A presença de muitos mendigos nas ruas de Apucarana, no Norte do estado, levou a prefeitura local a tomar uma medida radical: todos os andarilhos foram recolhidos, fichados na polícia e expulsos da cidade. O "arrastão", executado na manhã de anteontem pela Secretaria Municipal de Ação Social com apoio da Polícia Militar e do Conselho Tutelar, foi condenado por instituições ligadas aos direitos humanos e até pela Igreja Católica, mas recebeu o apoio de comerciantes e outros cidadãos que se sentem incomodados com os moradores de rua.
O prefeito e ex-padre Válter Aparecido Pegorer (PMDB) admitiu ontem que houve excesso durante a operação, mas garantiu que vai continuar a recolher os moradores de rua e mandá-los de volta para suas cidades de origem.
O arrastão de anteontem durou cerca de quatro horas. A abordagem aos moradores de rua seguiu a conduta padrão da PM, com revista aos mendigos e andarilhos. Em seguida, todos foram colocados em kombis da prefeitura e levados para o cartório da Polícia Militar, onde permaneceram trancados em celas, até que todos fossem identificados e ouvidos.
No total, 15 moradores de rua foram detidos e, depois de checada a sua cidade de origem, foram embarcados em ônibus de linha, ainda na presença de funcionários da Ação Social, acompanhados de policiais. Cinco seguiram para Maringá e um para Mauá da Serra. Somente neste ano, pelo menos 60 pessoas foram "devolvidas" para outras cidades.
Ainda no cartório da PM, na antiga delegacia de Apucarana, mesmo sem ter antecedentes criminais, todos os mendigos foram fichados. Só um deles ficou detido por algumas horas, sob a acusação de fornecer bebida alcoólica a um adolescente.
O presidente do Centro de Direitos Humanos de Londrina, Gelson Gil, criticou a medida, argumentando que todos têm o direito de ir e vir garantido pela Constituição. "A coerção é crime. Não podemos coagir o cidadão simplesmente porque ele está na rua", disse.
O prefeito justificou que a medida foi uma resposta à reclamação de cidadãos incomodados. "Comerciantes e moradores vizinhos de vários logradouros públicos estavam pedindo providências em relação aos mendigos e andarilhos que estavam incomodando com atitudes inconvenientes, gestos obscenos e quase sempre alcoolizados", explicou. Segundo Pegorer, a iniciativa visa garantir mais segurança e tranqüilidade aos cidadãos.
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