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Campinas – Uma pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) revela que o leite de vaca consumido pelo brasileiro possui defeitos de sabor considerados graves em outros países e que seu gosto é tido como "pobre" e "desagradável". Para a professora e veterinária Georgiana Sávia Brito Aires, autora da pesquisa, não foi surpresa a revelação de adulteração do produto. "É um absurdo o que acontece com a qualidade do leite brasileiro", afirma.

A pesquisadora diz que, nos Estados Unidos, o julgamento de sabor é feito há mais de cem anos. No Brasil, não há essa prática. Ela avaliou amostras de leite consumidos em países da Europa, nos EUA e no Canadá e as comparou com o sabor do produto brasileiro por análises físico-química, microbiológica e sensorial.

Quinze degustadores de leite foram treinados por ela para avaliar os produtos. As dez principais marcas nacionais foram comparadas. Em todas foi constatado algum tipo de "defeito de sabor". O termo é usado internacionalmente. Para a avaliação, foi utilizada uma escala norte-americana de 21 tipos de defeitos de sabor.

"As indústrias brasileiras não têm um especialista degustador de leite para avaliar os defeitos de sabor. No exterior, o sabor tem peso de quase metade na qualidade do produto", diz a pesquisadora.

Segundo os resultados do estudo, alguns leites de caixinha, os esterilizados UHT, possuem um sabor de "cozido" ou de "aquecimento intenso".

No leite pasteurizado, que, na maioria das vezes, é embalado em saco plástico, o que pode deixar o sabor desagradável é a oxidação pela exposição à luz. Georgiana diz que outros defeitos de sabor constatados são provocados pela alimentação inadequada da vaca, doenças, falta de condições de higiene, entre outros motivos.

O presidente da Associação Brasileira de Produtores de Leite, Jorge Rubez, diz que o gosto do leite brasileiro é diferente devido ao processamento, que não é o mesmo realizado em outros países.

Especialistas divergem se a adição de soda cáustica e água oxigenada no leite é, na prática, um hábito ou representa apenas casos pontuais. Num ponto, porém, eles concordam: a aplicação desses produtos, nocivos à saúde, é totalmente proibida em qualquer quantidade.

A discussão cresceu na semana passada, após a prisão de diretores e funcionários de duas cooperativas mineiras, acusadas de fraudar o leite com a adição desses produtos. A Anvisa interditou sete lotes de leite das empresas Parmalat, Calu e Centenário por suspeitas de estarem contaminados com soda cáustica. "Ocorrem fraudes, nós sabemos, mas elas são exceção, não condizem com a realidade da produção hoje no Brasil", afirmou o médico veterinário Leorges Moraes da Fonseca, especialista em leite e derivados. Ele coordena o Laboratório de Análise da Qualidade do Leite da Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Segundo ele, há 30 anos, quando a tecnologia na produção de leite era primária, pesquisadores começaram a cogitar o uso desses produtos como conservantes. "Mas foram experiências não-oficiais e viu-se que eram paliativas: o que precisava mesmo é reformular a cadeia produtiva", disse.

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