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Por causa da invasão, as aulas desta segunda-feira (21)  na UTFPR estão suspensas. | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Por causa da invasão, as aulas desta segunda-feira (21) na UTFPR estão suspensas.| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

O grupo de estudantes mascarados que ocupa o campus central da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), em Curitiba, decidiu insistir na ocupação em assembleia realizada neste domingo (20). Eles afirmam que vão permanecer no local até que a reintegração de posse seja plenamente realizada, com a presença de força policial. Pelo menos 12 representantes de professores e de servidores estiveram no local para conversar com os manifestantes. Segundo o pró-reitor Sandroney Fochesatto, os invasores afirmam que não pretendem resistir à ordem judicial para desocupar o prédio. A orientação é não agir com violência e sair pacificamente quando a reintegração de fato ocorrer.

Por causa da invasão, as aulas desta segunda-feira (21) foram adiadas. Uma aluna estava no local buscando informações porque teria uma prova no dia seguinte. Os professores explicaram que nenhuma atividade prevista será realizada. O grupo de docentes ainda não se pronunciou sobre os outros dias da semana e disse que vai se reunir para discutir sobre como os dias perdidos serão repostos.

Fochesatto fez um apelo a grupos de estudantes contrários à ocupação do prédio para que não acirrem ainda mais os ânimos. Segundo a reportagem apurou, há informações de que eles se organizam para fazer novos protestos do lado de fora do campus para pressionar o fim da invasão. “Por favor, não usem força. Não façam justiça com as próprias mãos. Já acionamos os responsáveis pela reintegração” disse o pró-reitor. Um oficial de Justiça deverá comunicar o grupo e, se houver resistência, a Polícia Federal deve ser acionada, já que se trata de uma instituição federal.

Segundo Fochesatto, o objetivo é garantir a integridade física das pessoas. Os professores também afirmaram que não há nenhum dano ao patrimônio nas dependências da universidade.

No final, da tarde, quando a reportagem estava no portão de entrada da Avenida Silva Jardim, quatro pessoas contrárias à ocupação fizeram algumas provocações ao grupo que está dentro da universidade, mas não houve maiores confrontos.

Um jovem, que se identificou como estudantes do Colégio Estadual do Paraná e que disse ter participado de ocupações em diversos colégios, chegou atendendo a mensagens que recebeu com pedido de reforço para a invasão da UTFPR. Depois dele, mais 16 pessoas entraram no prédio enquanto a reportagem estava no local.

Outro grupo de 12 pessoas com o rostos cobertos saiu correndo do prédio, mas ninguém quis conversar. Eles teriam mostrado a carteirinha da universidade para um dos rapazes contrário à ocupação para comprovar que são estudantes da instituição, e disseram que foram à invasão visitar e prestar apoio.

Não há informação oficial de uma nova tentativa de reintegração de posse – cogitou-se o uso de força policial devido à resistência dos estudantes. Professores, porém, seguem em tratativas com o comando da invasão em busca de uma saída pacífica para o caso.

Depois de um sábado (19) de tensão, o domingo (20) foi mais calmo na UTFPR. A permanência dos invasores dentro da universidade atrapalhou a rotina da instituição – um congresso internacional de engenharia elétrica que ocorreria no câmpus, com cerca de 300 pessoas inscritas, teve de ser remarcado para um dos hotéis da região.

A determinação da reintegração de posse foi dada pela juíza federal Danielle Perini Artifon na tarde de sábado (19). O prédio foi tomado na sexta-feira (18) por um grupo de estudantes contrários a medidas do governo Michel Temer. O oficial de Justiça notificou os manifestantes às 19h50 deste sábado (19). A decisão judicial, solicitada pela direção da UTFPR, ordenava a desocupação em uma hora a partir da notificação, o que não aconteceu.

Dia tenso

O sábado foi um dia de muita tensão na UTFPR. O momento mais crítico foi a explosão de uma bomba de são-joão dentro do campus, na briga entre os dois grupos de estudantes. A professora Denise Maria Maia, do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), ficou ferida sem gravidade por um estilhaço da bomba. O autor do lançamento da bomba não foi identificado.

Os contrários à invasão do prédio conseguiram forçar a entrada por volta das 9h30 deste sábado. A ocupação, realizada por alunos da graduação e do ensino médio e também por pessoas ligadas a outros movimentos não diretamente relacionados à UTFPR, não teve a anuência do Diretório Central Estudantil (DCE), que havia deliberado pela não ocupação forçada do espaço.

Na tarde do sábado, a tensão aumentou e se concentrou no teatro da UTFPR. Integrantes do grupo que tomou a universidade se concentraram no auditório. Estudantes contrários ocuparam a área interna do acesso ao auditório, isolando os adversários. Mas outros alunos favoráveis à tomada da universidade se posicionaram no portão do teatro, ilhando os contrários.

Os ânimos se acirraram, e uma bomba são-joão foi solta na área interna do acesso ao auditório – o que feriu a professora Denise Maia. A explosão fez com que a segurança da UTFPR informasse que havia chamado a polícia para intervir. Mas nenhum policial chegou a entrar no campus (fora dele, havia PMs desde a manhã fazendo a segurança).

A situação começou a ficar menos tensa após o pró-reitor Sandroney Fochesatto discursar aos dois grupos tentando pacificá-los. Ele assegurou que a direção da UTFPR não ia tomar partido de nenhum dos dois lados, mas apenas queria garantir a integridade das instalações, a segurança dos estudantes e a realização do vestibular da Unioeste.

Após o discurso, os estudantes contrários à invasão começaram a deixar o prédio. Os invasores gritaram: “Ocupar, resistir”. Os contrários responderam: “Trabalhar e produzir”.

Entenda o caso

Cerca de 70 pessoas tomaram o câmpus Curitiba da UTFPR, na Avenida Sete de Setembro, por volta das 23 horas de sexta-feira (18). O ato ocorreu logo depois do último horário de aulas. Discutida em assembleias internas em dois momentos, a ocupação do campus Centro da UTFPR havia sido descartada pela maioria dos estudantes.

Uma foto publicada pela página “Ocupa UFPR”, no Facebook, mostra duas pessoas com rosto coberto usando blocos de concreto para obstruir uma porta do prédio. Parte do grupo que participou da tomada do campus usava máscaras.

Em outra página do Facebook, “Ocupa UTFPR - CWB”, foi apresentado um manifesto que seria do grupo que tomou o prédio da universidade, dizendo ser “parte do movimento estudantil da UTFPR”. A presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UTFPR, Ana Carolina Spreizner, disse à Gazeta do Povo que o grupo é composto por estudantes ligados a movimentos independentes. Ou seja, sem ligação a centros acadêmicos ou ao diretório.

Na noite de 4 de novembro, a direção da UTFPR chegou a determinar a evacuação do campus Curitiba para evitar que o prédio fosse invadido. A medida foi tomada para garantir a realização no local do Enem, que ocorreria nos dois dias seguintes. A prova foi aplicada sem problemas.

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