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Roberto, 30 anos, nome fictício, virou refém de duas prostitutas e um recepcionista no interior de um hotel na Rua São Francisco, no Centro de Curitiba, após fumar oito pedras de crack e não ter dinheiro para pagar a droga. Ele foi mantido por mais de dez horas em cárcere privado. Nesse período, sua família passou a ser ameaçada por telefone, sendo cobrada pelo pagamento de R$ 150. A história ocorreu no dia 23 de dezembro.

Roberto procurou os traficantes uma semana após receber alta de uma clínica de tratamento para dependentes químicos. Quem lhe forneceu as drogas são os habituais traficantes da Rua Riachuelo, entre a Praça Generoso Marques e as ruas Tobias de Macedo, São Francisco e Treze de Maio – trecho conhecido como "corredor de drogas" do Centro. Na região, prostitutas costumam levar os viciados para hotéis de alta rotatividade. O programa, no caso, é facilitar a venda e o consumo de crack.

Na antevéspera de Natal, Roberto saiu cedo de casa (na região metropolitana de Curitiba). Foi se encontrar com traficantes da capital. "Mas ele não tinha dinheiro para pagar a droga", conta o irmão de Roberto. Foi aí que os traficantes começaram a telefonar para a família. Ameaçavam matar Roberto. "Chamei a polícia e fui negociar (com os traficantes)", diz o irmão. A Polícia Militar prendeu em flagrante as prostitutas e o recepcionista por extorsão mediante seqüestro. Eles também são suspeitos de tráfico e formação de quadrilha, entre outros crimes.

Na hora do aperto, o irmão de Roberto discou para o número 181, do Narcodenúncia. Graças a esse serviço é possível traçar um mapa dos principais pontos do tráfico no estado – a base de informação são as denúncias feitas pela população. Fica-se sabendo onde se vende o que (veja o infográfico). O serviço resultou, por exemplo, na apreensão de mais de 100 toneladas de maconha neste ano.

O resultado das investigações desencadeadas pelo 181 mostra que a maconha e o crack são as drogas mais consumidas em Curitiba. Bairro Alto, Campo Comprido, Capão Raso, CIC, São Brás e Uberaba são os bairros com maior incidência da droga – mas o recorde de apreensão individual ocorreu no Jardim das Américas, com 556 quilos.

A CIC também é campeã em relação à cocaína, seguida do Sítio Cercado e do Cajuru – em cada bairro foram apreendidos nos últimos dois anos e meio, respectivamente, 100, 30 e 23 quilos da droga.

A reportagem da Gazeta do Povo teve acesso a parte das informações do 181. O levantamento mostra a relação de doze bairros da capital, com o nome das ruas onde é feito o maior número de denúncias. Entre os locais visitados pela reportagem, duas ruas chamam atenção. A primeira é a Rua Riachuelo, onde os traficantes usam as prostitutas como isca para atrair clientes. Elas se transformaram em "aviõezinhos" ou "vapores" (soldados do tráfico de drogas), vendendo pedras de crack por valores entre R$ 5 e R$ 20, dependendo do grau de pureza da droga – já o grama de cocaína custa R$ 15.

De acordo com dados do Narcodenúncia, a situação da Riachuelo se espalha por toda região central, responsável por 233 denúncias, numa área que vai das Praças Santos Andrade e Generoso Marques ao Largo da Ordem e ao Passeio Público, além da Rua Cruz Machado (entre a Visconde de Nácar e a Praça Tiradentes).

Os números mostram ainda que em algumas regiões reconhecidamente perigosas as denúncias são poucas. A Vila Nossa Senhora da Luz, na CIC, por exemplo, é um notório ponto de execuções feitas em acertos de contas do tráfico. Mas lá as denúncias são raras: quatro na Rua Pedro Gusso e duas na Rua Orlando Luiz Lamarca.

A reportagem da Gazeta também foi à Rua Arsênio de Azevedo, no Cajuru. É uma via curta, com duas quadras, mas responsável por dez denúncias no 181. É rápido e fácil descobrir o porquê. Às 15h30 do dia 23 de dezembro um grupo de rapazes fumavam tranqüilamente maconha na rua.

As denúncias não se restringem a regiões pobres da cidade. O Jardim Social, um dos bairros mais ricos de Curitiba, registrou quatro. A diferença é que no Jardim Social o tráfico não dá as cartas, como faz no Cajuru e na Nossa Senhora da Luz, por exemplo.

Explicações

O coronel Jorge Costa Filho, coordenador estadual do 181, tem uma explicação para o baixo número de denúncias em regiões violentas. Para ele, a culpa é da Justiça, demorada demais. O coronel também vê um descrédito por parte da população na estrutura do estado. "As pessoas vêem a polícia prender, mas o traficante é solto em pouco tempo", afirma.

O programa 181 foi criado e é mantido pela Secretaria da Justiça e da Cidadania, na gestão do secretário Aldo Parzianello, que deixa o cargo no dia 31 de dezembro. O serviço começou a ser feito com o número 161. Posteriormente a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) ofereceu o número 181, hoje usado em todo o país para a mesma função.

O serviço de repressão ao tráfico de drogas recebeu recentemente o prêmio Top de Marketing, da ADVB-PR (Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil – seção Paraná).

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