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Parte da cidade tem o lixo reciclável coletado uma vez por mês | Gilberto Abelha/Gazeta do Povo
Parte da cidade tem o lixo reciclável coletado uma vez por mês| Foto: Gilberto Abelha/Gazeta do Povo

Separação

Projeto capacita cidades

A falta de conhecimento é um dos maiores problemas na implantação da coleta seletiva. Enquanto Londrina, considerada referência nacional no assunto, ainda sofre com problemas na gestão do sistema, municípios menores não sabem nem por onde começar. Procurado por municípios interessados em começar a coleta seletiva, o Serviço Social do Comércio (Sesc) buscou ajuda acadêmica. A professora Cláudia Feijó desenvolveu um projeto com alunos do curso de Gestão Ambiental da Unopar para a implantação da coleta seletiva em Cafeara e Guaraci, pequenas cidades do Norte do Paraná. "Essas cidades são um retrato do Brasil. Elas enfrentam os mesmos problemas das grandes cidades, mas estão ainda menos preparadas."

Com a ajuda dos alunos, levanto-se os problemas de estrutura da cidade. Depois, foram propostas soluções para dar início ao processo. As cidades não oferecem condições para que os moradores separem o material reciclável e não têm locais adequados para que os catadores trabalhem. "Eles fazem a coleta no lixão e tiram R$ 400 por mês com o que separam porque só existe um comprador. Estamos propondo estrutura adequada e buscando novos compradores", diz a professora.

As duas prefeituras, segundo ela, estão dispostas a investir na conscientização da população. "Eles realmente querem fazer, mas falta muito conhecimento, até mesmo na separação do material. Falta capacitação ambiental", conclui.

NÚMEROS

No Brasil, 443 municípios operam programas de coleta seletiva. Eles representam apenas 8% do total

50 cidadesno Paraná possuem coleta seletiva de lixo, o que representa pouco mais de 12% dos 399 municípios do estado.

22 milhõesde brasileiros atualmente têm acesso a programas municipais de coleta seletiva de resíduos sólidos.

10% da populaçãode cada cidade com coleta seletiva é atendida, apesar do número de municípios com esse tipo de serviço ter aumentado nos últimos anos.

52% das cidadespesquisadas possuem serviço de coleta que é feito pela própria prefeitura municipal.

A cidade que já foi premiada por sua eficiência na coleta seletiva hoje tem material reciclável amontoado nas ruas. Com o serviço desestruturado, Londrina vive uma situação crítica. Algu­mas regiões da cidade têm os recicláveis coletados menos de uma vez por mês. Desde que a prefeitura rompeu, em maio, o contrato com a Visatec, empresa responsável pelo transporte do lixo até os barracões, as cooperativas enfrentam dificuldades para continuar o trabalho.Segundo a Companhia Mu­­nicipal de Trânsito e Urba­ni­zação (CMTU), parte do recolhimento dos sacos de lixo reciclável, os chamados "sacos verdes", deve ser feito pela cooperativa Coopersil, que tem contrato assinado desde março de 2010 – no valor de mais de R$ 61 mil. A cooperativa cobre metade da área da cidade (cerca de 95 mil domicílios), fazendo o transporte do material até os galpões de reciclagem. "A parte da cidade que é de nossa responsabilidade está sendo atendida. Até porque, se atrasarmos a coleta, somos multados pela prefeitura", diz a diretora financeira da cooperativa, Verônica Costa.

Contratação

A outra metade vai ficar a cargo de outra cooperativa de recicladores, a Cepeve, cujo processo de contratação está sendo finalizado, segundo a CMTU. "A prefeitura alugou um barracão que nós, como cooperativa, não conseguimos alvará. Sem alvará, não tem contrato", conta a presidente da cooperativa, Sandra Araújo.

Hoje, a Cepeve consegue atender apenas 20 mil, dos 95 mil domicílios que não são cobertos pelo contrato da prefeitura. Destes, 10 mil domicílios são atendidos menos de uma vez por mês, e boa parte dos outros 10 mil, a cada 15 dias.

Para Sandra Araújo, falta apoio do poder público com relação à infraestrutura, que piorou. "Antes, tínhamos cinco caminhões trabalhando na coleta em dois turnos, hoje a prefeitura oferece só dois caminhões, e em um único turno", afirma. A reportagem procurou a CMTU, mas não obteve contato.

Competência

A legislação acerca de resíduos domésticos preconiza que o serviço de coleta é de competência do poder público. "A prefeitura tem que dar apoio. A coleta deve ser vista como redução de custos com aterros. É benefício para todos", argumenta a coordenadora do curso de Gestão Ambiental da Unopar, Cláudia Ciappina Feijó.

Londrina, segundo ela, está passando por um momento de transição. Em 2002, a cidade retirou os catadores do lixão para constituir organizações não governamentais. Em 2007 e 2008, a população começou a se engajar na iniciativa. "Agora, a cidade não suporta mais o sistema atual. Houve uma mudança cultural, a população está cobrando, mas a gestão está falha", avalia Claúdia Feijó.

Apontada em 2008 como a campeã nacional da reciclagem, em 2010 Londrina apareceu no quarto lugar do ranking nacional da coleta seletiva. Os dados são da Pesquisa Ciclosoft 2010, publicado a cada dois anos pelo Com­promisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), instituição independente que monitora a gestão de resíduos no país. Os dados mostram que Londrina coletava, em 2010, 1.760 toneladas mensais de recicláveis – perto de 60 toneladas ao dia.

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