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É comum imaginar que crianças em idade escolar e que precisam passar longos períodos internadas em um hospital irão ficar também um bom tempo longe dos estudos. Isso seria verdadeiro se a escola não estivesse chegando a esses pequeninos por meio de aulas que são dadas nos próprios leitos de quatro hospitais em Curitiba. No Pequeno Príncipe, Erasto Gaertner, Evangélico e Hospital de Clínicas, os alunos-pacientes recebem atividades compatíveis com o conteúdo que está sendo trabalhado no seu nível na escola regular. Para os que vão passar por longas internações, uma parceria é feita com a escola do paciente a fim de evitar que ele perca o ano letivo. A partir deste contato é possível que a criança receba um acompanhamento escolar e desenvolva trabalhos, atividades e até avaliações de dentro do hospital.

O acompanhamento escolar no ambiente hospitalar é possível graças a um convênio feito entre estas instituições e a Secretaria Municipal de Educação, responsável pela contratação dos professores nos hospitais. "O trabalho tem valor legal e é como se a criança estivesse na escola", explica o coordenador do setor de Educação e Cultura do Hospital Pequeno Príncipe, Cláudio Teixeira. Atualmente 13 docentes da rede municipal de ensino têm a missão de levar educação para os pequenos internos. Entre eles está a professora Neuseli do Rocio Lipinski, 44 anos, que todos os dias, antes de iniciar as aulas entre os pacientes do hospital infantil Pequeno Príncipe, enche seu carrinho de supermercado – chamado carinhosamente de "escolinha ambulante" pelo pessoal do hospital – com cadernos, livros, apostilas, lápis de cor e muitos jogos educativos. Quando Neuseli passa pelo corredor da ala de Nefrologia, onde atua diariamente, algumas crianças já se aproximam ansiosas para pegar as atividades. "Geralmente elas gostam muito e mostram que, mesmo na enfermidade e na dor, têm potencial para aprender", diz a professora.

O hospital infantil é o que possui a melhor estrutura de ensino entre as quatro instituições que oferecem o acompanhamento escolar e também é o que mantém este tipo de serviço há mais tempo (desde 1988). São sete professores contratados pelo município, mais dois educadores pelo hospital e cerca de 50 estagiários atuando no setor de Educação e Cultura, que oferece também outras atividades, como artes plásticas, biblioteca e informática. A rotina dentro da "escola-hospital" é bem diferente da tradicional. Entre uma medicação e outra, exames e cirurgias, as crianças recebem as atividades, que dificilmente ultrapassa o período de uma hora. Quando possível, as aulas ocorrem em pequenos grupos, em áreas especialmente montadas para este fim. "Temos de adaptar o trabalho à rotina do paciente e verificar como será a aceitação da criança", diz Teixeira. Em média 1.067 crianças são atendidas por mês pelo setor de Educação e Cultura. Só no primeiro semestre de 2005, 957 pacientes que permaneceram mais de 15 dias internados no hospital puderam receber acompanhamento escolar e evitar o atraso na escola.

O aluno-paciente Tiago Antonio Grassi, 13 anos, possui mielomeningocele (doença em que a criança nasce com a espinha dorsal exposta) e hidroencefalia (patologia em que há ocorrência de excesso de água na cabeça) e há dois anos é atendido no Pequeno Príncipe. Matriculado na terceira série de uma escola de reabilitação, Tiago passou por duas internações neste ano, após ter sofrido um acidente no transporte escolar, em que fraturou uma das vértebras. Na primeira internação, Tiago passou quatro meses no hospital, e agora permaneceu 13 dias. "No começo eu achei estranho ter aula na cama do hospital, mas depois me acostumei." A mãe de Tiago, a professora de educação física Sílvia Helena Diogo, 47 anos, lembra que o menino poderia ter perdido o ano letivo caso não tivesse as aulas durante as internações. "E ele já está bem atrasado", conta. O atraso escolar do menino, segundo a mãe, é devido a problemas que teve na aceitação de matrículas em escolas regulares, pelo fato de Tiago ter de usar fralda. "Foi sempre uma luta conseguir que ele estudasse", afirma. Até o final deste ano, o menino deve passar por outra internação, quando será submetido a uma cirurgia.

Outros programas

O acompanhamento escolar ocorre de maneira semelhante nos outros três hospitais que oferecem este tipo de serviço em Curitiba. No Hospital de Clínicas, o acompanhamento escolar foi ampliado em agosto deste ano. Antes apenas uma professora atendia na unidade de Pediatria e agora mais três docentes passaram a atuar em outras quatro unidades do hospital também relacionadas a esta especialidade. Por dia são cerca de 20 atendimentos realizados. No Hospital Erasto Gaertner, o acompanhamento escolar existe há 13 anos e uma professora atende cerca de 12 pacientes por dia. No Evangélico, uma professora acompanha os pacientes que permanece internados no setor de queimados.

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