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 | Daniel Castellano/ Arquivo Gazeta do Povo
| Foto: Daniel Castellano/ Arquivo Gazeta do Povo
  • Juril na casa em que vivia e que lhe servia tanto como acervo das memórias quanto como oficina para a atividade jornalística

A ser verdade – como queria Carlyle – que "uma vida bem escrita é quase tão rara quanto uma vida bem vivida", seria impossível nos limites da crônica ligeira de jornal retratar a grandeza de uma vida como a de Juril De Plácido e Silva Carnasciali e do amor e da admiração que soube inspirar. Seria também impossível expressar a dor que nos causa sua partida. De tudo que Juril viveu em sua juventude com os pais, colheu virtudes que desenvolveu e praticou vida afora – o amor à terra que a viu crescer e fazer-se imensa no conhecimento e na experiência, o inabalável senso de justiça, o cultivo dos bens do espírito, a vocação quase sacerdotal para o ensino, a generosidade filantrópica, a franqueza – e que franqueza – o amor às letras e ao jornalismo.

Casada com Arnaldo Westermam Carnasciali, juiz auditor da Justiça Militar, Juril teve uma única filha, a advogada Julieta, inteligente, carinhosa e amiga, e três netos: Marcela, que aguarda a chegada do primeiro filho, e os gêmeos Gisela e Humberto.

Na vida profissional, Juril fez um jornalismo idôneo e solidário, empenhando-se em resgatar os costumes e valores da sociedade e em promover o bem comum. Formada em Ciências Econômicas, foi também professora universitária e empresária. No jornalismo, começou na Revista Guaíra e por quase seis décadas foi titular da coluna dominical "O QUE SE PASSA NA SOCIEDADE", publicada nesta Gazeta do Povo, como memória viva da história do Paraná. A coluna não se refugiava em um moralismo falso e hipócrita, mas em sólidas bases editoriais, com visão sóbria e equilibrada que lhe assegurava o respeito público. Sua coluna era referência. Em algumas oportunidades tive o privilégio de escrevê-la, quando das viagens de Juril ao exterior. Recebia dela na volta, elogios, muitas broncas e inúmeros ensinamentos. Por tê-la acompanhado, sou testemunha de que a mesma postura, boa vontade e simplicidade eram dedicadas por ela a um humilde ascensorista ou a alguma autoridade.

Tive eu a felicidade de ser "adotada" por esta pequena grande mulher. Era irrequieta, estudiosa, polêmica, respeitada, doce, barulhenta, elegante, oradora ímpar, dona de texto imbatível, elogiava e alfinetava com uma sutileza de enrubescer – e quantas vezes acompanhando-a passei por isso!

Nossa história começou cedo, quando eu, menina, compartilhava com ela, com meus avós Hilda e Napoleão Teixeira e Haydée e João Kracik, além de meus pais, João Régis Fassbender Teixeira, que tornou-se advogado – e dos bons – pelas mãos de Oscar Joseph De Plácido e Silva, e de sua Julieta, pais de Juril.

Das coisas ditas, escritas e vividas, me lembro do que me ensinava ela nas horas difíceis. Dizia: "Peça, minha filha: ´Concedei-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar. Coragem para modificar todas aquelas que forem possíveis. E sabedoria para distinguir umas das outras´". Lembro-me de quando ao término de meu curso de Letras na Universidade Federal do Paraná, ouvi um solene sermão para cursar Jornalismo e dela ainda ouvi: "A tinta de imprensa é virótica, o jornalismo opção e o magistério nossa vocação. Prossiga, filha querida, sabendo que com estas características, talento e escolhas, dificilmente terá ao seu lado um parceiro." Era a profecia de uma Juril por vezes com a cabeça nas nuvens, mas com os pés sempre bem plantados no chão da realidade. Prosseguimos, ela e eu.

Essa Juril firme, sem meias palavras e combativa era também profundamente doce e solidária. Perdi a conta das vezes que busquei seu ombro para chorar, busquei suas palavras, sua experiência, sua orientação. E ela mostrava-me sempre, alternativas de caminhos, outras maneiras de ver e avaliar as situações, pois era sabedora de que por mim mesma deveria aprender e, portanto, não estabelecia uma diretriz inalterável, mas balizava o caminho com a assertiva: "Regininha minha filha – era assim que carinhosamente me chamava –, suas vitórias ocorrerão por certo na medida de sua fé, de sua determinação e de suas conquistas, no sorriso de seus filhos, no tamanho da saudade que você deixa no seu dia a dia, na construção do seu trabalho, que É e SERÁ sempre maior e mais importante que tudo, inclusive o amor. Pois só ele – o trabalho – vai lhe conferir dignidade suficiente para amar e ser amada, um dia, de fato e de direito".

A realização de seus sonhos, alguns poucos concretizamos juntas, entre eles, a obra De Plácido e Silva o Iluminado, biografia em que deixa clara sua extrema admiração por ele por ter escolhido o Paraná para viver, trabalhar e multiplicar.

Fizemos juntas também, "A vida e a obra de Graciete Salmon", livro publicado com recorde de vendas, cuja renda ela destinou integralmente às obras filantrópicas que conduzia. Ficará na minha memória e na de todos que a conheceram os exemplos edificantes de civismo, amor e bondade.

Desejo assim, Julietinha e familiares, tentar dizer a vocês, como filha e neta que também fui, que por vezes nesta passagem pela vida é preciso pensar maior, mais alto e compreender um poder superior que determina trilhas e caminhos, tempos, encontros e desencontros, inícios, meios e fins. Contrariando nossa vontade, terminou para ela a existência terrena em que foi honrada e vitoriosa como mulher, filha, mãe, sogra, avó e ser humano. Juril voltou ao Criador. E é por isso que quero lembrar-lhes que pessoas queridas como ela não morrem – não mesmo - enquanto lembradas, na prece, na saudade, na lágrima,na imagem, na doçura e, sobretudo, no exemplo.

Estamos todos abalados, atônitos e ainda incrédulos com a dureza desta realidade. Porém é necessária a crença no Poder Superior que nos dá algumas certezas:

A morte não extingue; transforma. Não aniquila; renova. Não divorcia; aproxima.

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