O projeto de lei que pretende acabar com os maus-tratos aos cães de guarda foi inspirado em situações registradas pelo Ministério Público. Uma das denúncias foi feita por uma mulher que prefere não se identificar por medo de sofrer represálias. Ela mora em frente a uma residência que tem dois animais soltos no bairro Portão: um rottweiler e um pastor alemão. "Desde que foram deixados ali, os maus-tratos se tornaram freqüentes. Tenho anotado no meu calendário a última vez em que o rapaz passou para deixar ração aos animais, foi em fevereiro", disse a mulher na semana passada.
Para ela, o desleixo da empresa tem justificativa: "Eles deixaram de vir aqui quando perceberam que eu e minha vizinha decidimos cuidar deles. Levamos comida, água e até medicamentos quando estão doentes. Fazemos isto por piedade, já que, se não cuidássemos, ambos poderiam estar mortos", relata. A casa onde os dois cães fazem guarda também está abandonada. No terreno, o mato já tomou conta.
Procurado pela reportagem, o proprietário da empresa responsável pela segurança no local afirma que a casa é atendida em dias intercalados (um dia sim e outro não) por um motoqueiro que é responsável pela limpeza do local e também por alimentar os cães. "O problema é que muitas vezes o motoqueiro passa às 5 horas da manhã para fazer estes serviços e não é visto pelos vizinhos. Aí eles começam a achar que os cães estão abandonados, o que não é verdade", afirma Jair Souza Pinto Júnior, da Feroz Cão de Guarda. Sobre a sujeira do terreno, ele explica que as empresas não podem fazer nada. "É de responsabilidade do dono do imóvel zelar pela manutenção do local. Podemos até pedir para ele deixar o mato aparado e retirar o lixo abandonado."
Juliano Armacolo, da empresa Cão de Guarda Locação e Adestramento, afirma que as empresas do setor também têm seu papel social. " Muitos cães de guarda são resultado de doações. Ao invés de estarem na rua ou serem sacrificados, eles recebem os cuidados necessários e em troca fazem a guarda do imóvel."
A presidente da ONG SOS Bicho, Rosana Vicente Gnipper, coloca as adoções sob suspeita. "Dúvido que no contrato eles coloquem para o cliente que um dos cães de guarda foi encontrado na rua ou foi doado. Pelo contrário, essas empresas enfatizam que todos são adestrados." (PM)
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