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Protestos tomaram o Centro Cívico, ontem, onde funcionários do estado “enterraram” o SAS | Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
Protestos tomaram o Centro Cívico, ontem, onde funcionários do estado “enterraram” o SAS| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

Reclamações

Atraso no atendimento começa já no agendamento de exames

As dificuldades dos servidores estaduais que dependem do Sistema de Atendimento de Saúde (SAS) para serem atendidos em Curitiba começam ainda com o agendamento de exames e consultas. Ontem, a professora aposentada Leoni Garcia Schafhauzer, 67 anos, passou praticamente a manhã toda ocupada com o sistema. Ela chegou cedo à unidade para pegar senha e aguardar para marcar uma consulta com um gastroenterologista. Os agendamentos começariam ao meio-dia. Já a consulta ficaria para outro dia. "Se a pessoa ainda está na ativa, perde o dia de trabalho só para fazer esse agendamento", reclama.

Foi o caso do autônomo Vanderlei Antunes de Camargo, 40 anos, de Piraquara. Ele assumiu a "peregrinação" em busca de atendimento para a esposa e o filho. Na lista dos exames que os familiares necessitam estão os de sangue – já sem cobertura pelo SAS – e um raio-x do tórax, que só é feito no bairro Água Verde. A máquina para raio-x do HPM estaria quebrada. "O exame de sangue vamos ter que pagar. Hoje, o SAS está pior que o SUS. Pagamos por algo a que não temos acesso", lamenta.

A pedagoga Helena do Carmo Gonçalves, 68 anos, também avalia que o serviço já foi mais bem estruturado. À espera de uma cirurgia para uma complicação de varizes nas pernas, a situação dela mostra que a "caminhada" dos usuários do SAS segue em ritmo lento mesmo após as consultas. "Estou tentando marcar a cirurgia há um ano, é um verdadeiro calvário." (ACL)

Paralisações

Professores e servidores das escolas estaduais do Paraná paralisaram as atividades ontem e organizaram atos em Curitiba e no interior do estado. Algumas escolas estaduais não tiveram aulas nos três turnos. Em outras instituições, os professores decidiram seguir com o cronograma normal. A expectativa do Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Paraná é de que 90% dos 88 mil professores do estado tenham suspendido as atividades, que retornam normalmente hoje.

Após uma série de manifestações de servidores públicos estaduais por causa do atendimento precário realizado pelo Hospital da Polícia Militar (HPM) aos usuários do Sistema de Atendimento à Saúde (SAS), o governo do estado prometeu que o serviço não será mais realizado pela instituição, e deverá ser repassado ao Hospital Evangélico (HE) até a primeira quinzena de maio. Em entrevista à Gazeta do Povo, o diretor de Seguridade Funcional do SAS, Wagno Rigues, afirmou que o contrato com o HPM, que vence no próximo dia 30 e que poderia ser prorrogado por mais 180 dias, não será renovado.

De acordo com Rigues, tanto o atendimento ambulatorial como cirurgias, internações e pronto atendimento dos 144 mil beneficiados de Curitiba, região e litoral serão realizados no HE. A partir da segunda quinzena de maio, o atendimento ambulatorial deve ser transferido para o prédio do antigo Instituto de Previdência do Estado do Paraná (IPE), onde hoje fica a Paraná Previdência, no bairro São Francisco. Já os demais atendimentos continuarão no HE. No interior, são 15 os hospitais credenciados para atender pelo SAS.

"Todo o sistema vai passar por uma reformulação, pois há muitas deficiências. A estrutura do HPM é muito pequena para atender todo mundo" admite Rigues.

No total, são 447 mil pessoas sob a cobertura do SAS em todo o estado. Mas, por causa das falhas, Rigues afirma que apenas 7,2% dos usuários de fato usam o serviço. "Muitas pessoas buscaram alternativas, como um plano de saúde."

Sobre o fato de o repasse de recursos ser feito com base no número de usuários, e não por procedimentos, Rigues afirma que o sistema também será revisto. Hoje, com um repasse de R$ 11,6 milhões mensais, o investimento do SAS é de R$ 25,95 para cada usuário, considerado ínfimo pelos servidores.

O governo promete que o hospital trabalhará com metas. Se o número de atendimentos for menor do que o estipulado, haverá desconto. Entretanto, não está previsto um aumento de recursos, o que gera apreensão entre os servidores.

Governo revê postura

A admissão, por parte do governo, de que a estrutura do HPM está aquém da necessária, chega dois anos depois de o estado ter dito que a escolha do hospital se dava por motivo de ociosidade. Em 2011, quando o HPM foi escolhido para ser o hospital dos servidores, alguns setores da PM afirmaram que a medida geraria caos no atendimento. De acordo com Rigues, pode ter havido um erro de percepção por parte do governo. "Mas era a melhor solução para o momento", diz. Atualmente, há 30 mil usuários ligados à PM. Os civis são 144 mil.

Servidores não aceitam modelo de repasse atual

Os servidores públicos estaduais contemplados pelo Sistema de Atendimento à Saúde (SAS) querem um novo modelo de repasse de verbas. Atualmente, o repasse é feito levando-se em conta o número de pessoas que possuem a cobertura, chamado de repasse "por vidas".

A crítica do servidores é de que, como recebem muito pouco por paciente, os hospitais tentam frear os atendimentos, dificultando a marcação de consultas, cirurgias eletivas e exames. Ontem, segundo pacientes ouvidos pela reportagem em frente do HPM, o telefone para marcar consultas e exames estava com a linha ocupada ou fora do ar.

"Defendemos que o repasse deixe de ser por vidas e passe a ser por procedimento. Hoje, o hospital tenta atender o menor número possível para não ter prejuízo", afirma a presidente da Associação dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sin­­dicato), Marlei Fernandes. "O dinheiro até chega, é repassado mensalmente, mas ele é insuficiente".

Apesar de haver mudança de atendimento em Curitiba, o modelo de repasse não deverá mudar, ao menos por enquanto. "Vamos trabalhar com o mesmo repasse de hoje, mas vamos estabelecer metas e melhorar a estrutura de atendimento para otimizar o atendimento", afirma Wagno Rigues, gestor do SAS.

A mudança pode vir a ocorrer caso seja apovado um projeto para transformar o SAS em um plano de saúde, com contrapartida financeira dos servidores, algo que é defendido pela APP.

Colaborou Antoniele de Cassia Luciano

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