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Maria Alice diz que efetivo da PRF precisaria dobrar para fiscalizar os 70 mil quilômetros de rodovias federais | Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
Maria Alice diz que efetivo da PRF precisaria dobrar para fiscalizar os 70 mil quilômetros de rodovias federais| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Natural de Foz do Iguaçu, mas se dizendo curitibana "de coração", a socióloga Maria Alice Nascimento Souza completa no próximo mês dois anos à frente da direção da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Então superintendente da PRF no Paraná, Maria Alice assumiu o cargo de diretora-geral no lugar do inspetor Hélio Cardoso Derene, que permaneceu por oito anos no posto mais alto da corporação.

Na época, a mudança foi motivada por apelos de representantes sindicais e de policiais insatisfeitos, que criticavam a "apatia" da direção e pediam uma gestão mais eficiente. "Nós tínhamos superintendentes há 18 anos no cargo. Não vou dizer todos, mas 90% por indicações políticas. Todos foram trocados. Na época a resposta não foi imediata, mas agora já está dando resultados", defende.

Mesmo exaltando a atual gestão, Maria Alice reconhece que há uma série de entraves a serem superados, como a falta de efetivo e de equipamentos para fiscalização. Em viagem a Curitiba para acompanhar a formatura em Direito da filha, a diretora-geral da PRF adiantou mudanças que devem ser implantadas, como a extinção de postos policiais e a criação de uma avaliação de desempenho dos agentes.

O último feriado de carnaval se notabilizou por ser o menos violento em dez anos, segundo a própria PRF. O balanço é resultado de uma Lei Seca mais rigorosa?

Quando a Lei Seca entrou em vigor pela primeira vez, em 2008, já deu uma boa estabilizada no número de acidentes. Mas não se tinha muito trabalho de fiscalização, as operações eram aleatórias, sem muito planejamento. Hoje, há todo um diagnóstico que é feito antes das operações.

Mas de que maneira as mudanças na Lei Seca influenciaram o trabalho de campo dos policiais?

Antes, o motorista podia se recusar a usar o etilômetro [bafômetro]. Hoje, se ele se recusar, mesmo assim vai sofrer todas as sanções administrativas, receber multa, ter o veículo retido e ainda perder a carteira.

O período de 2011 a 2020 foi proclamado pela ONU como A Década de Ações na Segurança Viária. Uma das metas, que vale para o Brasil, é diminuir pela metade até 2020 o número de mortos em acidentes. Esse é um cenário viável?

É possível chegar a essa meta. Estamos trabalhando forte em um Plano Nacional de Prevenção de Acidentes, que envolve vários ministérios, como Saúde, Justiça, Educação e Transportes. Mas também tem de se investir mais em tecnologia, educação, contratar mais policiais. A PRF tem uma defasagem enorme.

E qual seria o efetivo ideal?

Hoje, estamos com 10 mil policiais e precisamos de mais 3,4 mil pelo menos até a Copa. A partir daí, temos de aumentar ainda mais o efetivo. Estamos fazendo um estudo para saber exatamente a necessidade. Mas posso dizer, sem medo de errar, que hoje precisaríamos de, no mínimo, o dobro do efetivo atual. São 76 milhões de veículos rodando e temos 70 mil quilômetros de rodovias.

Há previsão de novas contratações?

Conseguimos reaver um concurso que estava parado desde 2009 e entraram mais 1,5 mil policiais. Mas o meu foco agora é um novo concurso, ainda neste ano. Um concurso para funções administrativas, principalmente.

A falta de equipamentos também parece ser um problema. No Paraná, os policiais rodoviários só têm nove radares para fiscalizar 4 mil quilômetros.

Vamos comprar neste ano novos radares. Vai ser no mínimo um radar para cada posto da polícia. Podem até perguntar porque não compramos antes, mas é porque não tinha gente [na PRF]. Não é nem para operar o radar, o problema é na administração. Há toda uma parte administrativa, responsável por abrir os processos de multas, mandar para o usuário, analisar os recursos. Não adianta ter uma grande quantidade de multas e não ter gente para administrar isso.

Desde 2011, várias trocas, na cúpula da PRF, foram feitas. Há previsão de novas mudanças na estrutura da corporação?

Em qualquer país adiantado, não há postos nas rodovias. Tem monitoramento, com tecnologia embarcada, tem alguns pontos de apoio para o policial e até para a sociedade, mas não tem posto. E, agora, eu comecei a fechar alguns postos. Em muitos lugares nós precisamos tirar esses postos, inclusive no Paraná, para que o policial esteja realmente nos pontos críticos, fazendo ronda, fiscalizando. E vamos implantar muita coisa ainda, como uma avaliação de desempenho individual para o policial.

Como seria possível avaliar o trabalho do policial rodoviário?

Verificando se ele está realmente cumprindo o cartão programa dele [plano de operações e fiscalizações da PRF]. E se na regional em que ele atua estão diminuindo os acidentes e a criminalidade. No momento em que o policial tem um bom desempenho, também terá uma pontuação maior para subir na carreira.

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