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Crianças avás-guaranis da aldeia Ocoy, em São Miguel do Iguaçu: um terço das famílias vive em condições precárias | Christian Rizzi/Gazeta do Povo
Crianças avás-guaranis da aldeia Ocoy, em São Miguel do Iguaçu: um terço das famílias vive em condições precárias| Foto: Christian Rizzi/Gazeta do Povo

SÃO MIGUEL DO IGUAÇU - Pelo menos 40 das 120 famílias da aldeia Ocoy, em São Miguel do Iguaçu, vivem em condições precárias e precisam de ajuda. O diagnóstico revelado pelo cacique Daniel Lopes indica uma realidade comum em outras aldeias: faltam cobertores, agasalhos e alimentos. No Oeste do Paraná, boa parte dos índios das três reservas avá-guaranis teria dificuldades para sobreviver sem o suporte e a assistência que recebem de entidades de apoio, da comunidade e do governo. O Paraná concentra cerca de 15 mil indígenas.

"É inconcebível, mas ainda hoje temos casos de índios passando fome e frio. Eles não têm dinheiro para comprar roupa e isso se intensifica no inverno. A carência alimentar atinge várias aldeias do estado, em especial no Oeste e nas regiões de Guarapuava e Laranjeiras do Sul. Infelizmente não podemos dizer que acabamos com a carência alimentar, mas estamos muito a frente de estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul", aponta o promotor Luiz Eduardo Bueno, coordenador do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Proteção às Comunidades Indígenas do Ministério Público do Paraná.

Sem poder plantar e criar animais em quantidade suficiente por estarem em uma área de preservação ambiental, a alimentação dos cerca de 620 índios da tribo é reforçada por cestas-básicas repassadas pela prefeitura. Doações de roupas também ajudam a garantir melhores condições. Em Ocoy, Itaipu e Cohapar construíram 70 casas com rede elétrica, água e saneamento básico a fim de minimizar os problemas de falta de infraestrutura da aldeia de 253 hectares às margens do lago.

"Precisamos de alimento, de roupa e de cobertores, principalmente para as crianças", aponta Lopes. "Recebemos muita ajuda, mais ainda temos algumas famílias, cerca de 30% da aldeia, com dificuldade." O mesmo expõe o cacique Ernesto Centurion, da aldeia Itamarã, de Diamante do Oeste, onde hoje vivem 26 famílias. "Falta comida, falta roupa. Mas, isso não acontece só aqui. Sei que muita aldeia está na mesma situação ou pior até", garante.

Migração

Transferidos para a região em meados da década de 1980, os avá-guaranis viviam em áreas que precisaram ser alagadas para a formação do reservatório da Itaipu Binacional. Auxiliados por funcionários da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e da Fundação Nacional do Índio (Funai), instalados na reserva, os índios de Ocoy também recebem auxílio da usina hidrelétrica, do Provopar de São Miguel do Iguaçu, da administração municipal e de outras entidades beneficentes.

De acordo com o promotor, as aldeias ribeirinhas ao lago de Itaipu vivem uma condição particular. A proximidade com as comunidades indígenas do Paraguai e da Argentina acabam servindo de incentivo à imigração. "Estruturas planejadas para um certo número de famílias logo sofrem com o inchaço populacional. Por isso, o problema é mais freqüente na região", disse ao antecipar que autoridades brasileiras devem se reunir com representantes dos países vizinhos para tentar frear esse fluxo.

No fim de março, o governo do Estado se comprometeu a fornecer alimentos e medicamentos para 3 mil índios do Paraná em condições mais críticas. Segundo o secretário de Assuntos Estratégicos, Nizan Pereira, indicado para cuidar das remessas disse na ocasião que a medida havia sido tomada depois que o Ministério Público relatou casos de desnutrição infantil nas aldeias de Ocoy, Tekoha Porã e Marangatu, em Guaíra, e em Rio das Cobras, em Nova Laranjeiras.

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