A instalação de UPPs trouxe como efeito a hipervalorização dos imóveis nas comunidades e em seu entorno. Livre da criminalidade, os preços de venda e aluguel das casas dobraram e, em alguns locais, chegaram a 200%.
"Os alugueis dispararam. Eu considero fora da realidade. Aluguel aqui de um quarto e sala, que era de R$ 150, foi para R$ 400. Apartamentos na ladeira (na entrada do morro), que eram vendidos por R$ 60 mil, hoje estão por até R$ 170 mil", disse José Mário Hilário, presidente da Associação dos Moradores do Santa Marta. De acordo com ele, atualmente, a demanda é maior que oferta.
"Aqui, está tudo muito valorizado. Uma casa com dois quartos, sala, cozinha e terraço não sai por menos de R$ 50 mil", confirma a comerciante Laudenira Alves.
Com o mercado imobiliário aquecido, construir mais um andar sobre a lage, com dois ou três quartos para alugar, ou um puxadinho, torna-se um excelente negócio. No Santa Marta, não é difícil identificar alguns novos empreendimentos, mas os moradores se recusam a dar declarações a respeito, com receio da fiscalização da prefeitura.
Esse fenômeno de verticalização das favelas cariocas foi objeto de um estudo recente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que constatou que os aluguéis representam hoje 60% das transações imobiliárias em favelas e conjuntos habitacionais populares, superando o número de compra de imóveis. De 2002 para cá, o volume de locações nas favelas cresceu 20%.
Para conter o crescimento desordenado, a Secretaria Municipal de Habitação implementou 34 Postos de Orientação Urbanística e Social (Pouso) em 64 favelas cariocas, onde engenheiros e arquitetos orientam sobre normas para construção e fiscalizam o uso do espaço público.
"Implantamos nas comunidades mecanismos de controle urbanístico, ou seja, naquela área a prefeitura desenvolve parâmetros, identifica gabaritos e afastamentos dos espaços públicos. A partir daí implantamos o Pouso, que faz o trabalho de fiscalização e orientação técnica para evitar o adensamento excessivo", explicou Jorge Bittar, secretário municipal de Habitação.
Na última década, informou o secretário, a taxa de crescimento de domicílios nas comunidades cariocas (16,1%) foi o dobro da registrada nos bairros (7,9%). "Reflexo da ausência de uma política habitacional", considerou Bittar. Segundo ele, a atual política habitacional do município já atendeu 107 mil domicílios, promovendo a urbanização em 54 assentamentos. "Estão em urbanização outros 70 assentamentos, com 73 mil domicílios", completou o secretário. O investimento total nos programas habitacionais da prefeitura é de R$ 2,174 bilhões.
De acordo com dados da Secretaria de Habitação, o Rio de Janeiro conta hoje com 625 comunidades faveladas, que têm 383.469 domicílios e 1,3 milhão de pessoas.



