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Na noite de 13 para 14 de setembro, o motoboy Jorge Júnior Votecoski morreu em um acidente de carro em Almirante Tamandaré, na região metropolitana de Curitiba, cidade onde morava. O enterro, que deveria ter acontecido às 10 horas do dia 15, atrasou mais de uma hora. Segundo os familiares, o horário não foi cumprido porque faltava um documento de liberação para o enterro, o Faf (guia de sepultamento), emitido pela funerária, junto ao serviço funerário municipal.

Depois de muita confusão e chegada da polícia, uma das funerárias que atendia a família, a Bom Jesus, de Curitiba, chegou com o documento. Uma das razões para a confusão foi o fato de o rapaz ter sido velado em Almirante Tamandaré, mas o óbito registrado na capital, o que faz, obrigatoriamente, que ele entre no sistema randômico (aleatório) da prefeitura de Curitiba.

Porém, como a família tinha plano funerário da empresa de Almirante Tamandaré, ambas acabaram realizando o atendimento. A responsabilidade pela documentação ficou com a empresa da capital, que não levou a Faf na hora do enterro. "O atraso já começou na liberação do corpo. Era para ser entregue às 16 horas para o velório e só entregaram às 19h30. O velório transcorreu bem, mas, chegando ao cemitério, veio a surpresa. A funerária abriu o carro e o coveiro nos barrou", conta a sogra de Votecoski, Rosemari Bernardete Gabardo Leche­na­coske. A legislação impede que o enterro seja feito sem o documento.

A Funerária Almirante Tamandaré, que fez parte do atendimento, cogitou retornar com o corpo para o velório. "Ficamos desesperados, a gente só queria que ele tivesse um sepultamento adequado. Depois de um tempo, a polícia chegou e veio o rapaz da funerária de Curitiba com o papel. Conse­guimos entrar no cemitério às 11h30", conta Rosemari. O pai Jorge Votecoski afirma que a família passou por uma "grande humilhação". "Teve gente que passou mal, ficamos ali sem saber o que fazer. Foi um constrangimento horrível".

DPVAT

A viúva Regiane Lechenacoske conta que foi orientada por uma advogada da família a não assinar nenhum documento com a funerária, já que algumas empresas, afirma ela, utilizam o DPVAT (seguro de acidente) para cobrir os custos, o que é ilegal. A viúva desconfia que as duas funerárias podem ter brigado pelo atendimento, justamente para conseguir o dinheiro. Quem tem direito sobre o valor de R$ 13,5 mil do seguro é somente a família. "Para eles é um prêmio pelos gastos, para ver quem ganha mais tirando o corpo do IML e preparando", diz a viúva. Funcionários de planos funerários entrevistados pela reportagem, que não quiseram se identificar, afirmam que a prática ainda acontece em Curitiba. "A pessoa da funerária chega, aborda a família e pede para assinar um papel autorizando o serviço. Com isso, eles conseguem retirar o seguro para cobrir os custos. Na hora que a família chega, o dinheiro quase não sobra", diz uma funcionária, que trabalha há 16 anos na área.

Outra prática, contam, é tentar cobrar valores maiores, oferecendo caixões de maior qualidade ou abusando de valores quando é necessário fazer tanatopraxia (preparação do corpo), valor que não é tabelado pelo serviço funerário. "Por isso tem gente que gasta a mais e não sabe. Na hora está abalado e acaba entrando na onda", afirma.

De acordo com diretor de Serviços Especiais da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA), Augusto Canto Neto, a família Votecoski pode fazer uma denúncia no serviço funerário municipal e abrir um processo administrativo contra a funerária para saber por que ela não levou a documentação no horário. "Outra opção é ir até a Justiça comum e processar as funerárias por constrangimento."

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