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Sesp está se adaptando à nova exigência

Em nota oficial, a Secretaria Estadual da Segurança Pública (Sesp) informou que tanto o Centro de Assistência Psicossocial da Polícia Civil (CAP) quanto o Sistema de Assistência Social da Polícia Militar (SAS) já estão se adaptando às exigências da nova lei.

Segundo a Sesp, as polícias Civil e Militar já atuam na área de saúde mental. "Apenas em 2006, o CAP atendeu 3.791 pessoas, entre policiais civis e seus familiares, além de fazer o acompanhamento dos policiais em serviços sociais, psicológicos e médicos sempre que tal encaminhamento se faz necessário. O SAS ainda atendeu 13.064 pessoas, entre policiais e seus familiares no ano passado, oferecendo todo o suporte necessário", informou a nota. As duas corporações também trabalham com prevenção em palestras, terapia familiar, entre outros trabalhos de valorização do profissional.

Segundo o tenente-coronel Jorge Costa Filho, chefe da comunicação social da PM, para fazer os exames psiquiátricos é preciso antes prever no orçamento a fonte de recursos. Por isso, a lei só deve ter efeito a partir de 2008. Além disso, "a Polícia Militar não pode pegar estagiários para substituir quem está em tratamento", afirmou. Já na Polícia Civil as adaptações devem ocorrer ao longo do ano. Segundo o perito criminal e psicólogo Menir Antônio Barbosa Zaitter, coordenador do centro psicossocial, a instituição já orienta, informa e atende seus servidores no aspecto saúde. (JNB)

Com 34 anos de idade e há 16 trabalhando como policial, Júlio César (nome fictício) descobriu há três anos que sofre de transtorno bipolar. A doença, que alterna picos de euforia e depressão, foi diagnosticada um ano depois dos primeiros sintomas aparecerem, mas o policial só foi afastado das funções há 24 meses. Por dois anos, Júlio César trabalhou doente, encarando situações de risco. Ele conta que se irritava por qualquer coisa. "Eu chegava para atender uma briga de casal, alguém falava algo, e eu já enfiava a mão no ouvido", lembra.

A situação poderia ter sido detectada bem antes caso policiais civis e militares fossem submetidos uma vez por ano a exames psiquiátricos. A lei que tornou as avaliações obrigatórias está em vigor desde o dia 15 de janeiro, mas a sua implantação será gradativa. Deve demorar pelo menos um ano, porque depende de previsão orçamentária, o que só será possível no ano que vem.

Com base na própria experiência, o delegado Mário Sérgio Bradock apresentou o projeto de lei quando era deputado estadual. O exame psiquiátrico obrigatório para policiais na ativa deverá ser feito por uma equipe multidisciplinar, com médico, psicólogo e assistente social. A avaliação será anual e o policial doente será afastado por três meses para tratamento. Quem não se recuperar será encaminhado à readaptação de função ou à aposentadoria por invalidez.

"Muitos policiais trabalham dez, 15 anos e não passam por nenhuma avaliação psicológica. Um erro cometido numa operação pode matar alguém. E o estresse pode levar a erros", comenta Bradock.

Exemplo

Para o delegado, o modelo ideal é o dos Estados Unidos e Canadá, onde os exames são obrigatórios e as mortes por bala perdida praticamente não existem. "Já pensou o cara estar trabalhando há 20 anos e descobre-se que ele é louco. Tem exemplos práticos disso. Há gente com laudo psiquiátrico que ficou por 20 anos tentando se aposentar. O estado alega que falta efetivo, mas não se pode deixar a pessoa com problema na ativa", afirma Bradock.

De acordo com especialistas, profissionais propensos a ter estresse elevado precisam ser avaliados constantemente. Sejam eles policiais, professores, jornalistas ou advogados, entre outros que mantêm contato direto com o público. "Não basta apenas fazer o exame anual", afirma o psicólogo Márcio César Ferraciolli, professor-substituto da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da Faculdade Dom Bosco, e pesquisador na área de saúde do trabalhador. "Uma coisa é o policial fazer uma avaliação por ano, outra é ter apoio o ano todo", aponta.

Riscos

Já o médico psiquiatra Osmar Ratzke, presidente da Sociedade Paranaense de Psiquiatria e professor da UFPR, lembra que a saúde mental do policial é essencial para o bom desempenho da função. "Ele tem de ser capaz de controlar impulsos e ter reações rápidas para enfrentar situações de conflito", disse. O especialista destaca que a saúde mental é fundamental para quem lida com armas. "O exame precisa ser feito na admissão e periodicamente." No entanto, para ele o prazo de 12 meses é ideal para fazer as avaliações.

Segundo Ratzke, o risco certo na profissão de policial é ter uma resposta exagerada numa ameaça, a chamada "super-reação". "O policial acaba atirando antes de perguntar. Ele se torna rápido demais, sem conseguir controlar um impulso." Ele lembrou ainda de outras situações, como a depressão grave, fruto do convívio diário com situações negativas, como a morte de um colega, ou ao se deparar com casos graves do cotidiano.

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