cidades.

De vítima a suspeita

Um bebê de 40 dias havia sido encontrado morto na região metropolitana de Curitiba e a mãe aceitou se submeter à hipnose. Durante a sessão, ela não demonstrou comoção. Depois de ser novamente interrogada, a polícia chegou à conclusão de que ela havia matado a própria filha.

Novo rumo

Depois de um atropelamento que causou duas mortes, há 10 anos, em Ponta Grossa, a polícia começou a procurar um veículo Ômega bordô. As testemunhas, dois adolescentes, diziam que o atropelamento tinha sido provocado pelo motorista que dirigia um veículo com essas características. Na sessão de hipnose, os jovens disseram que se tratava de um Ômega azul. A polícia encontrou o veículo abandonado em um barracão e localizou o atropelador.

Depois de três anos desativado, o Laboratório de Hipnose Forense do Paraná pode voltar a funcionar. A proposta é do novo diretor do Instituto de Criminalística (IC), Antonio Edison Vaz de Siqueira. Ele apresenta o projeto nesta semana ao secretário de Segurança Pública, Reinaldo de Almeida César. Siqueira já foi diretor do IC, entre 1995 e 1999, quando criou o laboratório. Agora ele pretende retomar o serviço que ajudou a polícia científica, na época, na resolução de diversos crimes.

Veja a entrevista com Rui Sampaio, que explica como o laboratório de hipnose funcionava

A iniciativa do Paraná é pioneira na América Latina. A hipnose é um instrumento médico psicológico normalmente usado para ajudar testemunhas e vítimas que ficaram com amnésia parcial ou total. Uma pessoa, por exemplo, pode ser submetida à hipnose para ajudar a montar o retrato falado do criminoso. Entre 1999 e 2008, o laboratório fez cerca de 700 sessões e em praticamente todas conseguiu alguma pista que ajudasse na investigação. Além do retrato falado, os hipnotizados podem auxiliar com detalhes para re­­constituir o crime.

O laboratório foi desativado há três anos, quando o único perito criminal com qualificação e responsável pelo setor, Rui Sampaio, se aposentou. A ideia é que Sampaio, que também tem formação em Medicina e Psicologia, volte e ajude a reativar o laboratório, treinando outros peritos.

Segundo Sampaio, o custo de reativação seria mínimo para o estado. O local onde o laboratório funcionava ainda existe. Seria preciso apenas investir em informatização e criar um cargo comissionado para Sampaio assumir o compromisso. ?Acho que todo recurso que venha a somar para a identificação de um crime é válido?, diz. O IC confirma a necessidade de uma reforma no espaço para voltar a funcionar.

Crimes

A maioria dos casos solucionados com ajuda da hipnose envolvia crimes sexuais. ?É um crime no qual não existe testemunho. É uma situação traumatizante e a vítima inconscientemente tenta apagar essa lembrança?, afirma Sampaio. ?Em uma situação como essa você não tem nenhum elemento para investigação.?

Desfazer esse trauma era o objetivo de Sampaio. Durante o transe, a pessoa era convidada a regressar à lembrança de fatos passados e, quanto mais profundo o estímulo, mais os detalhes vinham à tona. Só eram submetidas ao procedimento testemunhas e vítimas de crimes com amnésia total ou parcial, desde que consentissem. Os suspeitos, réus e indiciados ficavam de fora porque, pela legislação, ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Nos casos mais graves, as pessoas eram medicadas antes das sessões.

A hipnose é um estado intermediário entre estar acordado e em sono profundo. Durante o transe, a pessoa continua consciente e pode, sim, segundo Sampaio, mentir.

Iniciativa

Em São Paulo, o Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa se inspirou no exemplo do Paraná para criar um laboratório de hipnose na Polícia Civil. Um projeto vem sendo elaborado desde o ano passado para colocar o laboratório em funcionamento, ainda sem sucesso. A ideia é fazer uma parceria com os médicos do Instituto de Psiquiatria do Hospital de Clínicas de São Paulo. O secretário que tinha a intenção de criar o setor de hipnose forense, porém, saiu do cargo e o novo ainda não se manifestou sobre o assunto.

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