• Carregando...
Para Cristina, que vende canudos com e sem embalagem, o aspecto econômico é que vai ditar se a lei vai “pegar” ou não | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Para Cristina, que vende canudos com e sem embalagem, o aspecto econômico é que vai ditar se a lei vai “pegar” ou não| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

"Pode ter sido um tiro pela culatra"

A questão do uso de embalagens para acondicionar canudos e guardanapos é analisada pelo doutor em Meio Ambiente Edson Struminski como algo a ser visto além do aspecto de saúde pública. Ele diz acreditar que a intenção do deputado, quando apresentou a proposta, realmente tenha sido a preocupação com a saúde do consumidor, mas lembra que o volume de lixo produzido com tal medida também faz parte da saúde pública. "Toda vez que se cria uma obrigatoriedade tem que se analisar a conseqüência. Pode ter sido um tiro pela culatra." O plástico utilizado nas embalagens será mais um resíduo a ser administrado pela cidade e só a educação e mudança de hábitos do consumidor poderão amenizar o comprometimento ambiental, alerta o ambientalista. Ele lembra que os rios, aterros e lixões acabam sendo o destino final do material descartável. "Do ponto de vista do consumidor, pode ser saudável, mas do ponto de vista ambiental, acredito ser duvidoso."

Os comerciantes têm até o fim de dezembro para se adaptar à nova lei dos canudinhos e guardanapos. Duas semanas após a publicação no Diário Oficial da União, a viabilidade da lei e as adaptações necessárias têm causado polêmica. De número 15.952, a lei foi sancionada pelo governador Roberto Requião no dia 24 de setembro, determinando que restaurantes, bares, lanchonetes, quiosques, ambulantes e similares usem canudos e guardanapos de papel acondicionados individualmente em embalagens oxibiodegradáveis.

O diretor da Associação Brasileira dos Bares e Casas Noturnas, Fábio Aguayo, lamenta. Para ele, a lei vem na contramão da luta ambiental, com o aumento da sujeira na cidade. Além disso, diz, trará um acréscimo de custo que deverá ser de 10 a 20%. "É mais fácil o comércio se auto-regular do que aumentar a sujeira. O ônus é muito maior", lembra. Aguayo fala que recebeu algumas mensagens de repúdio, alertando sobre o aspecto ambiental e quanto ao custo. Em uma delas, a proprietária de um bar lembra que o público faz suas escolhas a partir das suas possibilidades financeiras. "Ou entra em um estabelecimento aceitando os serviços e pagando um preço mais alto, ou escolhe um que seja compatível com o bolso."

Economia

A lei é de autoria do deputado Reinhold Stephanes Júnior (PMDB) e surgiu com o objetivo de conservar a saúde do consumidor. Ele acredita que o mercado se adapte em dois ou três meses. Stephanes Júnior recorda que 20% dos estabelecimentos comerciais já usam guardanapos em embalagens individuais e 60% adotam o canudinho acondicionado.

Ao contrário dos proprietários de estabelecimentos, o deputado acredita que guardanapos e canudos embalados devem trazer economia aos estebelecimentos. "O consumo será menor, gerando um gasto menor, conseqüentemente", diz. Ele lembra que ninguém vai exigir que o comércio jogue fora o material que tem em estoque. "O processo de adaptação, com certeza, será lento. Mas acredito que dentro de um ano o mercado já esteja adaptado".

A vendedora Cristina Filgueira acha que o aspecto econômico irá dizer se o projeto será ou não viável. Na prateleira da distribuidora em que trabalha no centro de Curitiba, os canudos embalados individualmente podem ser encontrados com facilidade. O produto vem em um pacote com 100 unidades, a um custo de R$ 1,80. Produzida em Londrina, a embalagem é de papel – o mesmo utilizado nos cigarros – porque é mais higiênica, por facilitar a transpiração, lembra o vendedor Sérgio Castorino. Na lei, o pedido é que venham em plástico oxibiodegradável, mas o deputado argumenta que o texto deverá sofrer mudanças nesse aspecto.

Os guardanapos de papel, porém, têm de ser comprados direto na indústria ou de um distribuidor maior. No Paraná, a empresa Nevada Guardanapos é fabricante e fornecedora exclusiva de uma grande rede de fast food. Para o diretor da empresa, Hildebrando Tuca Reinert, a procura ainda está tímida, mas com certeza haverá mudanças nos próximos meses. No entanto, é possível perceber a migração do cliente de produto comum para o guardanapo individualizado. "A nova prática vai gerar uma economia para o comerciante de 30%, porque o desperdício vai diminuir", garante. Por enquanto, as embalagens ainda são distribuídas em uma película de polipropileno. Mas ele garante que a indústria irá se adaptar às exigências. O custo no distribuidor de uma caixa com 2 mil pacotes, com dois guardanapos em cada embalagem, chega a R$ 126, cerca de dez vezes mais que os sem embalagens.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]