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País não aproveita "bônus demográfico"

O Brasil atravessa desde a década de 1960 um período que estudiosos chamam de "bônus demográfico", em que a população com idade entre 15 e 64 anos aumenta em relação à população total – ou seja, a quantidade de pessoas em idade produtiva cresce mais rápido que o número de crianças, adolescentes e idosos. Assim, há uma certa abundância de mão de obra e, com mais pessoas produzindo, também pode haver mais geração de riqueza.

No entanto, o elevado número de jovens desempregados e fora da escola ou da faculdade mostra que o país não está aproveitando bem esse bônus. E não terá muito tempo para isso: com a queda na taxa de natalidade e o envelhecimento da população, o bônus demográfico deve acabar por volta de 2020, segundo cálculos dos pesquisadores João Basílio Pereima, Fernando Motta Corrêa e Alexandre Porsse, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Por um lado, isso será bom. A oferta de jovens trabalhadores vai diminuir, o que deve elevar os salários e melhorar a distribuição de renda. Aliás, há quem desconfie que a persistência de baixas taxas de desemprego e o aumento dos rendimentos em plena estagnação econômica já seja reflexo de uma estabilização ou mesmo queda na entrada de novos profissionais.

Por outro lado, se não houver um aumento da inovação tecnológica e da produtividade, os custos das empresas tendem a aumentar quando o bônus demográfico acabar – o que pode resultar em coisas como inflação e recessão. Portanto, sem jovens criativos e bem formados, o crescimento econômico do país estará ameaçado.

Políticas

"Se um país aproveita seu bônus demográfico com políticas adequadas, pode emergir ao fim do processo com enormes avanços econômicos e sociais", afirmam os pesquisadores da UFPR, em artigo publicado no mês passado. O problema, dizem, é que o Brasil tem sido relapso: "As políticas educacionais não estão dando conta de formar pessoas qualificadas na velocidade e quantidade necessárias no nível técnico. E o quadro é mais grave ainda no nível universitário e de pós-graduação." (FJ)

Aproximadamente 1,3 mil jovens maringaenses, com idade entre 18 e 24 anos, estão enquadrados na geração nem-nem: nem estudam, nem trabalham, o que representa 5,59% dos 23.872 habitantes da cidade desta faixa etária. No Brasil, 19,5% dos jovens – 5,3 milhões de pessoas- não estão estudando nem trabalhando e tampouco procurando emprego, segundo dados do Censo 2010.

Entre os jovens maringaenses que são enquadrados como economicamente não ativos pela contagem, a maioria é formada por pessoas solteiras, com idade entre 20 e 24 anos e com ensino superior incompleto. Se considerarmos apenas os que não trabalham, o índice sobe para 53,74%, ou 12.831 dos jovens fora do mercado de trabalho.

De acordo com o antropólogo Mário Camargo, a ociosidade dessa parcela da população é um reflexo dos limites da educação adotada nas últimas décadas. "Essa é uma geração que não aprendeu a ouvir não ou a valorizar aquilo que tem." Camargo aponta que até meados da década de 1970 os filhos costumavam a ajudar os pais em seus afazeres. "Isso criava um senso de responsabilidade, que é fundamental em qualquer carreira", defende.

Para o antropólogo, profissionais do chamado "chão-de-fábrica" são desvalorizados e por isso os jovens são relutantes em aceitar este tipo de trabalho. "Não faltam vagas de emprego. Falta o jovem entender que a realidade é diferente do que ele vive em casa. Então, ele não vai começar a carreira por cima, mas que pode ascender com o tempo."

O pesquisador salienta que o fenômeno ainda é recente e, por isso, não é possível mensurar os efeitos positivos ou negativos desta parcela de jovens economicamente inativos. "Digo sempre que somos uma sociedade em crise. Mas acho que isso é importante para refletirmos e apontarmos novos caminhos sociais."

Brasil

Ao mesmo tempo em que atinge níveis historicamente baixos de desemprego e sofre com a escassez de mão de obra qualificada em alguns setores, o Brasil "desperdiça" um de cada cinco jovens adultos.

Era de se esperar que, com o crescimento do mercado de trabalho e alguns avanços na educação, o quadro tivesse melhorado desde o censo anterior, de 2000. Mas ocorreu o oposto. O contingente de jovens que não estudam nem trabalham até aumentou: em 2000 eles eram 4,8 milhões, ou 18,2% do total, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"Estamos desperdiçando parte de uma geração, que vai demorar muito a encontrar um lugar 'virtuoso' no mercado de trabalho", diz Adalberto Cardoso, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Iesp/Uerj). "Mais adiante alguns vão voltar a estudar e tentar tirar o atraso, mas então encontrarão novas gerações mais escolarizadas e qualificadas, dificultando sua competição."

A geração nem-nem tem crescido na Europa assolada pela crise. Mas por que existem tantas pessoas nessa situação no Brasil? Há as que estão à toa por que querem, acomodadas com alguma fonte segura e não muito exigente de sustento – os pais, por exemplo. Mas trata-se de uma minoria. Na maior parte dos casos, diz Cardoso, os brasileiros "nem-nem" são pobres e têm baixa escolaridade. E, no caso das mulheres, filhos para cuidar.

"Dois terços desses jovens são mulheres, e metade delas tem filho vivo, nem sempre fruto de casamento. Dos homens, uma pequena parte, perto de 10%, tem deficiência física ou mental grave. Cerca de 70% dessas pessoas vivem em famílias que estão entre as 40% mais pobres, e 50% dos homens e 40% das mulheres não completaram nem o ensino fundamental", enumera o pesquisador.

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