Em Antonina, carnaval é coisa de família: Em uma cidade movida à alegria, pode até acontecer de uma geração tentar pular a tradição, mas escapar de brincar o carnaval pela vida toda nem sempre é possível a um antoninense. Na casa de Ângela Maria Barreto Barbosa, 56 anos, os filhos nunca foram muito interessados pela festa, mas o único neto, Davi Miguel Barreto (foto), 6 anos, ensaia seguir os passos da avó e levará a mãe para a folia. “Não tem como deixar sozinho, vou sair junto”, conta a mãe, Vanessa Barreto| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

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Auto do Boi Mamão, na rua da praia de Paranaguá, às 16 horas. Desfile dos quatro blocos de Antonina, com abertura do Boi Barroso, a partir das 21 horas.

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Ele tem diversos nomes pelo Brasil, elementos típicos de cada região e um sentido comum: retratar uma história de ressurreição. Seja Bumba Meu Boi, Boi Bumbá, Boi de Mamão, Boi Barroso ou Boi do Norte, a origem do auto, tradicionalmente apresentado no carnaval, é a mesma. "Era uma forma de os jesuítas explicarem a ressurreição de Cristo para os índios, que acreditavam que um animal poderia voltar à vida, mas um ser humano não", explica Eloir Paulo Ribeiro de Jesus, o Poro, do Grupo Mandicuera, que apresenta o Boi de Mamão nesta tarde, em Paranaguá.

Responsável por cenários e fantasias, Poro conta que a ideia do grupo é ensinar a tradição para as crianças e adolescentes da Ilha de Valadares. "Esse universo caiçara estava morrendo. Como não está na mídia, a cultura popular vai se perdendo. Mas somos uma cidade que tem ritmo – o fandango –, uma culinária típica e queremos preservar isso." Junto com Aorélio Domingues, Poro coordena um grupo de 25 pessoas que já apresentou o Boi de Mamão até em Macapá (AP). O auto dura até 1h30, dependendo da interação do público.

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A moral de ressurgimento por trás das diversas versões da história do boi tem um significado especial para o pessoal que organiza o Boi Barroso em Antonina, cuja apresentação está marcada para esta noite. Criado no início do século passado, o bloco ficou adormecido por mais de cinco décadas até ressuscitar pelas mãos da família Pinto, sinônimo de carnaval na cidade.

À frente da confecção de 600 fantasias, trabalho que demanda um ano inteiro de dedicação, Vera Pinto do Nascimento coordena os preparativos e atende quem chega ao número 444 da Rua Dr. Justino de Mello em busca de fantasia. Nas quatro noites que antecedem o carnaval, não há tempo para descanso. "Não temos verba de ninguém, então, muita coisa fica para a última hora", conta.

Embora grande parte dos foliões seja da cidade, com certo comprometimento com o bloco, também há espaço para turistas. Enquanto tiver fantasia disponível, é possível participar da festa. "Não tem preço, pedimos uma colaboração. Todo o dinheiro já foi empregado em fio, elástico, costureira e temos que acertar depois", diz Vera.