Mau hábito de dar comida aos quatis tem deixado os animais obesos e agressivos| Foto: Christian Rizzi/ Gazeta do Povo

Eles são atrevidos. Não podem ver uma bolsa ou lixeira que já querem xeretar. Os quatis do Parque Nacional do Iguaçu, em Foz do Iguaçu, tornaram-se uma atração à parte, em meio à beleza das Cataratas. Mas por trás do jeitinho sedutor existem perigos. A cada três dias um turista é mordido pelo bichinho. O mau hábito dos visitantes em alimentar o animal faz com que os quatis fiquem agressivos e obesos.

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O acesso dos turistas aos quatis dentro do parque é fácil. Sempre em bando, os bichinhos circulam livremente em trilhas e nas áreas próximas a lanchonetes e restaurantes. Quem não sabe sobre o atrevimento pode ser surpreendido: alguns sobem nas mesas das lanchonetes para tentar alcançar sorvetes ou colocam o focinho, de modo nada delicado, nas bolsas ou sacolinhas plásticas.

O turista que visita o parque e costuma dar salgadinhos, balas, sorvetes ou pedaços de pão aos quatis não imagina o quanto a prática afeta o comportamento dos animais e prejudica o meio ambiente.

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Biólogo do Parque Na­cional do Iguaçu, Pedro Fogaça diz que os animais podem contrair doenças, como a diabete, e apresentar problemas graves no trato digestivo. Às vezes eles comem plásticos que embalam sanduíches, o que pode levá-los à morte. "Como alguns turistas ofertam comida, eles acabam perdendo totalmente a biologia silvestre e são domesticados", diz.

Outro impacto da alimentação oferecida aos quatis pode ser visto no meio ambiente. Considerado um animal dispersor de semente nativa, o quati contribui para o equilíbrio da flora. Também forrageia (remexe) o solo e come animais invertebrados e frutas. Quando os quatis são alimentados por turistas, o comportamento natural do animal é prejudicado, diz o biólogo.

Acidentes

A ocorrência de acidentes com turistas é maior na época em que as fêmeas estão com filhotes – os quatis acasalam no inverno e procriam a partir de novembro, período que também coincide com maior oferta de frutas. Pelo menos 80% dos acidentes consistem em arranhões, e a maioria envolve crianças que acabam estimuladas pelos pais a alimentarem os quatis.

No caso de agressão, os turistas são encaminhados para um ambulatório, onde é feita a assepsia do ferimento e o tratamento antirrábico com soro – já que o bicho pode transmitir raiva.

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A estudante Julien Chen, 20 anos, já foi literalmente perseguida por um quati no parque. Moradora de Foz do Iguaçu, ela já sabe que não se deve alimentar os animais. Durante uma visita à reserva, Julien pegou um pedaço de pão do chão para o quati não comer. A atitude irritou o animal. "Ele pulou em mim e veio atrás porque eu estava com o pão", lembra.

Exposição

Para alertar os turistas quanto aos problemas decorrentes da alimentação inadequada dos quatis, a Escola Parque e a concessionária Cataratas S.A. farão entre os dias 4 a 10 de junho uma exposição fotográfica, no Parque Iguaçu, sobre a natureza dos quatis na reserva. O acesso é gratuito.