RIO DE JANEIRO - A estilista Lenny Niemeyer mora em frente à Lagoa Rodrigo de Freitas. No passado, não se livrava do cheiro de peixe morto nem de janelas fechadas. Hoje, atravessa a Avenida Epitácio Pessoa vestida com uma roupa de borracha e, sem medo da poluição, ziguezagueia na água, em cima de um esqui. Ela é parte de uma tribo de esquiadores, wakeboarders e remadores que intui, pelo cheiro e pela transparência da água, o que o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) confirma com análises: a Lagoa jamais esteve em condições tão boas. Desde 2006, o índice de coliformes fecais que mede a balneabilidade caiu 92% (de 16 mil para 1,3 mil por litro). Atualmente, está a apenas 300 coliformes do padrão próprio para o banho. E, em muitas análises, o número encontrado é equivalente ao de praias limpas do Rio. Outro sinal claro é o fim das grandes mortandades de peixes, que não ocorrem desde o verão de 2002.
Por trás da boa-nova, está uma série de intervenções feitas na última década, como a construção da galeria de cintura, a drenagem constante e a reforma das elevatórias de esgoto que circundam o espelho dágua. As medidas provocaram uma drástica redução de carga orgânica despejada.
A gerente de Qualidade Ambiental do Inea, Fátima Soares, confirma a evolução. "Pelo enquadramento do Inea, a água ainda serve apenas ao contato secundário [esportes náuticos, como iatismo], explica. "Mas, assim que tivermos dois anos seguidos abaixo de mil coliformes, vamos anunciar que ela serve ao contato primário [banho]."
Fátima esclarece que o nível de coliformes é importante para o banho, mas não é o único indicador da qualidade da água. Com o lodo depositado no fundo da Lagoa e alguns pontos de lançamento de esgoto clandestino ainda existentes, há nutrientes que provocam fenômenos esporádicos de explosão de algas.
Para a gerente, o projeto de ligar a Lagoa ao mar por dutos, via canal do Jardim de Alah parceria público-privada com o empresário Eike Batista , pode equilibrar definitivamente os indicadores do cartão-postal.
Há, no entanto, quem tenha sentimentos contraditórios em relação à diminuição de matéria orgânica. Ricardo Matovani, coordenador das entidades de pesca e aquicultura do estado e expresidente da colônia local, dá o tom do dilema pesqueiro. "A redução de matéria orgânica, por outro lado, encolheu em 70% o volume do pescado na região. Há menos esgoto e, com isso, menos peixe. Esperamos que as melhorias futuras na Lagoa mudem esse cenário."
Por trás da água menos turva, há ações de estado e município. A Fundação Rio-Águas tem feito dragagens sistemáticas e operado as comportas da rede de canais da Lagoa. A Cedae também tem feito investimentos na região o mais importante foi a reforma das oito elevatórias de esgoto do entorno.
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