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Relatório divulgado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) aponta a ocorrência de um genocídio indígena em Mato Grosso do Sul nos últimos oito anos. Segundo o documento, 250 índios foram assassinados neste período, a maioria na região sul, onde vivem os índios guarani/caiuá. A dimensão da situação fica mais evidente quando se compara os dados com os números nacionais.

Conforme o Cimi, enquanto a média nacional é de 24,5 homicídios para cada cem mil pessoas, na Reserva Indígena de Dourados, a maior do estado, a proporção é de 145 assassinatos para cada grupo de cem mil habitantes. No Iraque, a média proporcional é de 93 mortes/100 mil moradores.

O levantamento mostra ainda que Mato Grosso do Sul lidera em número de assassinatos de indígenas. Em 2007, 70% dos casos registrados no Brasil foram em Mato Grosso do Sul - 42 contra os 18 computados nos demais estados. No total, 55% dos homicídios foram de índios das etnias que vivem no MS, sendo 250 aqui e 202 no restante do país.

A situação não é diferente em se tratando de tentativas de assassinato. Enquanto no período de 2003 a 2010 foram 190 em Mato Grosso do Sul, nas demais regiões do Brasil foram 111. Nos primeiros nove meses deste ano, 27 dos 38 indígenas mortos violentamente no Brasil são sul-mato-grossenses, o que corresponde a 71%.

Explicação

Para Flávio Vicente Machado, coordenador estadual do Cimi, instituição ligada à igreja católica, a explicação para esse quadro de violência é o conflito agrário. São lideranças indígenas sendo mortos na luta pela terra contra os fazendeiros, e moradores comuns das aldeias sendo assassinados em conflitos internos. Vivem no estado cerca de 75 mil índios, a segunda maior população do país, superado apenas pelo Amazonas.

"Aqui os índios ocupam pouco mais de 0,2% do território estadual. Só na Reserva de Dourados são 15 mil vivendo em 3,3 mil hectares. Confinados, os índios não conseguem se movimentar para outras regiões, para evitar brigas com outras famílias e isso acaba resultando em violência interna", diz o coordenador do Cimi.

Aliado a isso, os indígenas ainda sofrem a influência dos brancos, com o aumento no número de jovens ingerindo bebida alcoólica e usando drogas. Segundo Flávio Machado, cria-se ainda na comunidade o sentimento de impunidade, já que na maioria dos casos os autores acabam não sendo punidos. Ele cita como exemplo o episódio dos irmãos Genivaldo e Rolindo Vera, professores que viviam em um acampamento em Paranhos, fronteira com o Paraguai, na época em que havia um clima tenso entre os índios que ocupavam uma área e seguranças de fazendeiros.

Durante um confronto, em outubro de 2009, os irmãos desapareceram e o corpo de Genivaldo foi encontrado com perfurações, boiando num rio próximo do local do conflito. O do irmão dele até hoje não foi encontrado e a Polícia Federal ainda não concluiu o inquérito, que corre em segredo de justiça.

Flávio Machado cita outro número que mostra o quadro crítico da situação agrária envolvendo os indígenas de Mato Grosso do Sul. Segundo o Relatório, o estado concentra o maior número de acampamentos de índios - 31 atualmente, enquanto a dois anos eram 22. São mais de 1,2 mil pessoas vivendo em condições subumanas à beira de rodovias ou sitiadas em fazendas, em barracos de lona de plástico e com dificuldade de conseguir alimento e até água.

O documento, segundo o coordenador do Cimi, será encaminhado para as autoridades brasileiras e para entidades internacionais dos direitos humanos e que defendem as causas indígenas.

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