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Curitiba – O assunto é polêmico. Questionado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prefere não expressar sua opinião sobre o aborto. O silêncio é compreensível. No documento Diretrizes para a Elaboração do Programa de Governo de 2006, disponível no site do PT, o governo petista se compromete novamente, como fez em 2002, em se empenhar para que o Congresso contemple "demandas" da sociedade como a "descriminalização do aborto". A posição não leva em conta pesquisas como a realizada pelo Instituto Datafolha, publicada em agosto deste ano, na qual 63% dos eleitores brasileiros consideram que o aborto deve continuar proibido na maior parte dos casos.

"Os candidatos evitam falar de aborto porque não querem arranjar brigas e desavenças em um assunto considerado muito complicado durante a campanha eleitoral", avalia a cientista política Vera Shaia, em São Paulo.

No primeiro mandato de Lula, o Projeto de Lei (PL) 1135/91 que descriminalização e legaliza a interrupção da gravidez quase foi aprovado. Por meio de pressões da Secretaria Especial de Mulheres, criada no início do governo do petista, e entidades favoráveis ao aborto, o projeto quase passou no Congresso em 2005. Novamente o temor da opinião dos eleitores impediu a aprovação da PL: pessoas de todo o país, de religiosos a cientistas ateus, enviaram milhares de e-mails, faxes e cartilhas para o gabinete dos parlamentares pedindo que o aborto continuasse configurado como crime na legislação. Diante da reação, a bancada pró-aborto recuou e decidiu adiar a decisão.

O tema também não é confortável para os outros presidenciáveis. O segundo colocado nas pesquisas, o candidato do PSDB à presidência, Geraldo Alckmin, demorou, mas assumiu sua posição. "Sou contra a descriminalização do aborto. A forma mais eficiente de evitá-lo é ampliar os programas de educação sexual e colocar à disposição das pessoas todas as informações e meios para o planejamento familiar e a contraconcepção", afirmou.

Na coligação da candidata do Psol à presidência, a senadora Heloísa Helena, o assunto provocou brigas internas e o adiamento do lançamento do programa de governo do partido depois que ela deu uma entrevista ao jornal O Globo, em 1.º de setembro, afirmando ser contrária ao aborto. "A minha concepção de modernidade não se relaciona com o aborto. Hoje, com toda a tecnologia que foi produzida, é possível alguém achar que é uma bandeira moderna curetar uma vida? Para mim, do ponto de vista científico e espiritual, sou contra o aborto", disparou.

Já o candidato do PDT, Cristovam Buarque, é favorável ao aborto apenas quando existe risco de vida da mulher e em casos de estupro. "Eu defendo a vida e, se uma mulher grávida tem sua vida ameaçada, eu creio que se justifica, para salvar essa vida, o aborto. Como também em caso de estupro, eu acho que se justifica o aborto. O que não se justifica é o aborto como instrumento de controle da natalidade."

O presidenciável Luciano Bivar (PSL) diz que, em seu governo, o aborto seria alvo de um plebiscito. "Pessoalmente, defendo que essa decisão cabe à mulher", disse. José Maria Eymael, candidato do PSDC, foi enfático, "como cristão, sou contra".

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