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Três casos em 2010

Canoas/RS - Janeiro - A dona de casa Josiane Pontes, de 29 anos, foi mantida em cárcere privado por três dias consecutivos, em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre. Seu ex-marido, o vigilante Rodrigo Luciano Luz, de 32 anos,invadiu a casa onde ela vivia com os dois filhos, de 11 e 8 anos, armado com um revólver, manifestando inconformidade com a recente separação e fazendo ameaças. O caso ganhou repercussão pelo tempo que os policiais demoraram para negociar a libertação da família. Ninguém ficou ferido.

Belo Horizonte/MG – Março - A cabeleireira Maria Islaine de Morais, de 31 anos, foi morta na frente de clientes do salão onde ela trabalhava, na zona norte de capital mineira. O borracheiro Fábio Willian da Silva Soares, de 30 anos, ex-marido da vítima, foi localizado e preso. O caso ganhou repercussão porque a câmera de segurança do estabelecimento registrou toda a ação do homicida.

Londrina/PR - Abril - Uma mulher de 32 anos foi morta com três tiros pelo ex-marido na casa da mãe da vítima. Valéria Aparecida Motta foi atingida no abdome, nas costas e no pé. Ela chegou a ser socorrida, mas morreu no hospital. O ex-marido da vítima, Eder dos Santos, 32 anos, confessou o crime e foi preso.

Egoísmo, problemas em lidar com frustrações, ciúme exagerado. Essas características de personalidades passam despercebidas e parecem normais num relacionamento, mas não são. Para a psicoterapeuta Edilaine Zamberlan Serra, esses são os primeiros sintomas de uma patologia que pode evoluir para uma paranóia e fazer com que um indivíduo tome atitudes impensadas e até criminosas. Um exemplo disso aconteceu em Maringá, na noite da última segunda-feira (28), quando um jovem invadiu a sala de aula de uma faculdade e tentou executar o suposto namorado de sua ex-mulher na frente da turma. Nesse caso, além do susto, nada de mais grave aconteceu, mas casos como esse podem até terminar em morte.

Inconformado com o fim do relacionamento, Anderson Gargan, de 24 anos, entrou na sala onde sua ex-mulher estudava, na Faculdade Ingá (Uningá),fez com que Alex Algudo, de 27 anos (suposto novo namorado), se ajoelhasse na frente da turma e tentou disparar duas vezes contra a cabeça da vítima. A arma falhou e os dois entraram em luta corporal. Gargan apertou o gatilho mais duas vezes, a arma disparou, mas não acertou ninguém.

Para a psicoterapeuta Edilaine, uma situação como essa revela o quadro de alguém que já chegou ao estado de delírio. "A pessoa perde o controle da realidade e entra num estágio de paranóia tão intenso, que para ela, o companheiro ou companheira sempre estará traindo. Ele agride como se estivesse tentando se defender", explicou. Um perfil como esse pode se aplicar a qualquer situação genérica de agressão decorrida de ciúmes, mas as características doentias não mudam.

Situações de crimes envolvendo relacionamentos em crise, ou que não terminaram bem, são muito frequentes, como explicou a delegada Emilene Locatelli, da Delegacia da Mulher de Maringá, embora nem sempre atinjam estágios de grande agressividade. "Há vários crimes que surgem em decorrência de ciúme, como injúria, ameaça, lesão corporal e aos bens da vítima. Na maioria dos casos envolve rejeição, e a bebida e as drogas acabam tornando a pessoa ainda mais agressiva", disse ela.

Também em Maringá, Geziany de Souza Silva, de 24 anos, não teve a sorte de entrar para as estatísticas dos crimes de menor monta. Na manhã desta terça-feira (29), ela foi assassinada com oito facadas, em sua casa, no Jardim Alvorada. Uma testemunha apontou o ex-marido da jovem como o autor do homicídio. Nessa situação, o crime ocorreu numa região pobre da cidade, o que não significa que os problemas conjugais que terminam em crime são exclusivos da classe baixa. "Isso também acontece nas famílias ricas, mas as denúncias são poucas, já que as vítimas têm vergonha de denunciar", disse a delegada Emilene.

Caso Eloá

Para exemplificar situações como essa, a psicoterapeuta Edilaine relembrou o caso da garota Eloá Cristina Pimentel, de 15 anos, morta após ser mantida refém durante cem horas pelo ex-namorado Lindemberg Fernandes Alves, 22, em Santo André (SP), em 2008. O autor desse tipo de comportamento, segundo a especialista, costuma fantasiar situações e projetar no companheiro problemas que são seus. Qualquer ação de uma das partes pode desencadear uma crise que às vezes termina em tragédia. "No caso do menino que matou a Eloá, o que aconteceu é que ele não aceitou o término do namoro. Ela tenta romper uma situação patológica, mas ele não aceita", explicou.

Segundo a especialista, é preciso lembrar que ciúme demais não significa amor. "É preciso mudar essa concepção. O amor em excesso é agressivo e pode ser patológico. As pessoas não enxergam o outro no relacionamento e isso não é um amor adulto e maduro. Num quadro assim, em que a pessoa não sabe lidar com a frustração, o término pode provocar uma crise que deixa o juízo distorcido", explicou. Situações como essa criam o cenário perfeito para tragédias.

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