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Desequilíbrio

Produção além do consumo

O preço do feijão voltou a cair porque a produção aumentou além do consumo. A explicação surge todo ano no auge da safra e mostra que falta planejamento ao setor. "O produtor olha só o que acontece no momento do plantio (entressafra). Se o preço está alto, planta mais", afirma o presidente do Conselho Administrativo do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe), Marcelo Lüders.

O Ibrafe planeja uma campanha de incentivo ao consumo, na tentativa de reverter a situação, mas ainda não conseguiu fundos. Neste momento, tenta articular restrições ao uso de ticket alimentação na compra de bebida alcoólica e cigarro. Para que a legislação fosse cumprida, o ideal seria a distribuição de cestas de produtos básicos "como o feijão" aos trabalhadores, defende Lüders.

O Paraná plantou 340 mil hectares de feijão na safra atual – 6% a mais que um ano atrás. O preço da saca de 60 quilos (preto e de cor) caiu a R$ 40 em Ivaiporã e em Apucarana, conforme o Departamento de Economia Rural (Deral). São 66 centavos por quilo.

Na época do plantio, em outubro, as cotações praticadas no estado estavam 47% (preto) e 113% (de cor) acima das atuais. O mesmo problema aconteceu nesta época de 2010, de forma até mais grave. Os preços médios de janeiro passado eram 4% e 7% menores que os atuais, mostra comparação a partir dos números do Deral.

E nem com o preço baixo o feijão tem a liquidez que os produtores esperam. Depois de um investimento de R$ 35 mil, Maurício Stipp, de Pitanga, está com 40% da produção (240 sacas) estocados no paiol. A partir de agora, pretende reduzir o cultivo. "Quem é o louco que vai investir nessa cultura?", questiona Stipp.

Na esperança de vender logo a produção, o agricultor Ivan Esser depositou 130 sacas na carroceria do caminhão. Isso faz 30 dias. "Espero que apareça alguém para comprar, não posso deixar o caminhão carregado para sempre."

O agricultor Amilton Back, para não perder a produção, todos os dias abre uma parte das 210 sacas estocadas e deixa os grãos no sol. "Não há alternativa, se deixar no barracão, vai estragar tudo."

José Rocher e Dirceu Portugal, correspondente em Campo Mourão

Os moradores de Pitanga, no centro do mapa do Paraná, conseguem feijão de graça se tiverem como buscar o alimento na zona rural. Em protesto contra a queda nos preços, os agricultores estão doando a produção para a população. Eles justificam a decisão radical dizendo que o custo da lavoura chega ao dobro do valor que o mercado oferece por saca de 60 quilos.

"Quando plantei, paguei R$ 300 a saca de semente. O governo prometia pagar o preço mínimo de R$ 80 na colheita, mas hoje nem mesmo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) quer comprar. Não sei o que fazer com tanto feijão, que começa a estragar nos próximos dias. Pelo visto, terei prejuízo de novo. Me oferecem R$ 40 por saca", diz o produtor Maurício Stipp.

A Conab informa estar programando leilões, mas antecipa que não vai comprar toda a produção excedente, porque também tem feijão de sobra. Só no Paraná, há cerca de 75 mil toneladas a serem distribuídas em programas sociais. O estado é o maior produtor no país.

A dona de casa Iria Dias Disner saiu satisfeita da propriedade de Stipp. Ela ganhou 5 quilos de feijão. "No mercado, o preço está pela hora da morte. Pagar quase R$ 3 por quilo é um abuso", reclamou. O valor é o mesmo praticado em Curitiba. Um preço três vezes maior que a média paga ao produtor no estado, que ontem era de R$ 60 a saca (preto ou de cor), conforme o Departamento de Economia Rural (Deral).

O Instituto Brasileiro de Feijão (Ibrafe) informa que o preço triplica antes de o alimento chegar à mesa do consumidor porque, além do custo de distribuição, os supermercados praticam valores além de seus custos. "Essa margem está ficando com os supermercados", argumenta o presidente do Conselho Administrativo do Ibrafe, Marcelo Lüders. A reportagem entrou em contato com a Associação Paranaense de Supermercados (Apras), mas não obteve informações sobre como é calculado o preço do feijão.

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