| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

O comandante-geral da Polícia Militar (PM) do Paraná, coronel Maurício Tortato – que foi indiciado em uma investigação sobre o recall realizado em coletes balísticos da corporação – rebateu a apuração conduzida pela Delegacia de Explosivos, Armas e Munições (Deam). Em entrevista coletiva realizada nesta quinta-feira (1.º), o coronel classificou o inquérito como “uma excrescência jurídica pautada em meias verdades” e disse que a apuração teria sido movida por “interesses inconfessáveis” do delegado de atingir o governo do estado. Tortato disse que vai enfrentar esse processo com “honra e altivez”.

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“É algo que nos causa indignação e só temos a lamentar (...), mas juridicamente não me incomoda este indiciamento”, declarou.

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Em alguns momentos, o coronel elevou o tom, principalmente quando mencionou o delegado Vinícius Borges Martins, chefe da Deam, que conduziu a investigação. Tortato destacou que o delegado teria “contaminado” as investigações e o classificou como “covarde”. “Eu o desafio a fazer um novo curso de Direito, pra ver se ele aprende alguma coisa”, disse. “Um relatório desses, olhe, é para bater palma”, completou, aplaudindo ironicamente.

O coronel negou qualquer irregularidade no recondicionamento dos coletes balísticos da corporação. A realização do recall foi definida em reunião ocorrida na Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), depois que testes balísticos reprovaram lotes dos coletes adquiridos pelas forças de segurança do estado. A “recauchutagem” consistia na implantação de uma manta extra de aramida – tecido sintético antitrauma – e na substituição da etiqueta, estendendo em um ano a validade do produto.

“Responsavelmente, nós não poderíamos tirar os coletes dos nossos policiais ou tirar os nossos policiais das ruas”, apontou Tortato. “Eu fui a única autoridade que tomou providências (...) É melhor ter um equipamento com alguma deformidade até serem potencializados em termos de proteção balística, do que deixar os militares sem equipamento ou precisar retirar eles das ruas”, acrescentou.

Em depoimento, representantes do Exército Brasileiro – que regulamenta e fiscaliza procedimentos envolvendo coletes balísticos – atestaram que a legislação não permite que sejam feitos recalls em equipamentos vencidos. Em relação aos coletes “a vencer”, os oficiais ouvidos apontaram que deveria ter sido consultado o Comando Logístico do Exército.

“Quem falou [na investigação] pelo Exército não poderia representar o Exército neste tipo de assunto”, apontou Tortato, dizendo que o delegado deveria ter questionado o Departamento de Fiscalização de Produtos Controlados (DFPC) do Exército.

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Vencidos

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O coronel também negou que haja qualquer irregularidade em relação ao acréscimo de um ano no prazo de validade dos coletes que passaram pelo recall. Em outro ponto, o comandante da PM asseverou que o acordo previa o recondicionamento apenas de equipamentos “a vencer”. Ele questionou as informações do relatório da investigação, que aponta que 1,3 mil coletes vencidos teriam sido recauchutados.

“Pelo controle que fizemos, foi cerca de 400”, estimou. “Notem que é um universo pequeno, porque mais de dez mil coletes passaram por este procedimento”, apontou.

Crimes

Tortato foi indiciado por induzir consumidor ao erro, por manter de forma irregular arma ou equipamento de segurança, por expor pessoas a risco iminente e por calúnia. Em relação ao crime contra o consumidor, o coronel disse que quem deveria responder por este tipo penal é apenas o Grupo Inbra, fabricante que forneceu os coletes ao estado. Sobre a exposição de pessoas ao risco iminente, Tortato afirmou que foi o único que tomou providências para reparar as deficiências técnicas dos coletes. O coronel também comentou seu indiciamento por manter de forma irregular equipamento de segurança. “Vão indiciar a Polícia Civil e a Sesp também?”, ironizou.

Delegado diz que se baseou em provas e que 1,3 mil coletes vencidos passaram por recall

O delegado Vinícius Borges Martins, chefe da Delegacia de Explosivos, Armas e Munições (Deam), disse que a investigação que terminou com o indiciamento do comandante-geral da Polícia Militar (PM), coronel Maurício Tortato, foi baseada em provas e refutou qualquer outro tipo de motivação na apuração.

“Foi um trabalho respaldado por provas colhidas ao longo de várias diligências, principalmente provas técnicas. Não foram ilações. Tudo está comprovado documentalmente”, disse o delegado.

Martins preferiu não comentar os ataques pessoais do comandante. “Não comentarei ilações insanas sobre as assertivas do coronel. O que eu tinha para dizer, eu disse por meio do relatório, que está amplamente documenta”, disse. “Ao longo da minha carreira, eu tenho centenas de investigações, sem nunca ter pendido para um lado ou para outro. Sempre me ative às provas. Em relação a este caso, eu aguardo a manifestação da Justiça e do Ministério Público [que vai analisar o relatório final]”, completou.

Vencidos

O delegado rebateu a argumentação do coronel, que disse que apenas 400 coletes balísticos vencidos passaram pelo recall. Martins reafirmou o número apurado na investigação: 1,3 mil equipamentos vencidos. “Isso está documentado pela planilha de recall, apreendida em uma das diligências”, destacou.

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