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Mesmo com a tática da prefeitura para construir o calçadão, os comerciantes organizaram formas de retaliação: um abaixo-assinado e a contratação de advogado para embargar a obra. O profissional procurado se destacara um ano antes, quando conseguiu impugnar uma emenda do então governador Leon Perez contra o antigo MDB em plena ditadura militar. "Esse caso obteve uma repercussão muito grande. Fui procurado por comerciantes para entrar com uma medida contrária à pedestrianização", conta o advogado René Ariel Dotti.

De acordo com Dotti, o prefeito Jaime Lerner se reuniu com os comerciantes contrários à transformação para explicar os detalhes do projeto. E, depois do início das obras, eles perceberam que as mudanças poderiam tornar a rua XV um ponto forte para as vendas locais. "Não houve o processo judicial, porque, além obra funcionar, o Lerner foi o melhor advogado do seu projeto", diz Dotti. Hoje, Lerner lembra que o comerciante que coordenava o abaixo-assinado o entregou de presente com as seguintes palavras: "Guarde de lembrança e estenda a todo o centro da cidade". O ex-prefeito não guarda rancor das críticas: "Quando você é o responsável pela cidade tem de saber que algumas medidas serão contrárias à opinião pública. E os jornais são reflexo da população", diz.

Bancos, floreiras e cafés atraíram o curitibano para o novo calçadão. Esse espaço de incentivo à simpatia foi rapidamente incorporado à rotina da cidade, transformando aos poucos os hábitos de um povo conhecido por sua frieza e antipatia. "Antes, não se via o curitibano sentado em bancos ou tomando chope. A Curitiba da Rua das Flores mudou essa cara. Tanto é que o público adotou a ideia de sala de estar, fazendo de sua cidade uma sala de visitas", afirma o autor do projeto do calçadão, o arquiteto e urbanista Abrão Assad.

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