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Além de ser uma área de lazer, o Parque Barigui funciona como uma área natural de contenção das águas da chuva | Lucas Pontes/Gazeta do Povo
Além de ser uma área de lazer, o Parque Barigui funciona como uma área natural de contenção das águas da chuva| Foto: Lucas Pontes/Gazeta do Povo

Iniciativas

Na Bahia, projeto usa corais para reduzir impactos da pesca

O estudo contabiliza 132 casos de Adaptação com base em Ecossistemas (AbE) no mundo, 44% concentrados na Europa. No Brasil, segundo o levantamento, as experiências são incipientes, mas atestam o potencial do país, em razão de fatores como a rica biodiversidade e a tradição nacional em envolvimento de comunidades. São, pelo menos, 10 projetos em andamento no Brasil, na Bahia, Rio de Janeiro, Acre, São Paulo, Ceará, Distrito Federal, Paraná, Amazonas, Mato Grosso. Entre os objetivos do uso de serviços dos ecossistemas estão aumento da conservação da biodiversidade, do reflorestamento e da preservação das cabeceiras de rios.

Um exemplo de boa prática apontada pelo estudo é um projeto desenvolvido, simultaneamente, no Brasil, na África do Sul e nas Filipinas, com custo de mais de 4 milhões de euros. Por aqui, o foco das intervenções é a região de Abrolhos, na Bahia, que seria bastante vulnerável às mudanças climáticas, por ser afetada pela sobrepesca e pelo desmatamento para criação de gado, agricultura e ocupação humana. Depois de um processo de avaliação, duas intervenções de adaptação estão sendo implementadas nos municípios de Prado e Porto Seguro. Uma delas pretende proteger recifes de corais e promover um planejamento costeiro, para melhorar a pesca na região. Outra busca reduzir a vulnerabilidade da população, pela inclusão de recomendações de adaptação baseada nos ecossistemas no plano municipal de conservação e restauração da Mata Atlântica em Porto Seguro.

Se instalar aparelhos de ar-condicionado em todas as casas de uma cidade extremamente quente seria a solução tradicional para suportar o verão, promover a arborização, embora leve mais tempo, pode ser uma alternativa bastante razoável, sobretudo, pelos impactos positivos no microclima. Trocar estruturas "cinzas", ou grandes obras de engenharia, pela própria atuação da natureza na solução de problemas climáticos é a ideia-chave de um conceito relativamente novo, a Adaptação baseada em Ecossistemas (AbE). Um estudo inédito da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, que reúne informações sobre projetos desenvolvidos no mundo todo, aponta as vantagens, inclusive econômicas, de se utilizar os serviços ecossistêmicos, na tarefa de tornar a biodiversidade e o homem mais resilientes aos impactos das mudanças climáticas.

INFOGRÁFICO: Veja soluções para preservar o meio ambiente

"No Sul, teremos aumento na intensidade das chuvas e das enchentes. Diante da nossa vulnerabilidade, é interessante ter um lago funcionando como uma bacia de contenção, por exemplo, no lugar de construir um muro, um dique", exemplifica a bióloga Juliana Baladelli, analista de projetos da Fundação. Segundo ela, embora algumas soluções já estejam sendo adotadas – nos parques lineares de Curitiba, por exemplo –, o conceito ainda é pouco divulgado no Brasil. "Enviamos o relatório ao Ministério do Meio Ambiente, que deve divulgar um rascunho do Plano Nacional de Adaptação a Mudanças Climáticas em junho deste ano. Eles disseram que o estudo veio a contribuir de maneira altamente relevante", comemora.

O engenheiro florestal André Ferretti, gerente de Estratégias de Conservação da Fundação Grupo Boticário, reforça a importância de se discutir o conceito de adaptação, no momento em que as mudanças climáticas estão em curso, com eventos extremos cada vez mais frequentes e intensos. "São atitudes que países, governos, empresas podem tomar para se adaptar aos cenários e ter impactos menores. Em regiões onde há previsão de chuvas mais concentradas, como o Sul do Brasil, pode-se aumentar as áreas verdes, porque a floresta absorve boa parte da água, e a outra parte chega mais devagar ao solo". Ele explica que, em terrenos sem vegetação, a a chuva cai direto no solo, compactando-o, o que diminui a capacidade de absorção e aumenta a possibilidade de desastres, como enchentes.

O conceito de Adaptação baseada em Ecossistemas é novo, mas as técnicas já são aplicadas com bons resultados. "Curitiba já fez algo assim no passado. O Parque Barigui é um exemplo. Com as áreas impermeabilizadas aumentando, a melhor alternativa foi conservar aquele espaço para ser uma bacia que recebe a água de chuva", defende Ferretti. A chave da estratégia da AbE é prestar a atenção no que a natureza faz e "copiá-la". "Um engenheiro diria: canaliza isso. Canalizar um rio vai concreto que não acaba mais, é muito mais caro do que mantê-lo ali. Sem contar o microclima local. Aquela água, quando canalizada, acaba não refletindo no resfriamento do ambiente. Também tem a questão visual, das árvores plantadas", complementa Ferretti.

Atitudes

A mudança pode começar no seu quintal

A arborização de calçadões, como Nova York fez, tem efeitos positivos no microclima e na qualidade de vida da população. "É uma tendência mundial usar os serviços ambientais. As plantas abafam o barulho, tem toda a questão do clima, do paisagismo", comenta o engenheiro florestal André Ferretti. Nesse sentido, atitudes simples no quintal de casa podem ser interessantes. "Colocar duas ou três pitangueiras faz diferença. Além do visual legal, de ter frutas na própria casa, é notável o efeito no calor. Algumas, inclusive, têm folhas que caem no inverno, funcionam muito bem."

Ferretti reforça a frequente necessidade de dragagem nos rios do litoral, que seria minimizada pela proteção das margens. "Criar unidades de conservação, para evitar a degradação da área, com uso de técnicas de conservação do solo, ou pensar em curvas de nível para que a enxurrada não leve o solo", detalha. Técnicas de cultivo mínimo, com restos de palha em cima do solo, para não deixá-lo exposto à compactação da chuva, e a diminuição no uso de agrotóxicos são outras boas práticas que a agricultura pode adotar.

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