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De 1980 a 2004 o número de homícidios no Paraná cresceu seis vezes mais do que a população. Os moradores do estado saltaram de 7,6 milhões para 10,2 milhões, enquanto os homicídios pularam de 928 por ano para 2.804, de acordo com levantamento do Data SUS, do Ministério da Saúde. A evolução do indicador fica próxima da média registrada no Brasil. Em todo o país, o número de assassinatos cresceu 216% no período, e o da população, 53%.

Além do crescimento, as principais cidades do estado apresentam um índice de homícidios muito maior do que a média considerada aceitável por organismos internacionais. A ONU (Organização das Nações Unidas), por exemplo, diz que é razoável 25 homicídios dolosos (com intenção de matar) para cada grupo de 100 mil habitantes, explica Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, professor de Ciências Criminais da PUC do Rio Grande do Sul. Em Foz do Iguaçu, o índice é mais de três vezes maior que isso: são 84,9 assassinatos por 100 mil moradores. Em Curitiba, são 39,19; em Londrina, 35,84. A média de todo o estado, no entanto, fica dentro dos padrões internacionais: 21,6 por 100 mil.

O assunto, que por si só já é de evidente relevância, ganhou ainda mais destaque por conta da atual campanha eleitoral. Principalmente depois que o Ministério da Justiça divulgou levantamento sobre a segurança em vários estados. Pelos dados apurados, Curitiba seria a capital mais violenta do país e o Paraná seria o terceiro neste ranking. A metodologia estava equivocada, e o ministério teve de rever a posição, tirando o estado da posição incômoda. Já no primeiro ranking, a Gazeta do Povo apontava inconsistências no levantamento do ministério.

Deixar as primeiras posições, no entanto, não significa um "céu de brigadeiro" no setor. Segundo especialistas ouvidos pelo jornal, a situação da segurança pública é grave e requer medidas contundentes.

Tanto o candidato à reeleição, Roberto Requião (PMDB), quanto seu opositor, Osmar Dias (PDT), utilizaram-se dos dados em suas campanhas. Um para mostrar o "equívoco", outro para mostrar a situação "caótica".

A disputa política e o levantamento da Justiça expuseram a fragilidade das estatísticas para a área de segurança pública. O governo do estado diz que faz um levantamento criterioso e completo dos crimes (o chamado Geoprocessamento), mas não mostra os resultados para a sociedade. Já o ministério foi obrigado a reconhecer em público um levantamento oficial errado.

Confiável

De acordo com o sociólogo Pedro Bodê, coordenador do Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos da UFPR (Universidade Federal do Paraná), os números mais confiáveis sobre homicídios no país são os do Data SUS, oriundos do Ministério da Saúde, que usa como base os atestados de óbitos expedidos nos estados. "Os dados do Data SUS são mais consolidados e a metodologia é mais consistente. Eles não são submetidos a pressão política", diz ele. "O problema é que essa discussão no processo eleitoral acaba distorcendo os fatos", afirma Bodê.

O pesquisador Guaracy Mingardi, do Ilanud (Instituto Latino-Americano para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente), de São Paulo, por sua vez, aconselha a sempre olhar com um pé atrás as estatísticas sobre segurança pública. "Há estados que por motivos políticos manipulam os dados", diz ele, sem citar exemplos. "No caso dos homicídios é mais difícil a manipulação, por causa do Data SUS, mas no roubo e furto é muito difícil de se confiar. Os números mais confiáveis são de homicídios e furtos e roubos de veículos, porque a margem de erro é pequena. Nos demais crimes, como roubo e furto, a confiabilidade de dados é menor por causa da possibilidade de manipulação e da subnotificação."

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