Curitiba – Quando Luiz Inácio Lula da Silva pisar no Paraná como candidato à reeleição na presidência da República, o eleitor mais desatento poderá se perguntar no momento da tradicional foto com as mãos dadas para o alto: mas onde afinal está o candidato a governador do presidente?

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A dúvida se explica. A última pesquisa sobre a intenção de voto para a Presidência da República divulgada pelo Ibope/ CNI na semana que passou mostra que se o PT saiu enfraquecido pela crise política do mensalão e dos Correios, o mesmo não pode se dizer de Lula.

O presidente cresce a cada pesquisa eleitoral. Segundo o Ibope, ele tem 48% das intenções de voto e lidera em todas as regiões do Brasil. Está crescendo até em São Paulo, onde teoricamente seu principal adversário, o tucano Geraldo Alckmin, deveria ter a seu favor a boa taxa de aprovação que obteve como governador do estado. "Lula se descolou do PT", explica Ricardo Oliveira, cientista político e professor de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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A distinção Lula–PT não é recente. Não devem estar no palanque do presidente petistas históricos como o ex-todo–poderoso José Dirceu, o ex-presidente do partido José Genoíno, o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Institucional e compadre Luiz Gushiken. A ausência deles remete ao ex-deputado Roberto Jefferson, ao publicitário Marcos Valério e ao trabalho das CPI do Correios.

As outras faltas estão relacionadas sim com a crise, mas guardam relação direta com as alianças políticas nos estados e o quadro de verticalização mantido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A rigor, os petistas terão como aliados de primeira hora o PC do B e o PSB.

Nos demais estados, as alianças terão de ser firmadas no corpo a corpo. "No Paraná estamos conversando com o PL, PV e PTB", explica o presidente do PT paranaense, deputado André Vargas.

A situação no Paraná segue a regra do jogo nacional. A polarização entre o bloco PT, PSDB-PL tem levado o partido de Lula a cortejar, não sem alguma vergonha, os partidos do mensalão (PL e PP) e principalmente o PMDB, maior partido do país em número de prefeituras. Estado por estado e região por região, tucanos e pefelistas oferecem cargos, posições para formar a chapa e promessa de influência para que os peemebistas subam em seus respectivos palanques. "De modo geral nos estados do Norte e do Nordeste, o PT tem conseguido atrair o PMDB, estão juntos. No Sudeste e Sul a aproximação não está ocorrendo", diz Oliveira. De fato, nos três estados da Região Sul, PT e PMDB estarão em lados opostos.

No Paraná, por exemplo, apesar de Lula e Requião terem uma relação bastante próxima, uma "questão de pele" segundo o próprio Lula, o governador peemedebista tem buscado atrair o PSDB para suas fileiras. Desse modo, mesmo sendo improvável que Requião suba no palanque com Alckmin, ao lado de Fernando Henrique Cardoso, o governador estaria impedido de apoiar o companheiro Lula, ao menos formalmente.

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O presidente, por seu lado, pediria votos para o senador Flávio Arns, um ex-tucano e considerado um petista de posições moderadas que não empolga diversos setores do partido. "O Flávio Arns vai para a eleição como azarão. Faltam-lhe experiência e cacife político", diz Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia Política na Unicamp.

Em Santa Catarina, a situação é parecida. O candidato petista José Fritsch aparece como terceira força na disputa que deve levar ao segundo turno o atual governador Luiz Henrique (PMDB) e o ex-governador Esperidião Amin (PP). "O PT depende muito do Lula, mas não vejo ele transferindo votos para os candidatos aos governos estaduais. Em São Paulo, por exemplo as pesquisas dão conta de quem vai votar Lula para presidente, está decidido a votar no José Serra para o governo do estado. De mesmo modo, o perfil do eleitor que vai votar no Lula, deve votar para o Requião", explica Oliveira.

A exceção na Região Sul ficaria por conta do Rio Grande do Sul, onde o ex-governador Olívio Dutra conta com força e experiência política, apesar da vantagem nas pesquisas do atual governador Germano Rigotto (PMDB) e dos índices de rejeição que os petistas enfrentam no Rio Grande. "É um nome forte. É um palanque bom para o Lula", diz Romano.

Mas também pesa contra Olívio a incapacidade do PT em fazer alianças. Além de PMDB, PSDB e PFL, o partido pode dividir seu eleitorado de esquerda com o PDT do deputado federal Alceu Collares.

É bom lembrar que é na Região Sul que se registra a menor diferença entre os porcentuais de votos de Alckmin e Lula, segundo o Ibope: 18%.

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A julgar pelos palanques de Lula no Sul, essa vantagem não deve aumentar.