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O promotor do Meio Ambiente de São Roque (a 66 km de São Paulo), Wilson Velasco, disse que a invasão do Instituto Royal fez com se perdesse qualquer materialidade do crime de maus-tratos. Na madrugada desta sexta-feira (18), ativistas resgataram cerca de 200 cães da raça beagle do instituto, que trabalha para farmacêuticas e faz pesquisas com animais.

Velasco conduz há cerca de um ano uma investigação para apurar qualquer indício de violação dos direitos dos animais por parte do instituto. Segundo o promotor, laudos de veterinários, indicados pelo Ministério Público, comprovaram que o espaço estava dentro das normas exigidas.

"A lei permite que se faça experimentos desde que se prove que não há outros meios para se chegar a um resultado científico", afirmou.

Velasco mantinha há dias um diálogo com os ativistas que invadiram o instituto e resgataram diversos cachorros. De acordo com o promotor, houve uma reunião com os ativistas na última quarta-feira.

"Eu pedi para eles não invadirem o espaço. Isso só prejudicou a investigação. Agora não há mais provas", disse. O promotor ainda não definiu qual será a nova linha de investigação.

O instituto foi procurado pela reportagem, porém, até o momento ninguém se manifestou a respeito. No ano passado, o instituto Royal disse que segue todos os protocolos nacionais e internacionais voltados para pesquisas com animais em laboratórios. A empresa também negou que houvesse maus-tratos aos animais.

Buscas

Um veterinário do instituto disse para a polícia, durante o trabalho da perícia, que os animais podem até morrer, pois muitos não estão habituados a viver fora do confinamento.

"A polícia vai tentar usar as imagens para identificar as pessoas que pegaram os animais. Não sabemos se o animal pode transmitir algum tipo de doença a humanos", disse o delegado Marcelo Sampaio Pontes.

De acordo com ele, o Centro de Controle de Zoonozes de São Roque deve ser acionado para ajudar no caso. "Entendo a causa dos ativistas e pessoalmente até concordo com a iniciativa, pois fazer experimentos em animais não é uma prática justa. Porém, o que aconteceu foi um crime de furto e temos que cumpri a lei", afirmou.

Além dos animais, o boletim de ocorrência registrado pelo instituto diz que foram furtados ainda, duas sacolas com diversos tipos de medicamentos, três computadores, pastas contendo documentos e diversas lâminas de vidro utilizadas para estudos científicos. Ainda não se sabe o prejuízo causado pelos ativistas.

Pesquisas

Os cães são usados em pesquisas de medicamentos que serão lançados. O objetivo é verificar a existência de possíveis reações adversas, como vômito, diarreia, perda de coordenação e até convulsões.

Em muitas das pesquisas, os cães acabam sacrificados antes mesmo de completarem um ano, para que se possa avaliar os efeitos dos remédios nos órgãos dos bichos.

Quando isso não é necessário, os cães são colocados para adoção, diz a empresa.

O Instituto Royal, alvo da manifestação, passou a ser investigado pelo Ministério Público de São Paulo, que recebeu denúncias de maus-tratos aos animais.

Ao menos 66 beagles eram mantidos em canis. A maior parte deles como reprodutora dos filhotes que serão testados.

"Recebemos a denúncia de que esses animais são acondicionados em condições irregulares", afirma Wilson Velasco Jr., promotor do Meio Ambiente em São Roque.

Polêmica

O uso de cães em pesquisas é permitido e regulado por normas internacionais.

Protetores de animais, no entanto, questionam as normas. "As indústrias sequestram a vida dos animais, que nunca mais terão um comportamento normal", diz Vanice Teixeira Orlandi, presidente da União Internacional Protetora dos Animais.

Segundo o vice-diretor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, Francisco Javier Hernandez Blazquez, os cães da raça beagle são os mais utilizados para experimentos no exterior, pois são animais de médio porte e já criados para a pesquisa.

No Brasil, ratos e camundongos são os bichos mais usados em pesquisas feitas em laboratórios.

"Todo e qualquer experimento realizado por docentes e pesquisadores em animais deve passar por uma comissão de ética para analisar se o animal sofrerá e qual a finalidade do projeto", diz.

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