• Carregando...

Brasília – "Tranqüilidade". É isso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse querer ganhar de Natal ontem, em um café da manhã com jornalistas credenciados no Palácio do Planalto. Lula não deixou de aproveitar a oportunidade para dar vários recados à imprensa e à sociedade.

"É muito importante ter um teto salarial único para os três poderes. O problema é que no Brasil, para se mudar o teto, tem que mudar a Constituição, e isso só é possível se os partidos estiverem de acordo", insistiu ao comentar a tentativa de representantes dos Ministérios Públicos estaduais de equiparar seus salários aos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e também a dos parlamentares de aumentar em 91% seus rendimentos.

Lula disse que já conversou sobre a questão do teto único com a presidente do STF, ministra Ellen Gracie. "Temos que conversar sobre isso com todo mundo", afirmou. A questão do teto salarial é um dos grandes problemas vividos hoje pelo governo.

O presidente também aproveitou a conversa para reclamar dos salários pagos aos ministros e aos funcionários de primeiro escalão do Poder Executivo. Ele lembrou que desde 1998 esses rendimentos não tiveram reajuste. "Vocês acham que é fácil manter o Andre Singer (o porta-voz) ganhando aqui R$ 7,5 mil por mês?", questionou. Singer emendou: "Brutos."

Segundo o presidente, se o jornalista Andre Singer estivesse trabalhando na "Folha de S. Paulo", de onde é oriundo, estaria ganhando R$ 30 mil. "Vamos ter de encontrar um jeito. Uma solução negociada." O presidente da República recebe, hoje, R$ 8,8 mil; os ministros, R$ 8,5 mil.

Quando o assunto passou para as mudanças no Ministério, Lula procurou desconversar, mas deu algumas pistas. Disse, por exemplo, que não tem motivos para mudar a equipe econômica. "Vou mudar para quê? Chegamos a esse sucesso que chegamos por causa da equipe econômica. O governo está funcionando", declarou.

Nem os que têm manifestado o desejo de sair, como o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, podem ficar tranqüilos, afirmou Lula. "Mesmo aqueles ministros que têm falado para vocês que gostariam de sair, só vão sair quando eu quiser que eles saiam", afirmou.

O presidente disse também que não vai mudar o número de ministérios e manterá os atuais 34 o que, para os partidos de oposição, é um exagero. Perguntado se enxugaria o ministério, respondeu: "Ninguém está molhado. Não vou reduzir."

Lula chegou até a fazer ironias sobre o tema. "Eu nunca disse que ia mudar ministério. Ninguém jamais ouviu isso de minha boca. Não estou preocupado. Os ministros não precisam nem vir para a posse. Está todo mundo ministro. No dia 1.º de janeiro, só vamos tomar posse eu e o José Alencar. Os ministros não precisam tomar posse."

Lula falou ainda sobre a sucessão na presidência da Câmara, que está sendo disputada pelo atual presidente, Aldo Rebelo (PC do B-SP), e pelo líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). O presidente disse que não vai dar palpite, e que quando for a hora vai se reunir com os dois candidatos. "Todo mundo sabe que gosto do Aldo e do Chinaglia."

Quanto às suas alianças à direita, o presidente fez questão de frisar que seu governo não é de esquerda. Embora ele, pela forma como governa, pelas coisas que defende, se considere como tal. Mas ele disse que, antes de tudo, se considera um torneiro mecânico, que é sua profissão.

"Se você perguntar para mim se eu sou de esquerda ou de direita, eu vou dizer que sou torneiro mecânico de profissão, católico por opção religiosa e corintiano por opção futebolística", disse.

Sobre a Reforma da Previdência, Lula afirmou que criará um fórum com especialistas do Congresso, aposentados, representantes das centrais sindicais, empresários e governo para tratar do assunto.

"Não tem sentido você fazer uma reforma previdenciária para tapar um rombo de hoje. Não dá para mexer nas regras estabelecidas para quem já está trabalhando. Quem ainda não está no mercado de trabalho, sim, pode encontrar regras diferentes", defendeu.

O presidente afirmou ainda que não quer estabelecer data para que o fórum apresente suas conclusões, para que não se sinta pressionado por nada. Se os convidados a participar do grupo de debate concluirem que é preciso fazer logo uma nova reforma da Previdência, Lula disse que encaminhará as sugestões ao Congresso.

Ele afirmou ainda que espera ter, em 2007, um relacionamento melhor com a imprensa do que o de seu primeiro mandato. "Eu, de vez em quando digo que sou bem tratado e eu preciso apenas retribuir o tratamento que recebo. Que 2007 seja o ano da imprensa, e que vocês escrevam tudo que precisam escrever."

Queixa

No fim, Lula reclamou de solidão. Ele contou que nunca sai do Palácio depois do trabalho. "Ficamos só eu e a Marisa. Nestes quatro anos nunca fui ao aniversário de um amigo, casamento, jantar ou almoço. Evito porque isso só dá futrica." Disse que não faz como alguns ex-presidentes que puseram um capacete e saíram em velocidade louca pelo Eixo Rodoviário, em cima de uma moto (Fernando Collor) ou foram andar de fusca (Itamar Franco).

No auge de um momento de solidão, Lula disse que às vezes pensa em chamar um ministro ao Palácio da Alvorada, onde mora. Mas desiste, porque poderia provocar ciúmes. Aproveitando-se da presença de Singer, e do secretário da Presidência, Luiz Dulci, disse que se chamar um, o outro pode pensar: "Por que não fui chamado? Eu conheço o ser humano. Ele tem ciúmes".

Para controlar a solidão, Lula contou que vai a cada 15 dias para São Bernardo do Campo, onde se encontra com os filhos e netos. Ele evitou chamar Brasília de chata. "Chato sou eu."

E, nos momentos mais difíceis, pega uma vara de pescar e fica por horas tentando fisgar peixes num criadouro que tem no Palácio da Alvorada. "Outro dia, peguei uma tilápia de 5,8 kg. Achei que poderia entrar para o Guinness Book e ofereci para a Embrapa, mas eles queriam embalsamá-lo. Então, resolvi comer a tilápia".

Lula comeu apenas cinco pãezinhos de queijo no café da manhã. Tomou café puro e fumou um charuto. Contou que, ao assumir a Presidência, em 2003, estava com 92 kg. Logo, passou para 98. "Aí, percebi que tinha de fazer alguma coisa". Começou um regime em que come proteínas. Hoje, está com 83 quilos. Durante a semana, come salada e peixe. Nos fins de semana, acrescenta arroz e feijão e até abusa. "Outro dia mandei buscar uns torresminhos". Disse que tem consciência de que se ganhar 1,5 kg no fim de semana, poderá perdê-lo no meio da semana. "Não dá é para perder 15 de uma vez".

Lula contou que, imediatamente depois de sua posse, no dia 1.º, quer tirar uns dez dias de férias. Perguntado para onde iria, respondeu: "Não vou contar. Senão vocês não me deixam descansar." O presidente falou ainda que vai à posse do presidente eleito da Nicarágua, Daniel Ortega, e que, se der, e se sua mulher, Marisa Letícia, deixar, estenderá sua viagem até Cuba, para visitar Fidel Castro, que está enfermo.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]