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Ponta Grossa – Começou ontem e vai até quinta-feira em Ponta Grossa a sexta edição do vestibular dos povos indígenas. Para as 36 vagas nas cinco universidades estaduais e cinco na Universidade Federal do Paraná (UFPR) inscreveram-se 136 índios de nove etnias e de sete estados. Desses, 64 concorrem aos cursos da UFPR.

Ontem os candidatos fizeram a prova oral, na qual tiveram que interpretar um texto e falar de experiências próprias. Hoje e amanhã serão as provas objetivas. A previsão da Comissão Universidade para Índios (Cuia), responsável pela seleção e acompanhamento dos índios, é de que a lista de aprovados seja divulgada já na sexta-feira.

A oferta de vagas para os povos indígenas nas universidades estaduais aumentou 50%. De 2001 a 2005 estavam disponíveis 18 vagas. Nesse ano, são oferecidas 36 nas universidades estaduais, novidade que pegou de surpresa até mesmo os membros da Cuia. Essa era uma reivindicação antiga de lideranças ao governo estadual, conquistada em janeiro. Se houve aumento da oferta, cresceu também a procura. Em 2005, 110 índios se inscreveram para o vestibular e nesse ano são 136.

Para o indianista Edívio Batistteli, o maior número de índios no universo acadêmico permite a ampliação da interatividade, ferramenta importante para que eles possam competir em igualdade com os brancos.

Nessa edição, os inscritos não puderam optar por um curso antecipadamente. A escolha será feita após a aprovação. A mudança, de acordo com o professor José Roberto Galdino, da Cuia, é uma tentativa de evitar a evasão durante o curso. "Muitos escolhiam o curso, mas não tinham contato com a realidade ou não sabiam do que se tratava", afirma. A estimativa é de que haja hoje a desistência de 50% dos índios que entram na universidade. Preconceito, dificuldades econômicas e culturais e a distância da família figuram entre os principais motivos da evasão indígena.

A guarani Tatiana da Silva, de 20 anos, concorre a uma das vagas. Ela pretende cursar Educação Física ou Enfermagem. Entre os sonhos e perspectivas para o futuro, está também a preocupação de lidar com o preconceito branco.

Assusta a índia a história contada por outra guarani, que desistiu do ensino superior após ouvir de um universitário o comentário de que ali não era lugar dela. "Eu sei que vai acontecer comigo também, mas vou focar no que quero para meu futuro", diz.

Futuro

O futuro deles e das próprias aldeias é a principal motivação para seguir. Índios que vivem em aldeias – 82% dos inscritos – pretendem voltar para sua comunidade e fazer algo por ela. Aos 33 anos e três filhos, Valdecir Portela, tenta o vestibular pela primeira vez e quer cursar enfermagem. "Quero me formar e servir minha comunidade", diz o pai de um menino de 11 anos, que diariamente é incentivado a estudar. Incentivo que faltou para ele. Quando criança, os prognósticos da família para o seu futuro eram dar seguimento à agricultura, principal fonte de economia das aldeias indígenas.

A perspectiva de um futuro melhor para si e para a aldeia está presente desde jovens de 17 anos até senhores de 60. Ontem, o caingangue Jorge Correia de Lima, 58 anos, soletrava e tentava entender um pouco mais o espanhol para encarar a prova de língua estrangeira de hoje. Há 20 anos ele largou o curso de Agronomia por dificuldades financeiras e agora tenta tomar de volta o sonho adormecido durante todo esse tempo.

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