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Há quatro meses, quando a diretora da Casa de Custódia de Curitiba, Rita de Cássia Naumann, abriu as inscrições para a primeira turma de ioga dentro da prisão, a novidade foi recebida com desconfiança pelos detentos. "Ninguém se interessou, achavam que era coisa de homossexual", lembra Rita. Mesmo o professor Célio Ricardo Garcia Prates demorou a entender porque a nova atividade conquistou os primeiros praticantes. "Levei um mês para perceber que eles tinham aceitado fazer as aulas só para poder ficar mais tempo fora das celas", lembra Prates. Ele acredita que o problema estava no preconceito dos alunos. "As posições da ioga, as ‘asanas’, eram feitas com má vontade, eles achavam que aquilo não condizia com a postura que um homem deve ter", explica.

A barreira foi quebrada com um desafio. Prates apresentou "asanas" mais elaboradas, que exigiam força e flexibilidade. "Nenhum deles conseguiu fazer e daí surgiu o interesse pela prática", conta. Depois ficou mais fácil mostrar que a ioga não se resume às posições, mas também pelo preceito da não-violência, auto-conhecimento e valores humanos.

O projeto "Resgatando a dignidade através do conhecimento de si mesmo" prevê aulas de valores universais e ioga. Com o programa, os presos têm orientação para buscar o desenvolvimento pessoal. De quebra, ansiedade, tensão e agressividade são amenizadas.

A iniciativa faz parte do convênio entre a Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania (Seju) e as Faculdades Integradas Espírita, firmado no fim de 2005. De acordo com o coordenador assistente do Departamento Penitenciário do Paraná (Depen), Cezinando Dias Paredes, até o fim do ano, o projeto vai funcionar como experiência na Casa de Custória de Curitiba e na Colônia Penal Agrícola. Se os resultados finais forem positivos, será estendido para outras unidades prisionais do estado.

A proposta filosófica aplicada aos presidiários é baseada no programa Educare, do educador indiano Sathya Sai Baba, e trabalha com preceitos de paz, amor, verdade, ação correta e não-violência. De acordo com a coordenadora do programa, professora Neyda Nerbass Ulysséa, trabalhar tal tema é um desafio. "Ninguém aprende valores com teorias, o aprendizado acontece apenas com a vivência. Nosso papel não é o de ensinar, é o de ser um facilitador", diz. Para atingir a meta são utilizadas técnicas lúdicas, de dinâmica de grupo, de auto-conhecimento, de relaxamento, imaginativas, entre outras.

Segundo Neyda, o projeto tem por objetivo mostrar aos participantes as potencialidades que cada um possui. "Todos seres humanos têm semelhanças e diferenças, além disso, todos possuem potencialidades", afirma. Para Neyda, não são só os presos que se beneficiam com o programa. "É gratificante para nós professores também. Sinto o respeito deles", aponta.

A diretora da Casa de Custódia de Curitiba, Rita de Cássia Naumann, ressalta a importância do trabalho para a sociedade. "Ao contrário do que muitos pensam, essas aulas não são um privilégio que concedemos aos presos, a idéia é beneficiar também a sociedade, pois depois que os presos saem daqui terão que se reintegrar nela", avalia. Setenta e três presidiários participam das atividades nas duas unidades penais.

Em relação aos efeitos da prática nos detentos, Neyda é cética. "Não me compete aguardar o resultado, tentamos ‘tocar’ o potencial deles, cada um vai responder de uma forma", explica. Mesmo assim, alguns indicadores representam bons avanços, de acordo com Rita. "Os agentes penitenciários comentam que as alas onde há alunos que fazem parte do programa são mais tranqüilas. É interessante como o trabalho repercute, também, atingindo até aqueles que não participam do projeto", diz.

A ioga proporciona uma nova perspectiva de vida aos internos. "Eu agradeço, porque as aulas transmitem tanta paz, parece que nem estou preso", afirma um dos detentos da Casa de Custódia de Curitiba. "Quanto mais aula para nós, é melhor. Essa aula nos dá auto-estima", comemora outro.

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