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Ao menos três dos quatro acusados de participar da chacina que matou o ambientalista Jorge Grando em abril de 2011, na cidade de Piraquara, Região Metropolitana de Curitiba, devem entrar com uma ação na Justiça de indenização por danos morais contra o Estado. Eles reclamam da condução da investigação que os acusou e dizem ter sofrido constrangimento durante o inquérito, mesmo com a falta de provas, que os inocentou. Mesmo com a inocência, o delegado do caso acredita que eles sejam culpados.

Derise Farias Pereira Grando, ex-mulher do ambientalista, foi acusada de ser a mandante do crime, com a intenção de conseguir uma quantia em dinheiro que estaria dentro da chácara em que o ambientalista e mais quatro pessoas foram mortos. Além dela, foram acusados Adilson Rocha, João Carlos Rocha e Edival de Souza da Silva. O Ministério Público (MP) do Paraná denunciou os suspeitos, mas pediu, em novembro de 2013, a inocência dos quatro no caso por falta de provas. Na última segunda-feira (26), a Justiça seguiu o pedido do MP e julgou improcedente a acusação pela chacina.

De acordo com o advogado Antônio Pellizzetti, que defende a ex-mulher do ambientalista morto, é quase certeza que ela vai entrar com o pedido de indenização por danos morais. "É bem provável que ela entre com essa ação. Pela sentença, ela tem esse direito. Nós tivemos uma primeira conversa depois da decisão da Justiça e ela me falou desse interesse, por causa das situações constrangedoras que passou durante o processo", explica.

O advogado deve colher como provas contra o Estado notícias veiculadas na imprensa sobre a acusação e prisão dos então acusados para sustentar a ação civil. Pellizzetti diz que, durante o inquérito, sugeriu outras linhas de investigação, que não foram concluídas pela Polícia Civil. Para ele, o fato de a vítima ter sido secretário de Meio Ambiente do município de Pinhais, na RMC, com envolvimento em causas ambientais, pode explicar as causas da chacina.

Essa também é a opinião do advogado Alexandre Jarschel de Oliveira, que defendeu os irmãos João Carlos Rocha e Adilson Rocha, outros dois acusados que prometem entrar com ação na Justiça contra o Estado. Ele contestou a condução das investigações na Polícia Civil. "Acredito que a polícia quis dar uma resposta rápida ao caso e não seguiu com outras linhas", reclama. Ele diz que seus clientes sofreram humilhações durante a prisão, ao serem apresentados como autores da chacina. "Isso não se faz com ninguém, nem se a pessoa é culpada. Eles ficaram presos por um ano e meio e até hoje são hostilizados", reclama.

A reportagem tentou entrar em contato com o escritório do advogado Diego Rodrigo Gomes, que defendeu Edival de Souza da Silva, mas ninguém atendeu às ligações.

Inquérito

Mesmo com as reclamação dos advogados, o delegado Amadeu Trevizan Araújo, que na época conduziu o inquérito pela Delegacia de Piraquara, afirma ter certeza de que os quatro são de fato culpados pela morte de Jorge Grando e das outras pessoas na chacina. "Eu ouvi as testemunhas, eu senti as testemunhas e posso afirmar que eles são os culpados. Não foi uma decisão aleatória [a acusação dos suspeitos]."

Segundo o delegado, foram quatro pessoas ouvidas pela Polícia Civil e encaminhadas para o Ministério Público – e posteriormente para o juízo ouvir como testemunhas para a condenação. Ele afirma que as pessoas disseram ter visto os acusados perto da chácara perto do horário do crime. "Elas apontaram esses acusados durante o inquérito. Se na Justiça elas não sustentaram a versão que me foi passada, aí não é uma questão que me compete", explica.

Para Araújo, o que tornou a investigação difícil foi a perícia. Ele disse que assumiu a investigação 30 dias depois do crime e nesse período a chácara não foi mantida como no momento dos assassinatos, o que prejudicou o inquérito na parte pericial. "O local do crime não foi preservado."

O delegado ainda diz ter conduzido outras linhas de investigação, como crime passional e uma possível ligação da morte de Grando e das outras vítimas com o fato de o ex-secretário municipal ser ambientalista, mas não houve provas suficientes para apontar o inquérito nesta direção.

O MP do Paraná, via assessoria de imprensa, disse que, mesmo com o pedido de absolvição feito pelo órgão, caso a Justiça entendesse que haveria provas suficientes, o juízo poderia ter condenado os acusados, o que não aconteceu. O caso agora deve voltar para as mãos da Polícia Civil, para recomeço das investigações na Delegacia de Piraquara.

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