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É difícil convencer quem não acredita em santos e imagens religiosas sobre a importância de se restaurar obras consideradas como arte sacra. Não se pode negar o forte apelo religioso, mas também há por trás de tudo isso parte da história do Brasil que não deve ser perdida.

Imagens que são restauradas atualmente chegaram há muitos anos ao Brasil, desde a época do Descobrimento; por isso, são muitas vezes consideradas as primeiras obras de arte do país. A professora e restauradora Nanci Valente lembra que os primeiros colonizadores traziam santos e Nossas Senhoras nas embarcações como um sinal de que vinham junto na viagem a esposa e os filhos. "Eles tinham a ideia de que não iriam ficar para sempre. Vinham como homens particulares e traziam a religiosidade", conta Nanci.

Também na época das reduções jesuítas se formaram artesãos entre os padres. Os beneditinos foram excelentes escultores, outro fato que não pode ser desprezado. "Aquele foi um período em que se carecia de produção para montar os altares das igrejas. Os índios passaram a fazer os retábulos e, por conta disso, um São Lourenço, por exemplo, vai aparecer com cajus e abacaxis do lado dele. Era algo feito a partir da visão indígena, mesmo que eles fossem comandados pelos jesuítas", explica Nanci.

Como as imagens foram, muitas vezes, produzidas às pressas para ocupar o altar de uma igreja, existem poucos ou raros documentos que mostram como eram feitas originalmente. Por causa disso, restaurar uma peça dessas hoje em dia exige paciência e dedicação. As esculturas que vão para o museu normalmente recebem apenas uma limpeza e, quando necessário, um resgate da pintura original. "Com um bisturi, delicadamente, retiram-se as camadas de tinta que não são originais até se chegar à primeira cor", explica a arquiteta e restauradora Haline Ledermann. Ela lembra que conversar com os fiéis mais antigos da igreja também ajuda na pesquisa para descobrir como era a imagem originalmente.

O problema é quando a peça perdeu uma mão ou um pé inteiro, e não há referências de qual era a posição deste membro na escultura. "Os fiéis têm o costume religioso de tocar as imagens nos pés e nas mãos. Isso acaba danificando a peça com o passar do tempo", explica Nanci. A solução para fazer a reconstituição é estudar a iconografia do santo e refazer a mão que faltava, por exemplo, com um material e cor diferentes do original, para demonstrar que naquele pedaço da peça houve uma intervenção atual.

"Trabalhamos com peças sobre as quais não conseguimos saber como foram feitas. As técnicas mais antigas chegavam a usar ouro 24 quilates porque era de fácil molde. Hoje, para restaurarmos uma imagem que tinha ouro, por exemplo, usamos folhas de ouro e precisamos usar a cola de animal quente para obter um resultado parecido com o de antigamente. Chegamos a manusear cola a uma temperatura de 56°C para que não haja muita perda de material. Mas não é um trabalho fácil", diz Nanci.

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