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Durante a Segunda Grande Guerra, os alemães e seus descendentes somavam 230 mil pessoas no Paraná. Na capital, eram bem-sucedidos, em especial os chegados entre 1920 e 1929, já beneficiados pela campanha de erradicação do analfabetismo na Alemanha. Tratava-se de uma população ilustrada, urbana, e de alguma maneira exposta aos livros espalhados aqui e ali pela NSDAP – Organização do Partido Nazista para o Exterior, criado em 1934, justo os procurados pelo Dops. “O grande volume de livros políticos aprendidos pela Dops tinha vínculos com os temas da atuação da NSDAP no mundo, da figura do Führer ou do ‘protagonismo alemão’ diante dos outros povos”, comenta o historiador Rafael Athaídes.

Se fosse luterana – e 90% dos alemães paranaenses, estima-se, era – tanto melhor: mais intimidade com os livros e com a música, o que manifestavam com classe, frequentando as aproximadas 26 sociedades étnicas da capital. Como a preocupação do governo, até 1938, era com os comunistas – e muitos livros políticos foram confiscados e queimados na década de 1930 – os alemães podiam não só falar a língua de Goethe como guardar – em casa, na escola e no clube – os livros enviados pelo Partido Nazista via NSDAP – em parceria com a VDC – União das Sociedades Alemãs. Os dados são do historiador Rony Christian Neitzke.

Os livros de tendência nazista não eram o grosso das bibliotecas alemãs. Estudos de Maria Luiza Tucci Carneiro – mais concentrados no estado de São Paulo – mostram que havia nessas coleções panfletos nazistas, antissemitas, exaltações ao III Reich – benesses da NSDAP– mas também discos da Ópera Fausto e os Contos dos Bosques de Viena, assim como livros escolares, de cânticos e religiosos. É provável que nas estantes curitibanas não fosse muito diferente. Mas “a polícia política tinha ânsia de enxergar suásticas até em livros de Goethe”, observa Rafael Athaídes.

Parte do mito do “perigo alemão”, expressão cunhada pelo crítico literário Sílvio Romero, se forma nesse cenário. Uma rica biblioteca como a do Clube Concórdia – segunda consta, destituída de livros em português – deixava a Dops com sangue nos olhos. A Lei da Nacionalização, em 1939, vai começar uma caçada de gato e rato contra a língua alemã e, por tabela, usa de força para blindar os livros que aqueles letrados tanto cultivavam.

Ao lado dos italianos e dos japoneses, nos anos seguintes os alemães vão provar o gosto amargo da censura postal, além de sentir a sanha de populares ensandecidos.

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