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As árvores que estão sendo cortadas na área a ser inundada são empilhadas e depois serão vendidas pela usina | Henry Milleo/ Gazeta do Povo
As árvores que estão sendo cortadas na área a ser inundada são empilhadas e depois serão vendidas pela usina| Foto: Henry Milleo/ Gazeta do Povo

Conservação

Consórcio terá de compensar a derrubada

Como a derrubada da mata no entorno do Rio Tibagi é uma ação irreversível, um termo de ajustamento de conduta assinado pelo Ministério Público Federal e pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) determinava que o desmate só poderia acontecer depois que uma área de semelhante extensão e diversidade ecológica e na mesma bacia hidrográfica fosse comprada, como forma de compensação. O consórcio Cruzeiro do Sul (sociedade da Copel e da Eletrosul responsável pela construção da usina) informa que a aquisição ainda depende de uma decisão do IAP. O órgão do governo estadual confirma que o processo burocrático de autorização não foi concluído e que duas áreas estão em avaliação, ambas na cidade de São Jerônimo da Serra. Como não há área equivalente à que está sendo derrubada, o consórcio terá de replantar um terreno já degradado e, então, garantir a conservação.

  • Reservatório da Usina de Mauá deverá alagar área de megabiodiversidade

A quarta maior faixa contínua de floresta nativa do Paraná está caindo por terra, desta vez com autorização oficial. Menor em extensão apenas se comparada aos trechos da Serra do Mar, ao Parque Nacional do Iguaçu e à reserva indígena de Manguei­­rinha, a mancha verde que margeia o Rio Tibagi está sendo derrubada para dar lugar ao reservatório da usina hidrelétrica de Mauá, entre Telêmaco Borba e Ortigueira. Mil pessoas trabalham, desde janeiro, na retirada de araucárias, perobas e canelas centenárias. As árvores estão sendo cortadas com a justificativa de que apodreceriam, prejudicando a qualidade da vida do reservatório.

O Instituto Ambiental do Paraná informa que nem toda a floresta será derrubada, porque os trechos de mata que ficam em áreas muito íngremes (e representam 30% da área) serão mantidos. A última estimativa, de março, aponta que foram retirados 632 (21%) dos 3 mil hectares que devem ser derrubados.

A reportagem esteve em um dos postos de armazenagem das madeiras cortadas. Cada tora foi marcada com um número, nu­­ma espécie de inventário. Aro­­eiras, pinheiros e cedros-rosa com mais de um metro de diâmetro estão empilhados. Tam­­bém foram recolhidos muitos galhos finos, que devem ser usados para queimar em caldeiras ou fazer carvão. Ao final do desmate, a madeira cortada deve ser leiloada. A renda vai para o caixa do consórcio Cru­­zeiro do Sul, sociedade da Copel e da Eletrosul responsável pela construção da usina.

Líder em desmate

Em muitos pontos às margens do rio, a paisagem é de terra nua. Algumas máquinas tentam conter a erosão, para que o solo revolvido não assoreie o rio. O corte acontece simultaneamente em vários pontos das margens do Tibagi. Em alguns locais onde a derrubada aconteceu no início do ano, novas árvores surgiram vigorosas, formando capões que podem ser retirados antes da formação do reservatório, previsto para começar em agosto.

Três empresas trabalham na área, ao preço médio de R$ 13,5 mil por hectare limpo. Só um dos oito lotes de derrubada ainda não foi iniciado. Ao total, R$ 39 milhões devem ser gastos nesse serviço. Trabalhadores acostumados a cortar árvores plantadas numa área de manejo de pinus e eucalipto no estado foram contratados para o desmate. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Florestais de Telêmaco Borba, João Ernesto Ribeiro, conta que muitos lamentam a queda das enormes toras nativas. O trabalho é feito basicamente com motosserra.

A derrubada da floresta é inevitável diante da decisão governamental de investir na geração de energia pela matriz hidrelétrica, usando o maior rio ainda não represado do Paraná, o Tibagi. Mas o fim do quarto maior trecho contínuo de mata nativa do estado, por si só, deve garantir ao Paraná a liderança nacional em desmatamento de remanescente florestal no próximo Atlas de Monito­­­ramento da Mata Atlântica. No último levantamento, divulgado em maio de 2010, o estado figurou na segunda posição nacional, com a derrubada, em dois anos, de 2,7 mil hectares – menos do que está sendo derrubado agora nas margens do Rio Tibagi.

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