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Marinelsa Rodrigues, mãe de Edenilson, diz que a PM fez a abordagem para averiguar uma denúncia de tráfico no local | Brunno Covello/ Gazeta do Povo
Marinelsa Rodrigues, mãe de Edenilson, diz que a PM fez a abordagem para averiguar uma denúncia de tráfico no local| Foto: Brunno Covello/ Gazeta do Povo

Desaparecidos

Policiais podem ser indiciados se comprovada culpa no episódio

Assim como no caso do pedreiro Amarildo de Souza, que sumiu no Rio de Janeiro após ser levado por policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, PMs do Paraná também podem ser indiciados se for identificada culpa deles no desaparecimento de Edenilson Murillo Rodrigues. As investigações daqui, entretanto, ainda não avançaram para esse ponto e, por enquanto, a polícia apura apenas o desaparecimento do caseiro.

Em tese, segundo Leonir Batisti, coordenador estadual do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), nada impede o indiciamento de policiais envolvidos em um crime. "Independente da apuração da Corregedoria da PM, tendo convicção do fato, podemos sim decidir pelo indiciamento", explica o procurador de Justiça, mas que admite a possibilidade de aguardar o procedimento instaurado pela Polícia Militar. "Invariavelmente, a polícia abre um procedimento para verificar os aspectos disciplinares e o que abrange o fato. Isso acaba servindo como um elemento apuratório e, às vezes, acabamos aguardando".

Indiciamento

No caso de Amarildo, no último dia 1º, um major e mais nove policiais militares foram indiciados por sequestro seguido de morte e ocultação de cadáver. Enquanto o caso não for julgado, eles ficarão na Diretoria Geral de Pessoal (DGP) – sem função e gratificação. O pedreiro sumiu no dia 14 de julho passado e o caso virou uma das bandeiras dos protestos ocorridos em todo o país. Sobre o desaparecimento de Edenilson, Batisti afirmou que o caso merece investigação, mas foi cauteloso ao falar sobre o envolvimento dos policiais. "Nesse caso, precisa ir mais a fundo para ver o que é a verdade. Logicamente sou cauteloso porque pode haver a possibilidade dele ter fugido e os PMs estarem falando a verdade. Tudo precisa ser investigado", concluiu.

Investigação

Além da Corregedoria da PM, o Ministério Público e a Delegacia de Piraquara também têm procedimentos instaurados para apurar o que ocorreu na noite de 21 de maio. Os órgãos dizem ter ouvido testemunhas, mas não divulgaram se têm pistas sobre o paradeiro de Edenilson.

A Polícia Militar concluiu que há indícios de crime comum na abordagem realizada por oito policiais militares no último dia 21 de maio, em uma chácara na Rua Paulo Filus, em Piraquara. No local, morava o caseiro Edenilson Murillo Rodrigues, 26 anos, que segundo a família nunca mais foi visto desde aquela noite. De acordo com o inquérito, os agentes entraram na residência sem mandado para tal e não preencheram os documentos referentes à abordagem. A conclusão foi repassada pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope) à Corregedoria da Polícia Militar, que deverá remetê-la à Justiça Militar.

O paradeiro do homem, entretanto, segue um mistério. Isso porque, segundo o inquérito, Edenilson não foi revistado porque não estava no local no momento da abordagem dos homens da Rondas Ostensivas de Natureza Especial (Rone), braço do Bope, tropa de elite da PM do Paraná. Mas a mulher do caseiro estava e garante que ele sumiu logo após a abordagem da PM na chácara.

Segundo Marilucia de Freitas, que concedeu à Gazeta do Povo sua primeira entrevista sobre o caso, Edenilson, dois amigos, um chamado Leonardo e outro conhecido como Ricardinho, e ela jogavam baralho quando perceberam que policiais invadiam o imóvel. "Ele saiu correndo e não vi mais nada. Só ouvi policiais gritando ‘canil’", diz a diarista, em referência ao local por onde era possível pular o muro dos fundos da chácara.

De acordo com Marilucia não é possível afirmar se Edenilson foi ou não alcançado pelos policiais, que teriam se dividido entre uma revista ao interior da chácara e os arredores do imóvel. "Eles me colocaram em um cômodo com a minha filha e não sei se meu marido foi apanhado. Só ouvi alguns policiais do lado de fora conversando entre eles e rindo", afirma.

Sem tráfico

Marilucia conta também que o casal sobrevivia havia dois anos com o que ela ganhava limpando residências da região e com pequenos bicos dele como pintor. Ela nega a acusação de que o local era ponto de tráfico. "Ele [Edenilson] já tinha se envolvido com droga no passado, mas nunca usou dentro de casa. Tanto que a PM não encontrou nada lá, apesar de terem desmontado toda a casa".

A polícia não confirmou o motivo da abordagem na casa, mas Marinelsa Rodrigues, mãe de Edenilson, diz ter ouvido de policiais que a PM fez a abordagem para averiguar uma denúncia de tráfico feita por um usuário da região. Marinelsa também desconhece qualquer envolvimento do filho com o tráfico de drogas. Apesar de não ter certeza sobre o paradeiro do marido, Marilucia desconfia que o caseiro não esteja vivo. "Estávamos juntos há dois anos e ele sabia da nossa luta. Duvido que ficaria sem me procurar para contar o que aconteceu".

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