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Delegado Riad Farhat Braga: “Aos olhos dos marginais, vai ser um ganho fácil”. | Daniel Derevecki/Gazeta do Povo
Delegado Riad Farhat Braga: “Aos olhos dos marginais, vai ser um ganho fácil”.| Foto: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo

O delegado Riad Braga Farhat, titular do grupo Tigre, especializado em ações anti-seqüestro, é contra a venda do seguro-resgate. Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, ele diz que um dos riscos do produto é o vazamento de listas de clientes das seguradoras para quadrilhas especializadas. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Como o senhor vê a venda do seguro-resgate?

Eu estranho que isso tenha partido do governo. É um fato que vai ajudar a inflacionar a quantidade de seqüestros em todo o Brasil.

Quais são os riscos que esse tipo de seguro oferece à sociedade?

A família da vítima não vai poder argumentar que não tem dinheiro para pagar o resgate, pois todas as pessoas com poder aquisitivo avantajado devem fazer esse tipo de seguro. E a polícia vai ter dificuldades de convencer a família a não pagar o resgate, que é a nossa política, com a qual trabalhamos. Uma coisa é você tentar convencer a família a não pagar quando o dinheiro sai do bolso dela, outra é quando o dinheiro não é dela e pode salvar um ente querido.

Aos olhos dos marginais vai ser um ganho fácil. Aos olhos da família, não vai ter perda nenhuma. Quem vai perder com tudo isso é a própria sociedade. E muito, porque o número de seqüestros vai aumentar. Só as seguradoras e os seqüestradores vão ganhar.

E para a polícia?

Se levar em conta que as equipes do (Grupo) Tigre dormem em média três horas por dia num seqüestro de três, cinqüenta ou cem dias, imagine se esse tipo de crime explodir no Paraná. Para começar, o Tigre não vai conseguir dar conta do volume de serviço.

Isso levaria a pulverizar o serviço policial, que deixaria de ser especializado como ocorre hoje?

Ainda é cedo para fazer este tipo de comentário. Com certeza, os casos não seriam atendidos pelos distritos, mas isso prejudicaria muito a qualidade do nosso trabalho. A polícia é um cobertor curto.

Há o risco de surgir o golpe do seguro-resgate, como já existem outros golpes de seguro?

Sim. E não serão poucos os casos, como já ocorre com o seguro de veículos. Se as pessoas já fazem isto para ganhar R$ 20 mil, R$ 30 mil, R$ 50 mil, imagine o que vai ocorrer com um seguro de seqüestro, com pagamentos acima de R$ 500 mil. São apólices caras, com prêmios caros. Com certeza, não faltarão empresários malsucedidos, pessoas que mudem de padrão de vida, e endividados que vão tentar resolver seus problemas com o golpe do falso seqüestro.

Há algum rico de vazarem as informações dos contratos feitos de seguro-resgate?

O risco é total. Há casos de seqüestros que vazam informações de dentro de bancos, de operadoras de telefone, de todos os setores, inclusive da polícia. As seguradoras não serão diferentes. Alguém vai achar que pode ganhar dinheiro vendendo informação destas listas para quadrilhas de seqüestradores.

O senhor pretende tomar alguma providência para atacar a venda do seguro-resgate?

Eu vou entrar em contato com o governo federal e a Susep para ver se a gente consegue reverter esta situação. Caso contrário, toda a sociedade brasileira vai pagar por isso.

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