• Carregando...

Ponta Grossa – A invasão dos sem-terra do Congresso Nacional na terça-feira passada pode ter sido apenas o prenúncio do que ainda pode acontecer neste ano. Os conflitos agrários nos três primeiros meses de 2006 já são 168% maiores dos que os registrados no mesmo período de 2005. De acordo com relatórios da Ouvidoria Agrária, do Ministério do Meio Ambiente (MDA), ocorreram de janeiro a março deste ano 110 ocupações contra 41 registradas em 2005. Somente no mês de março foram 69 invasões. O volume registrado no primeiro trimestre de 2006 é o maior registrado no período dos últimos sete anos.

As ocupações de terra nos três primeiros meses do ano já representam 50% das ocorridas no ano passado. A maioria delas foi comandada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), que vê na ocupação de terras o meio mais eficaz para pressionar o governo federal a acelerar a reforma agrária. O Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST), que promoveu a quebradeira na Câmara, foi responsável por apenas seis invasões de terra. De acordo com o Instituto Nacional de Colonização Agrícola (Incra) existem 72 entidades e movimentos sociais envolvidos nos conflitos deste ano.

A Ouvidoria Agrária ainda prepara os relatórios dos últimos dois meses, época em que historicamente os números de ocorrências são maiores. Se a média de invasões se mantiver, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva corre o risco de fechar o seu mandato com mais registros do que os 999 ocorridos na segunda gestão de Fernando Henrique Cardoso. De acordo com a Ouvidoria Agrária, os três anos e três meses de Lula já somam 880.

Há dois anos, o Nordeste concentra a maior parte dos conflitos no país. No ano passado, das 221 ocupações ocorridas no país, de acordo com o relatório da Ouvidoria Agrária, 66 foram registradas na região, resultando em 24 mortes. Em 2006, dos 110 conflitos ocorridos entre janeiro a março, 55 foram no Nordeste, com 15 mortes.

Os relatórios da Ouvidoria Agrária apontam as efetivas ocupações de terra, sem levar em consideração as inúmeras manifestações dos sem-terra, a exemplo do que ocorreu na Câmara.

Para o pesquisador do laboratório de Geografia Agrária da Universidade de São Paulo (USP), o professor Carlos Alberto Feliciano, autor do livro Movimento Camponês Rebelde, as ondas de invasões e manifestações continuarão enquanto governo não tratar o assunto como prioridade. "A demora no processo de desapropriação, com entraves jurídicos e políticos, com certeza fez agravar os conflitos", diz. A menos de dez meses do fim do primeiro mandato do presidente Lula, 230 mil famílias sem-terra ainda vivem debaixo de lonas em rodovias ou fazendas, a espera de assentamento.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]