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"Estamos organizando uma brincadeira para quem quer acelerar nos 400 metros. Já tem gente prometendo sair de lá com os pneus estourados", convida uma rapaz identificado por Allan. "Já chamei três carros para ir. Galera que for confirma aí", responde Skol. É dessa maneira que quase 900 pessoas – a maioria jovens – discutem e agendam corridas pelas ruas da capital. Elas são integrantes da comunidade "Rachas e Pegas em Curitiba", criada no Orkut, a rede virtual de relacionamentos mais popular no Brasil.

Os assuntos tratados na internet são variados. João Henrique tenta vender um kit de molas esportivas para um veículo Gol G3. Já André relata as experiências mais emocionantes que teve: "O maior racha foi na Rua José de Alencar. Chegamos a 150 por hora. O mais engraçado é que tinha um sinal fechado e paramos juntos. Teve outro [racha] em uma avenida que estava cheia. Eu e o cara cortando todo mundo. A gente só via as luzes altas e as buzinadas". Sem falar nos desafios virtuais. "Eu com meu Marea Turbo não perco. Alguém quer engolir poeira?", provoca Carlos.

As regras impostas pelo fundador do grupo, identificado como Roger Dark Word, são explícitas: "Comunidade dedicada aos viciados em rachas e pegas em Curitiba. Caso queiram marcar algum tipo de pega, marquem via MSN [um canal privado de comunicação on-line]. Locais e datas que fiquem em segredo."

Entretanto, membros displicentes acabam revelando nos fóruns de discussão do Orkut alguns lugares em que a "brincadeira" costuma ocorrer na capital – como a Avenida Brasília, perto do Posto Curió, no bairro Novo Mundo; e dois pontos da BR-116, um próximo ao Hospital Vita, no Bairro Alto, e outro na região da empresa Telos, na Vila Fanny.

Pontos de encontro

A reportagem da Gazeta do Povo foi até as imediações do Hospital Vita e conversou com um homem que mora há 25 anos na região. Ele deu detalhes do que presencia quase todas as semanas, mas pediu para que seu nome ficasse em sigilo. Corredores e curiosos começam a chegar por volta das 23h30 de quintas-feiras e encontram-se na Avenida Caviúna, marginal da BR-116. "O local ficou conhecido há pouco mais de três meses. Quando acontecem os encontros não tem quem durma", relata o vizinho.

As corridas têm a participação de até quatro veículos. Os carros são alinhados e, assim que o semáforo da rodovia fecha, saem da marginal percorrendo cerca de 400 metros até um posto de combustíveis. O público fica na margem da BR. "Meu filho costuma ir ali para assistir. Isso é muito perigoso. Se alguém desgovernar o carro mata uns dez", afirma. "Todos os vizinhos chamam a polícia, mas ela nunca vem."

Outro local visitado pela reportagem foi a região do Posto Curió, na esquina da Avenida Brasília com a Rua João Ribeiro Lemos, no Novo Mundo. Moradores e comerciantes das proximidades relatam que os "pegas" começam nas noites de sexta-feira e domingo e se estendem até as 3 horas. "É só ver a marca de pneus no asfalto para confirmar o que acontece", conta uma moradora. "Os mais malucos e arriscados se pegam aqui (na Avenida Brasília). Lotam o posto. Correm de esquina a esquina e fazem cavalinho-de-pau", relata o comerciante Erotildes José da Silva Moreira.

Os encontros são regados a muita bebida e som alto. O proprietário do posto diz tentar impedir os rachas. "Passo a corrente e fecho o posto mais cedo, mas o pessoal continua na rua", conta o empresário, que pediu para não ter o nome divulgado. "Essa bebida muitas vezes é trazida de fora. Costumamos suspender a venda, mas a bebedeira continua. É pinga, tubão e isopores com cerveja", explica. Ironicamente, o fundador da comunidade no Orkut faz um alerta a todos: "Ao realizar pegas, não ultrapasse o limite de velocidade!"

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