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Indígenas protestam em Brasília contra fazendeiros que se dizem donos das terras. Situação se agravou ontem, quando 150 índios invadiram a sede da Funai | AndtoniCruz/ABr
Indígenas protestam em Brasília contra fazendeiros que se dizem donos das terras. Situação se agravou ontem, quando 150 índios invadiram a sede da Funai| Foto: AndtoniCruz/ABr

Tensão

Recusados por ministro, índios invadem sede da Funai em Brasília

Folhapress

Após não serem recebidos pelo ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência), um grupo de aproximadamente 150 indígenas invadiu na tarde de ontem a sede da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Brasília.

O ato, pacífico, é realizado por indígenas de quatro etnias (arara, xipaia, caiapó e mundurucu), prejudicadas pelas hidrelétricas de Belo Monte e do rio Tapajós, no Pará. Os índios exigem ter poder de veto a obras que sejam construídas em seus territórios. Eles passaram a noite no local.

O grupo, no qual estão mulheres e crianças, é o mesmo que na terça-feira da semana passada foi recebido por Carvalho. Eles afirmam que, na última sexta, o ministro concordou em voltar a recebê-los hoje, quando entregariam novo documento sobre como as usinas podem impactar seus territórios. Quando chegaram no Planalto, às 10 h, contudo, Carvalho não os recebeu.

Em nota, a Secretaria-Geral disse que o ministro "aguardou por cerca de uma hora" pelo encontro, mas que as lideranças "recusaram-se a participar da reunião, limitando-se a protocolar um documento na Presidência da República".

"O ministro lamenta a perda desta oportunidade de diálogo, mas reafirma sua disposição de continuar em negociação com vistas a realizar um amplo processo de consulta prévia sobre os empreendimentos hidrelétricos na região da bacia do rio Tapajós."

A comitiva indígena conta outra versão. Diz que, na verdade, Carvalho quebrou um acordo feito previamente e que, hoje, só aceitou se reunir com um grupo de dez pessoas, e não com todos os 150, o que impediu a reunião.

Cenário de seguidos conflitos pela posse de terra, a região de Sidrolândia, no Mato Grosso do Sul, há anos arrasta, sem solução, um problema que coloca em lados opostos índios e fazendeiros. Muitas vezes, os casos de ocupação de fazendas não terminam em reintegração de posse. Há exemplos de propriedades ocupadas há mais de uma década. Com processos que se estendem há anos na Justiça, algumas dessas áreas já se transformaram em aldeias, apesar de os índios não terem a posse definitiva do terreno.

No sítio Santo Antônio, naquela região, a ocupação pelos índios, segundo o seu proprietário, ocorreu no ano 2000. A propriedade tem cerca de 100 hectares, onde se criava 150 cabeças de gado.

"Até 2004, os índios ocuparam uma parte, e ainda consegui ficar na terra. Depois, tive que sair. Hoje, não tenho mais o meu pedaço de terra para criar o meu gado e tenho que trabalhar para outros fazendeiros", conta Moacir Franco, que era dono da área. O caso está na Justiça. Franco diz que, na época da invasão, morava na propriedade com a mulher e as duas filhas. Chegaram a ficar em uma parte da terra, mas a pressão dos índios acabou por expulsar a família.

Vizinha à fazenda Buriti, onde o índio terena Oziel Gabriel foi morto durante uma reintegração de posse no último dia 30, a fazenda 3R está invadida desde o dia 10 de maio de 2011. Cerca de 200 terenas ocupam barracos feitos de palha e madeira. A água vem de um poço e a energia elétrica foi puxada da fiação que abastecia a propriedade.

"Aos poucos fomos comprando fios, emendando, e agora temos luz", conta o índio Edivaldo Alcântara.

Pecuária

A fazenda pertence a Roberto Bacha, primo de Ricardo Bacha, dono da Buriti, e tem 302 hectares. Era usada para criação de gado. Já chegou a ter, segundo seu proprietário, 400 cabeças, mas no final restaram apenas 70. "Fomos sofrendo seguidas invasões desde o ano 2000 e, por causa disso, diminuimos a produção", afirma.

A principal justificativa dos índios para reivindicar mais terras é a falta de espaço. As nove aldeias da área indígena regularizadas de Sidrolândia ocupam 2.090 hectares, onde vivem cerca de seis mil pessoas. "Não dá pra plantar. O espaço que nós tínhamos dava só para morar mesmo," queixa-se Edivaldo. Ele afirma que antes da ocupação da 3R dividia com a irmã a casa herdada dos pais na aldeia Buriti.

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