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Confira fatores que indicam a probabilidade de fraudes envolvendo automóveis |
Confira fatores que indicam a probabilidade de fraudes envolvendo automóveis| Foto:

Investimento em prevenção traz retorno

A cada R$ 1 aplicado em prevenção, R$ 8 deixam de ser fraudados. A estimativa do Citi Brasil leva em conta os investimentos em ferramentas, em preparação e até a ligação aos clientes para confirmar transações. "As fraudes sempre estarão evoluindo com as novas tecnologias. É preciso pensar no custo-benefício", afirma o superintendente de risco do Citi Brasil, Ricardo Inada.

Lorenzo Parodi, especialista em investigações de fraudes corporativas, afirma que acompanhou casos em que R$ 1 impediu que mais de R$ 30 tenham desaparecido. "De forma geral, investir em prevenção de fraudes é excelente, apesar de muitos executivos não perceberem isso", diz.

Ao contrário do que acontece na maior parte dos casos envolvendo a polícia, a prevenção, nesse caso, é fundamental para inibir perdas. Um dos métodos mais usados pelos bancos é a avaliação do perfil de compras do cliente e autorização de transações quando segue o padrão de consumo. Caso a aquisição fuja da rotina, alguém liga para o cliente para confirmação. "Se a transação não for realizada pelo cliente, é barrada imediatamente. Esse serviço funciona 24 horas por dia, 7 dias na semana", relata Manuel Cruz, gerente de segurança externa de uma administradora de cartões de crédito.

Reação

Com dificuldades, polícia tenta reprimir estelionato

A falta de estrutura policial é um dos empecilhos para as grandes investigações em casos de fraudes financeiras e golpes aplicados no Paraná e no Brasil. Apesar da limitação, a polícia reprime as fraudes, segundo Lorenzo Parodi. "Por isso eu encorajo sempre toda vítima a fazer um bolhetim de ocorrência na polícia, deixando de lado aquele sentimento profundamente errado de que tal ato seria inútil", afirma.

No entanto, Parodi acredita que a polícia não tem equipamentos suficientes para combater os crimes e, sobretudo, o rápido avanço da tecnologia. "Falta também, em alguns casos, um pouco de agilidade, consequência da estrutura burocrática", explica.

Na opinião da superintendente da Delegacia de Estelionato de Curitiba, Marili Mendes, as investigações são prejudicadas pelas próprias vítimas em alguns momentos. "Existem situações em que não querem a polícia por perto", conta a policial. Ela diz que as empresas pensam que, ao avisar a polícia dos crimes, a repercussão sobre o episódio será negativa. A superintendente conta que a maioria das fraudes é detectada pela polícia. (VB e DR)

Novas vítimas para fraudes conhecidas

Fraudes pelo celular e o famoso golpe do bilhete premiado ainda estão entre os que fazem maior número de vítimas no Brasil, ao lado dos financiamentos feitos irregularmente com documentos de terceiros e abordagens diretas de estelionatários. Embora sejam de pequeno potencial, esses golpes atingem muitas vítimas. Não há, segundo especialistas, um perfil específico dos alvos e ninguém está livre de ser lesado.

Foi o que ocorreu com um dentista, morador de Curitiba, que prefere não ser identificado. O profissional havia enviado torpedos para uma promoção verdadeira, realizada durante a Copa do Mundo. No entanto, a resposta foi falsa, enviada por presidiários do Ceará.

O dentista recebeu mensagem que dizia: "Seu aparelho foi sorteado com televisor 42’ mais R$ 160 mil em ouro". O texto criou esperança e, ao mesmo tempo, desconfiança no profissional. Mesmo assim, ele ligou e falou com as pessoas que lhe enviaram o torpedo. "A lábia deles é de profissional. Eu até questionei eles sobre a possibilidade de ser um golpe, mas eles me falaram que eu teria de pedir desculpas depois e me apresentaram uma série de nomes de (supostos) gerentes de bancos", relata.

Durante a conversa, os criminosos explicaram que somente uma transferência realizada pelo dentista liberaria os recursos do prêmio. No dia seguinte, a vítima foi até o caixa onde fez o depósito de R$ 1,4 mil, sob a orientação dos presidiários que mantinham o contato telefônico. Ao fim do procedimento, ele percebeu que havia caído em um golpe.

Depois de fazer boletim de ocorrência na Delegacia de Estelionato, a vítima tenta reaver o dinheiro com o Banco do Brasil. A conta "laranja" em que fez o depósito estaria bloqueada na mesma instituição bancária. A assessoria de imprensa do Banco do Brasil informou que o dinheiro só pode ser devolvido após autorização judicial.

Cartões

Quando as fraudes estão no campo do cartão de crédito, a clonagem é campeã em denúncias. De acordo com Manuel Cruz, gerente de segurança externa de uma administradora de cartões de crédito, existem quatro fraudes comuns usando o equipamento. A clonagem ocorre em cerca 70% dos casos. Na segunda posição, fica o extravio, seguido pelo uso de nomes e endereços falsos para conseguir cartões verdadeiros e, por último, as transações pela internet. A assessoria de imprensa do BB informa que as vítimas de clonagens de cartões são ressarcidas pela instituição. (VB e DR)

As fraudes envolvendo cartões de crédito, de débito e o mercado de seguros custaram cerca de R$ 3 bi­­lhões ao país em 2009. A maior parte do prejuízo não se deve à ação de estelionatários ou criminosos profissionais, mas aos "fraudadores de ocasião", cidadãos que aproveitam situações como furtos para obter vantagens. Apesar de ser apenas uma amostra de todos os "pequenos delitos", esse número revela a conivência com a ilicitude no país.

Infrações ocorrem em todo o mundo, mas só no Brasil ganham o apelido de "jeitinho". O indi­­ví­­duo que comete esse tipo de ato tem pensamento imediatista e individualista e não consegue enxergar o prejuízo à nação.

Para o cientista político Alberto Carlos Almeida, autor do livro A cabeça do brasileiro, essas contravenções consideradas menores pela população se situam em uma "zona moral cinzenta" e podem passar de erradas a certas. "O jeitinho é um nome positivamente associado a burlar a regra. Essa nominação é uma característica do Brasil." O dano desse tipo de conduta é enorme e vai além de, por exemplo, pagar mais caro o seguro do carro. É um prejuízo à democracia do país. "Seguir a lei é um exercício democrático."

A pesquisa que embasa o livro de Almeida, a maior do gênero realizada no país, mostrou que 2/3 dos brasileiros já se valeram do jeitinho. "O primeiro caminho para mudar é a educação, porque é um comportamento cultural. O ou­­tro é as pessoas saberem que quem comete um delito será punido."

O advogado David Rechulski, que trabalha com fraudes há mais de duas décadas, afirma que o crime é ilegal por sua natureza e não pelo valor arrecadado. Por isso todas as infrações devem ser punidas com o mesmo rigor. "Ninguém acorda de manhã e decide ser criminoso. Todo desvio de conduta é um presságio para um crime maior", defende.

O pequeno fraudador inicia suas atividades porque tem uma sensação de impunidade e se acha mais esperto que os outros. Além disso, Rechulski argumenta que um dos principais requisitos para uma fraude bem-sucedida é a "confiabilidade" de quem comete o delito. "Ninguém desconfia dessa pessoa. A confiança é uma condição para enganar os demais."

Ponta do iceberg

De acordo com dados da Superin­tendência de Seguros Privados (Susep), os acidentes envolvendo seguros movimentaram R$ 22 bi­­lhões em 2009 e as estimativas da Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados (Fenaseg) é de que 10% dos eventos foram fraudados. "Isso é apenas o que suspeitamos", diz Júlio Avellar, superintendente da Fenaseg.

O real valor dos prejuízos ao país é desconhecido. Avellar compara a descoberta de fraudes no mercado de seguros a um iceberg: é possível enxergar sua ponta sobre a água, mas nunca se sabe o quanto está submerso. "Há quem fale em 20 ou 30% de fraudes do total coberto, mas nós trabalhamos com 10%", diz. Criador do site fraudes.org e especialista em investigações de fraudes corporativas, Lorenzo Parodi afirma que, quando se tenta mensurar o problema, existe o risco de uma análise conservadora, que fuja da realidade.

De acordo com Avellar, a permissividade do brasileiro é culpada pelas fraudes. "É um pouco da ‘Lei de Gerson’, as pessoas consideram normal a falta de educação. Já que precisa pintar uma porta, vou aproveitar para pintar o carro inteiro", diz. Os "oportunistas" respondem, no mercado de seguros, pelo maior índice de fraudes, mesmo que soneguem valores menores. "É uma questão muito séria porque é de educação e não de polícia", opina Avellar. O egoísmo repercute no valor dos seguros, um dos únicos serviços pagos para não ser usado.

Na avaliação de Avellar, os cidadãos percebem o tamanho do risco e levam em conta as irregularidades quando fecham uma negociação. "O jovem não tem interesse em pagar caro no seguro de vida para subsidiar a pessoa mais velha. E o idoso não quer subsidiar o automóvel para o mais jovem. E ninguém quer financiar o mal-pagador, o oportunista." Mas a "malandragem" na área não é mérito brasileiro: uma revista especializada indicou fatores que indicam probabilidade de fraude no seguro de carros no Canadá, um dos países mais ricos do mundo.

Parodi atribui a ação dos fraudadores de momento a duas causas: ganância e necessidade. "Existem várias alavancas que, quando oportunamente exploradas, facilitam a ação dos golpistas", diz.

Cartões

Os cartões de débito e crédito apresentam perdas menores que o mercado de seguros. Estima-se que 0,016% do total de transações bancárias seja fraudada. Em 2009, foram movimentados R$ 444 bi­­lhões em transações com o cartão. Se o índice for seguido, R$ 710 milhões teriam sido perdidos. Os prejuízos, segundo os bancos, são cada vez menores – o Banco do Brasil diz que seu índice é de 0,07%. A instalação dos chips é uma das principais razões para a queda. "O contato do chip ainda não foi quebrado, garantindo que aquele cartão é válido. A tarja pode ser copiada, mas ele não", diz Eduardo Con­dé, gerente-executivo da Diretoria de Cartões do Banco do Brasil.

O superintendente de risco do Citi Brasil, Ricardo Inada, afirma que a preocupação principal é com a ação das quadrilhas especializadas. "A fraude vem se especializando e, muitas vezes, existe a ação do crime organizado nesses golpes", diz. A prevenção dos bancos está em uma linha tênue: é preciso garantir a segurança do usuário sem incomodá-lo. "A intenção é proteger o cliente e o artigo financeiro da instituição. Se impeço transações duvidosas, reduzo os ganhos e aborreço os usuários. Se autorizo demasiadamente, o cliente pode sofrer golpes. A fraude tem essa dualidade", explica o vice-presidente de gerenciamento de risco do Citi Brasil, Victor Loyola.

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