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A Muralha da China, um dos principais pontos turísticos do país: símbolo maior de quando o país era dominado por dinastias centenárias e vivia isolado do restante do mundo | Wikimedia Commons/ Ahazan
A Muralha da China, um dos principais pontos turísticos do país: símbolo maior de quando o país era dominado por dinastias centenárias e vivia isolado do restante do mundo| Foto: Wikimedia Commons/ Ahazan

Longevidade

Dinastias duravam séculos

Diferentemente da concepção de império no Ocidente, no oriente as dinastias existiram por longos períodos (algumas duraram quase 300 anos) e os imperadores eram nomeados por parentesco ou por indicação. O imperador era a figura responsável por manter a ordem da natureza e da sociedade, por isso era chamado de imperador do céu. "É uma pessoa que deveria saber, por exemplo, que se plantasse muito arroz alimentaria muitas pessoas, porém destruiria as florestas. Por isso ele deveria saber administrar o bem-estar da população e o equilíbrio da natureza", afirma o historiador André da Silva Bueno. Se o imperador tinha um governo que não funcionava direito, ele era destituído, muitas vezes por grandes revoltas. Normalmente nessas ocasiões aconteciam as trocas de dinastias. As últimas dinastias chinesas foram de dois povos estrangeiros (Mongol e Manchu) e uma de chineses (Ming). A Ming é a mais conhecida, principalmente por causas dos vasos de cerâmica que produziu, extremamente finos e decorados com flores, que ficaram conhecidos no mundo inteiro. (PM)

  • Destroying Chinese War Junks, do inglês Edward Duncan : batalha da Guerra do Ópio

Não é de se estranhar que quase tudo o que usamos de eletrônico tem embaixo a escrita Made in China. O país, sozinho, é responsável por produzir 95% dos aparelhos de mp3, 75% dos brinquedos e 65% dos monitores que existem no mundo. Este forte comércio cria­­do com os outros países – que levou os chineses a ser a segunda po­­tência mundial – se deve à abertura econômica. Mas esta troca comercial está longe de fazer parte do que historicamente foi o país asiático. A China já esteve totalmente fechada ao mundo: no final da Dinastia Ming (1368-1644), os chineses se voltaram para si e só se abriram novamente, à força, quando tiveram de enfrentar o vício que massacrou boa parte da população. As duas guerras do ópio contra a Inglaterra (1839-1842 e 1856-1860) levaram à decadência o círculo imperial dinástico que inevitavelmente teve de dar boas-vindas para a república (outubro de 1911) – um novo formato político que esse ano completa um século."A China historicamente está pendulando sempre em se abrir e se fechar. Toda vez que ela consolida o poder, se fecha e, depois, se abre por causa das invasões", explica o professor de história das relações internacionais Severino Ca­­bral, membro do programa de pós-graduação em Estudos Es­­tra­­tégicos da Universidade Federal Fluminense. O que levou inicialmente a China a se fechar para o resto do mundo, ainda no período imperial, é um tema que divide opiniões.

Até o século 17, o país era soberano nas navegações e tinha produtos que despertavam o interesse do mundo inteiro (seda, chá, o pa­­pel, a bússola e a pólvora, que ha­­via criado). Os chineses sabiam que eram autossuficientes, pois tinham uma agricultura altamente especializada, mas mantinham o co­­mércio aberto porque ouro e pra­­ta sempre interessaram a qualquer nação. A decadência da Di­­nastia Ming e a ascensão da Di­­nastia Man­­chu (1644-1911), po­­rém, trouxe algumas novas características para o império chinês.

"A [dinastia] Manchu consolidou áreas da conquista mongol na China e configurou esta placa que vai da Manchúria até o Tibete, conhecida como China Interior. Era, agora, a China com maioria chi­­nesa", afirma Cabral. Como a Dinastia Manchu esteve mais centrada no domínio territorial, ficou baseada em uma elite de guerreiros e cavaleiros e não mais em navegadores. "Por isso o país teve es­­te elemento de repulsa com o restante do mundo", comenta Cabral.

Numa visão mais ampla, a China sempre teve dificuldades em lidar com os estrangeiros, se­­gundo o historiador André da Silva Bueno, da Faculdade Es­­­ta­­dual de Filosofia, Ciências e Le­­-­tras de União da Vitória. "Quem fecha a China é a última dinastia, que faz uma política terrível de segregação. Este império lança o país no atraso, bane as pesquisas, é contra o uso de armas de fogo [por temer que elas fossem usadas contra o imperador] e desestimula os chineses a me­­lhorar de vida."

A autossuficiência da China é outro fator que a levou o país a não se abrir para outros países, de acordo com o professor de História e Sociologia João Gilberto da Silva Carvalho, da Universidade Veiga de Almeida. "A China não precisava dos produtos produzidos no ocidente. Quando a Dinastia Manchu acaba com as grandes navegações, por causa dos altos custos, o país se fecha", diz Carvalho.

Abertura

No século 19, após o ópio (produzido na Índia) ter sido "clandestinamente" inserido na China e viciado boa parte da população, o país foi forçado a abrir seu mercado novamente depois de conflitos armados com a Inglaterra que ficaram conhecidos como as Guerras do Ópio. "O ópio não fazia parte do costumes chineses, mas foi introduzido e virou uma praga social que só fez sobrar os últimos resquícios do poder e cultura imperial", afirma Severino Cabral. A população estava viciada e o imperador proibiu a entrada de ópio no país. Enquanto isso, a Grã-Bretanha tentava abrir este comércio. O resultado foi uma série de revoltas.

Depois de ser forçado a se abrir comercialmente, o império chinês entrou em decadência e a república foi inevitável (em 1911). A China, conforme explica Cabral, chegou a se fechar novamente de 1966 a 1976, durante a Revolução Cultural (Mao Tsé-tung tentou reverter o fracasso da economia chinesa e isolou o país). Mas, com a volta da repressão em 1971, teve de se reabrir. O grande líder responsável pela abertura da China foi Deng Xiaoping, que sabia que, para o país se tornar poderoso e forte, deveria ter uma economia poderosa e forte. "Isso é impressionante. Em três décadas a China se tornou a segunda economia mundial, cresce 10% ao ano e hoje é um dos países que modera a crise deflagrada no mundo", explica Cabral. O que é difícil explicar, inclusive historicamente, é como um país segue preceitos socialistas e tem uma economia capitalista que beira a selvageria.

O grande símbolo separatista

A Grande Muralha da China é o símbolo mais característico do isolamento do país. A sul e a leste, a China é separada dos outros países por mar, a oeste pelas cordilheiras do Himalaia e a norte pelas muralhas que hoje têm 6,4 mil quilômetros. Em alguns trechos, as muralhas inicialmente foram feitas para separar divisas (funcionavam como uma espécie de aduana). Mas, quando o império unificou todo o país que estava segmentado, a muralha começa a ganhar mais vulto. Dife­rentes dinastias e construíram, unindo as partes já existentes. "É um perío­do em que o território tinha muitos chineses, mas não existia ainda a China. Para constituir esta unidade, foi feita a muralha. Tudo o que estava dentro dos muros era a China e o que estava fora era o resto", explica o historiador Severino Cabral. Impor­tante lembrar, porém, que a Grande Muralha nunca impediu que os outros povos atravessassem e conquistassem a China. "As muralhas são a exposição dos regimes mais fechados que a China teve", afirma o historiador André da Silva Bueno. É a marca da política isolacionista dos chineses.

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