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As mãos de William, 19 anos, tremem enquanto ele procura um número em seu telefone celular. Tudo no rapaz funciona na defensiva. O caminhar é rápido, curvado, como que em auto-defesa. O olhar não permanece fixo, está sempre à procura. As palavras são ditas de forma lenta, cuidadosa.

Há algumas semanas ele passou a receber ligações, de diferentes pessoas, ameaçando-o de morte. "Eles falam que se me encontrarem é para me matar", explica.

Os números são reservados, não aparecem no identificador de chamadas. Embora não saiba quem o ameaça, William automaticamente relaciona as ligações com a agressão que sofreu no ano passado.

Em 18 de setembro de 2005, quando saía de uma boate gay, o rapaz foi agredido por um grupo de skinheads, próximo à Praça Osório, Centro de Curitiba.

Homossexual, negro e andando sozinho, William foi atingido por um golpe de tesoura e teve o intestino perfurado. Passou por uma cirurgia, não corre mais riscos, mas está recebendo atendimento psicológico diariamente em um hospital de Curitiba.

Desde que foi agredido, o rapaz tentou suicidar-se três vezes. Sete agressores foram detidos pelo Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) em outubro do ano passado. Ficaram cerca de cinco meses presos, e atualmente respondem ao processo, que tramita na 9.ª Vara Criminal de Curitiba, em liberdade.

Dois deles, segundo William, moram perto de sua casa. "Mesmo na audiência, eles ficavam me olhando. Queriam me intimidar", diz o rapaz, que ainda não comunicou as ameaças à polícia. Além dos sete agressores, outras seis pessoas foram presas, acusadas de integrar o bando. Eles respondem por racismo e formação de quadrilha.

Skinheads

Os nazis, como eles se definem, são uma das correntes do movimento skinhead (cabeças raspadas, em inglês). Ao contrário de outros grupos, eles afirmam ser "ultranacionalistas" e pregam o ódio a judeus, negros, homossexuais e grupos rivais com orientação política de esquerda, ou mesmo anarquistas. O movimento skinhead teve sua origem no fim dos anos 60 na Inglaterra, entre os jovens da classe operária, e inicialmente não tinha conotação política.

Os nazis defendem o emprego da força e da violência. Em 2005, adesivos com mensagens racistas e homofóbicas começaram a aparecer em Curitiba. Junto ao grupo que agrediu William, no ano passado, foram apreendidos materiais de propaganda, adesivos, bandeiras com a cruz suástica, exemplares do livro Mein Kempf ("Minha Luta"), de Adolph Hitler, e fotos dos militantes com o braço direito levantado, reproduzindo a tradicional saudação nazista.

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