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Visitante poderá conhecer as pinturas e elementos arquitetônicos do interior do prédio, como a escadaria | Custódio Coimbra /Agência O Globo
Visitante poderá conhecer as pinturas e elementos arquitetônicos do interior do prédio, como a escadaria| Foto: Custódio Coimbra /Agência O Globo

Ocupação carioca

Olhar voltado para outros bens históricos

Além do prédio do Iphan, Cristina Lodi gostaria de incentivar a visitação a outras edificações e paisagens cariocas tombadas pelo patrimônio histórico. Para a superintendente do Iphan, um roteiro de lugares especiais da cidade deveria incluir o Palácio Gustavo Capanema, na Rua da Imprensa, marco do modernismo; a Praça Quinze e suas imediações (com destaque para a recém restaurada Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé); o Solar do Visconde do Rio Seco, do século 19, localizado no antigo largo do Rossio, hoje Praça Tiradentes, que está sendo restaurado; e o Parque do Flamengo, onde está localizado o Museu de Arte Moderna, projetado por Afonso Eduardo Reidy.

Segundo Cristina Lodi, esses exemplos dão uma dimensão das diferentes fases de ocupação urbana da cidade: a do período colonial, na Praça Quinze; do período monárquico, na Praça Tiradentes; e do período republicano, representado pela sede do Iphan.

No caso Palácio Gustavo Capanema, que passará pela primeira grande reforma desde a sua inauguração, na década de 40, uma maior abertura ao público já está sendo estudada pela superintendente do Iphan. Desde janeiro, o órgão assumiu o condomínio do prédio, que é ocupado por instituições e departamentos vinculados ao Ministério da Cultura.

"Estamos fazendo um projeto de requalificação do Capanema. O Iphan vai instalar ali o Centro Lúcio Costa de Formação para Gestão do Patrimônio, junto com a Unesco. A ideia é que esta arquitetura se abra para o público externo cada vez mais, seja através de cursos, das bibliotecas ou da própria visitação", diz Cristina, que é mestre em Preservação Histórica pela Universidade Columbia.

Projetado por uma equipe composta por arquitetos como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Affonso Eduardo Reidy, com a consultoria do arquiteto franco-suíço Le Corbusier, o edifício representa um marco da arquitetura moderna, com suas janelas com brise-soleil (quebra-sol), que amenizam o calor no interior da construção e aproveitam o vento da da Baía de Guanabara. Os jardins do edifício são uma atração à parte: foram projetados por Burle Marx. O Palácio foi construído entre 1937 e 1943 e tombado pelo Iphan em 1948. (AG)

  • Visitante poderá conhecer as pinturas e elementos arquitetônicos do interior do prédio, como a escadaria

Recém-chegada ao cargo de superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no estado (Iphan) no Rio de Janeiro, a arquiteta e urbanista Cristina Lodi quer abrir a porta de sua "nova" casa à visitação. E não se trata de qualquer porta, mas de uma preciosidade, com 4,3 metros de altura, que exibe imagens náuticas e de espécies da vegetação brasileira entalhadas em madeira pelo português Manuel Ferreira Tunes. O endereço em questão também é nobre: o número 46 da Avenida Rio Branco, que, no início do século 20, abrigou a Companhia Docas de Santos, e onde está instalada a sede do instituto.

Com fachada de granito, o prédio esconde em seu interior delicadas pinturas no teto, frontões de estilos renascentista e barroco e outros elementos decorativos que poderão ser "visitados" a partir deste mês, quando será aberta a exposição "Edifício Docas de Santos". A mostra reunirá fotos, documentos e uma maquete que contam a história deste importante bem tombado da cidade. Há cinco anos o público não tinha oportunidade de ver uma mostra dentro do prédio.

"O edifício surge no contexto de abertura da Avenida Central, de implantação de um novo momento na cidade, voltado para a ideia da modernidade. Até então, o que se tinha era uma cidade de rua estreitas, muito li­­gada ao colonial. Com a abertura da Rio Branco, há um incentivo a construções de novas edificações por meio de concursos", diz Cris­tina Lodi, que assumiu o cargo de superintendente em janeiro.

O prédio da Companhia Docas foi projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo e construído entre 1905 e 1908. "Trata-se de um edifício eclético, bem aos moldes do que previa a arquitetura daquela fase. Um edifício com estrutura mista de alvenaria e ferro. A fachada é imponente, com cantaria nos dois primeiros pisos, e elaborados trabalhos de madeira, com destaque para a porta de entrada, de jacarandá, e as janelas com sacadas", diz Cristina.

Tombado pelo Iphan em 1978, o prédio tem cinco andares e é um dos últimos exemplares da primeira fase de construções da antiga Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco. Quem for à exposição, que será inaugurada dia 23 de março, vai saber, por exemplo, que a ideia de construir uma sede para docas na nova avenida foi do presidente Rodrigues Alves, que pediu aos dois empresários sócios da empresa, Cândido Gaffrée e Eduardo Palassin Guinle, que encomendassem um projeto.

A pedra fundamental do prédio, conta o texto de abertura da mostra, foi lançada em 1904, durante o início abertura da Avenida Central. O prédio foi concluído em 28 de janeiro de 1908, três anos após a inauguração da via. Segundo documentos da época, os materiais usados na obra chegaram ao Rio em vapores vindos de Nova York, Paris, Marselha, Hamburgo e Antuér­­pia, entre outras cidades.

Mostra

A exposição acontecerá no térreo, onde há duas lojas com largas vitrines de cristal, espaços que no passado eram usados por comerciantes. "Quando nos­­sos restauradores começaram a fazer a prospecção da pin­­tura, descobriram desenhos com alusão ao comércio e a produtos como o café, por exemplo. É um lugar lindo, que encanta em cada detalhe", diz a superintendente do Iphan, que também está reunindo o mo­­biliário de época, como escrivaninhas e cadeiras, para montar um cenário com uma típica sala daquele período.

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