A jovem designer Estelle Flores, 22 anos, mora com a mãe e a avó, terminou a faculdade no ano passado e nem passa pela cabeça dela arrumar um emprego. Engana-se quem pensa que Estelle fica de pernas pro ar o dia todo ou apenas realiza tarefas domésticas. Dentro do quarto, a partir de alguns cliques e quase sempre pela internet, ela faz contatos para trabalhos de artes visuais e produções musicais. "Não pretendo arrumar um emprego. Já experimentei trabalhar com carteira assinada e achei horrível. Não é isso que quero para mim", diz.
Enquanto pode ser mantida financeiramente pela mãe, a designer Gláucia Binda, 42 anos, Estelle aproveita para tentar conseguir reconhecimento do mercado. "Cerca de 80% do meu trabalho não é pago. Estou aproveitando para conhecer pessoas e fazer contatos. O que ganho paga apenas as minhas coisas pessoais. Tenho de aproveitar a oportunidade que minha mãe me proporciona por eu morar com ela", diz.
A história de vida de Estelle não é exceção. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (Pnad), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em 2009, cerca de 5,5 milhões de jovens brasileiros com idade entre 18 e 24 anos não trabalhavam nem estudavam, a maioria do sexo feminino 1.760.183 são homens e 3.765.330, mulheres.
Mesmo um pouco mais velha do que a faixa etária apontada pela pesquisa, Letícia Larcher Carvalho, 26 anos, ainda mora com os pais. Mas a sua vida não inclui a expressão "falta do que fazer". Letícia está com sua carreira profissional de acordo com o que planejou. Terminou a faculdade em 2006, depois fez mestrado e irá tentar o doutorado só em junho de 2011. "Até arrumei um emprego numa importadora neste ano. Mas larguei porque não era o que eu queria. Estou esperando as coisas acontecerem para eu voltar a estudar", diz. A espera é por um aparelho no laboratório da universidade que irá possibilitar que Letícia retome seus estudos para tentar o doutorado. "Não tenho de me virar, me sustentar e isso é uma oportunidade para que eu corra atrás do meu sonho", diz.
Mas a situação não é tão confortável para quem está do outro lado. Gláucia, a mãe de Estelle, diz que se preocupa com o futuro da filha. "O fato de ela não ter emprego nem estabilidade me deixa apreensiva", diz. Ao mesmo tempo, Gláucia diz acreditar na força de trabalho, no talento e sonho da filha. "Ela tem tudo para dar certo com a bagagem e a experiência que ela está construindo, pois, mesmo sem emprego, consegue produzir de maneira diferenciada para o mercado", ressalta.
Onipresentes
Na opinião do especialista em estudos do ócio e de gestão do tempo livre, o argentino Pablo Heinig, para entender estes jovens é preciso fazer uma análise da revolução da comunicação, que se deu nos últimos 15 anos. "O espaço e o tempo mudaram. As pessoas passaram a ser onipresentes. O mundo virtual traz a necessidade de respostas imediatas. Hoje as coisas demoram apenas um clique", diz.
O argentino analisa que o mercado não se preparou para receber esta geração. "As empresas e universidades não estão acostumadas com esta dinâmica e não sabem como fazem para atrair estas pessoas", ressalta. Heing ainda afirma que é o momento de a sociedade repensar estruturas organizacionais tradicionais. "É preciso nutrir esta geração que pode ser extremamente produtiva com propostas positivas", finaliza.
Justiça suspende norma do CFM que proíbe uso de cloreto de potássio em aborto
Relatório americano expõe falta de transparência e escala da censura no Brasil
STF estabalece regras para cadastro sobre condenados por crimes sexuais contra crianças
Órgão do TSE criado para monitorar redes sociais deu suporte a decisões para derrubar perfis
Deixe sua opinião