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O homem, de 71 anos, que esperou 25 horas pelo atendimento do Samu na semana passada não resistiu e morreu neste fim de semana, após ser liberado do posto de saúde do bairro Divinéia, em Paranaguá, no litoral do estado.

Na última quinta-feira (23) ele passou mal e sua família chamou o Samu para socorrê-lo. De acordo com a filha de Eduardo, Elizabete Moreira de Assis, o Samu foi chamado no começo da tarde de quinta-feira (23), mas a ambulância só apareceu na residência do pai 25 horas depois da primeira solicitação - já na sexta-feira (24).

De acordo com os familiares do aposentado Eduardo Moreira de Assis, ele chegou a ter convulsões e depois ficou praticamente imóvel no período em que a família tentou contato com o serviço de emergência.

Elizabete lamenta o fato de não o terem levado para atendimento no Hospital Regional. "O pessoal do posto tentou de tudo para encaminhar o meu pai para o Regional, mas eles não quiseram aceitá-lo, disseram que não tinham condições. Como o hospital não o queria, o pessoal do posto o mandou para casa ruim do jeito que ele estava", afirma.

De acordo com Elizabete, cerca de trinta minutos após chegar em casa, o idoso morreu. "A gente queria levar ele para internar, não trazer ele para casa. A gente queria salvar a vida dele. O que aconteceu com o meu pai eu não quero que aconteça com ninguém, isso tudo é muito triste. Eu gostaria que o Hospital Regional lutasse realmente para salvar vidas. Eu desejo que eles tenham amor no coração e consciência para isso. Em Paranaguá pobre que fica doente morre, quem tem condições vive", diz.

O médico plantonista do Samu Litoral, Nolan Palma, disse à reportagem da Gazeta do Povo, na sexta-feira (24), que a ambulância foi enviada depois de ter um veículo disponível.

"Hoje (na sexta) os familiares entraram em contato às 12h50 e às 13h20 a ambulância chegou para atender esse senhor. Na verdade o caso dele não tinha o perfil para chamar o Samu, que deve ser chamado quando há parada cardíaca, AVC, crise convulsiva, mas esse senhor é um paciente que tem feridas, são úlceras de pressão, ou seja, é um paciente que precisa de cuidados paliativos da família, como mudá-lo de posição a cada 2 em 2 horas, mas mesmo assim a família insistiu e ele foi atendido e encaminhado para o posto do Divinéia", afirmou Palma na ocasião.

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que "neste caso tanto o médico como a equipe de enfermagem realizaram o procedimento padrão em relação a pacientes com convulsão. Após a estabilização houve a liberação do paciente e a família achou melhor levá-lo para casa, onde infelizmente houve o óbito", afirma o texto.

Modelo de gestão atrapalhou serviço médico

A coordenadora técnica do Samu Litoral, Valéria Regina Fernandes de Oliveira afirma que a Central de regulação de leitos para urgência e emergência do litoral é toda feita pelo Samu. "Cada município do litoral tem a sua base, como suas viaturas. Todos os chamados dos outros municípios do litoral caem aqui em Paranaguá. Somos nós que regulamos, o trabalho do Samu é de urgência, emergência e trauma", diz.

No litoral, diferente de outras regiões do estado, quando uma pessoa liga e pede uma ambulância, o Samu negocia a vaga com o hospital. O que significa dizer que um médico de um posto de saúde, por exemplo, gasta vários minutos com o médico do Samu, que consequentemente, gasta mais tempo no telefone negociando uma vaga no Hospital Regional de Paranaguá.

Para Valéria, o sistema de regulação no litoral é burocrático. "É uma regulação burra, na verdade não precisaria de intermediário. Nas cidades de outras regiões do estado, é o médico do posto que negocia a vaga de um leito direto com o médico do hospital. Aqui no litoral, a estrutura do município, e do Hospital Regional que estabeleceu assim. Ele que absorve toda essa demanda", explica.

A reportagem entrou em contato com Secretaria Estadual de Saúde que informou por meio de assessoria de imprensa que a regulação no litoral tem um acordo de urgência que é feita pelo Samu Litoral. A Secretaria ainda informou que em todo o estado há nove Samus e que eles têm central de regulação e são capacitados para fazer esse serviço.

Sem estrutura

O Samu Litoral foi inaugurado há um ano e meio. Ainda de acordo com Valéria a estrutura precisa melhorar. "A estrutura é totalmente precária. A internet foi instalada aqui semana passada e o sistema vai ser instalado essa semana", afirma. As duas viaturas do Samu que atendem o litoral estavam em manutenção quando o homem esperou 25 horas pelo atendimento. Uma viatura antiga foi emprestada pelo governo do estado até que as viaturas fossem consertadas.

Em janeiro do ano passado, funcionários do Samu realizaram manifestação em Paranaguá exigindo melhores condições de trabalho e o pagamento dos salários que estavam atrasados.

O Samu no litoral do Paraná é gerido pelo Consórcio Intermunicipal de Saúde do Litoral do Paraná (Cislipa) e em 2013 chegou a ter falta de medicamentos e salários dos servidores atrasados. O presidente do Consórcio é o prefeito de Pontal do Paraná, Edgar Rossi.

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