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Sem rede de esgoto na frente de casa, Ildomar Ignachewski lamenta a poluição do córrego no qual brincava quando criança | Antônio Costa/ Gazeta do Povo
Sem rede de esgoto na frente de casa, Ildomar Ignachewski lamenta a poluição do córrego no qual brincava quando criança| Foto: Antônio Costa/ Gazeta do Povo

Sanepar

Prefeitura cobra solução

Responsável por fiscalizar as ligações de esgoto irregulares e também por cobrar a execução e manutenção das redes coletoras, a prefeitura de Curitiba promete tomar providências em relação à situação dos imóveis próximos ao Córrego Evaristo da Veiga que não têm o escoamento adequado dos efluentes. "A Sanepar é concessionária dos serviços de água e esgoto, então ela tem que achar a solução técnica. Não pode dizer que não. Mandamos um oficio para a companhia para que ela nos apresente um projeto de implantação de rede de coleta nos trechos que falta", informa José Tadeu Motta, diretor de Recursos Hídricos e Saneamento da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

Segundo ele, será exigido da Sanepar um estudo sobre a situação da área e não descarta uma rede suspensa de coleta. "Transposição de córrego para saneamento está previsto na legislação federal. Solução técnica existe, é isso que estamos exigindo", diz. Além disso, de acordo com Motta, a partir de hoje, fiscais da prefeitura vão percorrer a região fazendo uma varredura nos imóveis que já dispõem de rede coletora. A intenção é encontrar eventuais ligações irregulares e notificar os moradores.

Consolidada

Como se trata de uma área de ocupação consolidada, a possibilidade de remover os imóveis das margens do córrego está afastada. "Aquela área faz parte de duas plantas de loteamento, ambas aprovadas em 1964. Não sei de que forma foram aprovadas, mas certamente estavam de acordo com as leis da época. Hoje em dia seria diferente", explica José Luiz Filippetto, diretor do Departamento de Fiscalização da Secretaria Municipal de Urbanismo. Segundo ele, atualmente a legislação prevê faixas de proteção no entorno dos rios para não permitir assentamentos tão próximos dos leitos fluviais, evitando assim situações como a esta.

  • Veja a região em que não há rede de coleta de esgoto ao lado do córrego

O empresário Ildomar Igna­­chewski, 41 anos, praticamente se criou às margens do Córrego Evaristo da Veiga, no bairro Boqueirão. "A gente caçava rã e nadava aqui, mas isso faz muito tempo", relembra. Na época, o pequeno curso d’água era mais estreito e fundo e a natureza ao redor era exuberante, desde a nascente, no Xaxim, até a foz no Rio Belém.

Ao longo dos últimos anos, porém, o córrego foi canalizado e suas águas contaminadas por lixo e efluentes domésticos. Para piorar, em cinco de nove quadras da Rua Evaristo da Veiga, paralela ao córrego, não há rede coletora de esgoto na margem direita do rio – entre a Rua Paulo Setúbal e a Avenida Marechal Floriano. Os imóveis nesse trecho foram construídos junto ao leito. "Ilhados", os moradores despejam os dejetos no curso fluvial, pois a rede coletora passa apenas do outro lado da rua.

"Onde era possível, a rede dupla (dos dois lados da via) foi executada. Onde não foi, era porque o córrego não dava condições. Pela frente (dos lotes) não há como executar a obra", argumenta Fábio Queiroz, gerente da Regional Leste da Sanepar. Segundo ele, como não há espaço em frente aos lotes para passar a rede, somente duas alternativas são viáveis – ambas de responsabilidade (inclusive financeira) dos próprios moradores: a abertura de fossas (pouco recomendáveis, pois contaminam o lençol freático) ou a construção de uma rede particular, que interligue os imóveis e se conecte à coletora pública já existente nas pontas das quadras.

Segundo Queiroz, a Sanepar não executa obras dentro de propriedade particular. "É um empecilho técnico mesmo, de atendimento e manutenção. Toda vez que precisasse mexer na rede, teríamos que pedir permissão ao proprietário", justifica. Porém, ele recomenda que os moradores, caso construam a rede particular, busquem orientação técnica nos postos da companhia nas Ruas da Cidadania.

Para Ildomar, cujo imóvel recebe água potável através de mangueiras suspensas sobre o córrego, há outras alternativas. "Se a água passa, o esgoto também poderia voltar, só que em canos mais grossos", sugere. Ele acredita que convencer os moradores a fazer a rede particular e pagar por ela é inviável. "O certo seria fazer a tubulação passar sobre o rio. Seria mais barato do que invadir os terrenos", pondera.

Mau cheiro

Fernando Ribeiro da Luz, 40 anos, mora do outro lado da rua, onde passa a rede coletora. Apesar disso, ele também sofre com o mau cheiro do córrego e com a infestação de ratos e pernilongos. "Também dá muito ladrão nessas árvores", ironiza, referindo-se à falta de segurança nas margens estreitas e íngremes do córrego, tomadas pelo entulho. Quando chove forte e a vazão aumenta, os problemas se agravam. "A água de branca fica preta. Tem garrafa pet, madeira, tudo que é tipo de lixo", conta Ildomar. Até cavalo morto já passou boiando por ali. E a forte correnteza ainda ameaça desbarrancar margens.

Situação, aliás, que o líder comunitário Mauro Gonçaves, 47 anos, tenta há anos reverter. Em 2005, ele bolou um projeto para revitalizar o rio. O documento foi enviado a 13 secretarias municipais e ganhou o aval do então prefeito Beto Richa. Algumas melhorias foram feitas, mas a parte de saneamento não avançou. "Acho que a solução depende dos próprios moradores, de não jogar lixo, e do poder público, de tirar os esgotos. Se houver uma parceria, o problema pode ser resolvido", conclui.

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