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Caso se confirmem as estimativas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU) de aquecimento do planeta entre 2ºC e 4ºC até 2100, pesquisadores e cientistas preveem uma Maringá menos úmida, com chuvas mais concentradas, com maior risco de incêndios e dificuldades crescentes para culturas de soja, trigo e milho. Florestas locais, como as preservadas no Parque do Ingá e no Bosque II, também podem ficar mais vulneráveis.

As previsões são baseadas em um estudo inédito no Paraná, que deve ser concluído até julho deste ano, que une pesquisadores de universidades e de institutos de meteorologia e de agronomia do estado. O estudo projeta um conjunto de cenários com previsões matemáticas sobre os efeitos do aquecimento do planeta no Paraná dentro do cenário desenhado pelo IPCC.

A projeção considera dezenas de variáveis para compor como se dariam as consequências do aquecimento global em 2040, 2070 e 2100. Em Maringá, a partir dos dados históricos da temperatura local, cientistas fizeram as previsões considerando temperaturas entre 27ºC e 29ºC (a média dos últimos 30 anos é de 21ºC). A partir disso, eles testaram os efeitos sobre o ambiente a partir de um software de simulações matemáticas produzido pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

Por enquanto, os pesquisadores do projeto evitam conclusões prévias mais incisivas ou alarmistas, mas as informações já descobertas desenham um futuro preocupante e cheio de restrições para a produção local de comida, para o regime de chuvas e de umidade e para o risco de incêndios florestais na região Noroeste do Paraná.

O pesquisador do Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar) e colaborador do projeto, Flávio Deppe, explica que caso as projeções se materializem, as culturas agrícolas tendem a ser as mais prejudicadas já que são dependentes diretas das variações climáticas. Para tentar driblar o problema, o pesquisador defende que uma das alternativas é investir em desenvolvimento genético de sementes que se adaptem às possíveis variações.

"A partir dos dados apresentados pelo estudo, os órgãos responsáveis podem investir no desenvolvimento de sementes que, melhoradas geneticamente, consigam se adaptar melhor às variações do clima." Sobre a destruição das matas, por contas dessas alterações, Deppe afirma que áreas florestais tendem a sofrer impacto menor já que são naturalmente aptas às mudanças e adaptações.

Responsável pelo setor de previsão sobre incêndios florestais, o pesquisador explica ainda que as simulações apontam que a região Noroeste e Norte do Paraná devem ter temperaturas ainda mais elevadas e chuvas mais espaçadas e pontuais. "Percebemos que com o possível aumento de temperatura ocorre, consequentemente, a diminuição da umidade e o aumento do perigo de incêndio florestal."

O mesmo cenário de alterações climáticas podem, também, afetar áreas de lagos, como a do interior do Parque do Ingá. A partir do cenário crítico apontado pelas simulações, os especialistas alertam que esses espaços podem desaparecer até 2100. "É importante deixar claro que essas simulações são passíveis de erros e, por enquanto, são projeções. Não há motivo para alarde", alerta o pesquisador.

Conclusão do projeto

Flávio Deppe afirma que os pesquisadores, universidades e institutos que participam do projeto devem se reunir em maio para iniciar a parte conclusiva do estudo. A ideia, segundo ele, é que, depois de concluído, o estudo seja distribuído aos órgãos competentes, como o governo do estado, para que as simulações orientem as medidas ambientais adotadas nos próximos anos. "Esse é um estudo bastante detalhado, com diversas variáveis climáticas. Então, não faria sentido se ele ficasse armazenado na prateleira."

Deppe diz que os responsáveis pelo projeto pretendem uma grande ampliação das conclusões do estudo. "Vamos entregar isso ao maior número de pessoas possíveis, fazer ampla divulgação dos resultados, mas saber se ele será efetivamente utilizado depende dos órgãos competentes."

"Precisamos nos mexer rapidamente para ao menos reduzir tais impactos com mais pesquisas e mais práticas sustentáveis", avalia pesquisador agrometeorologista do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar)Paulo Caramori. "Não significa que o caos será instalado até lá [2100], mas é uma previsão que precisa ser levada em conta por quem toma decisões na hora de definir políticas públicas."

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